terça-feira, dezembro 27, 2005

Resoluções de 2005

Há um ano deixei aqui as minhas resoluções para 2005. 12 meses depois chegou a altura de fazer uma análise sobre o que realmente cumpri dessas resoluções. E assim analisar quais as minhas resoluções para o ano que vem.

A primeira resolução do ano passado continua sempre em contínuo desenvolvimento. Depois do escritório, do quarto dos hóspedes, do aquecimento, seguiu-se a cozinha e umas coisas novas no quarto. Nunca telefonámos ao homem da lenha, mas arranjei o autoclismo. Espera-me ainda os anexos, que estão muito próximos das imagens que há um ano víamos vindas da Tailândia.

A segunda resolução foi até ampliada para além do que disse nessa altura. Ainda tenho a Vespa do PP, mas sei que ele em breve a quererá de volta e se não a quiser eu próprio a devolverei. Nessa altura compro uma para mim, porque gosto mesmo da liberdade que me dá um veículo de duas rodas. Mas, há um mês comprámos um carrito novo (em segunda mão). Mantivemos o jipe, mas com a subida do preço do gasóleo e com o inverno à porta quisemos melhorar a nossa conta bancária mensalmente, poluir menos e melhorar as minhas deslocações em tempo de chuva.

A terceira resolução continua a ser a alegria da casa. A Cinzas! E até já conseguiu que a minha sobrinha mais velha tenha perdido parte do seu pavor aos animais.

Quarta resolução! A minha (nossa) positividade. Confesso que houve recaídas graves aquando da minha mudança de emprego e que houve alturas que me custou mesmo ver os cinzentos. Mas a prova de que estou mais positivo é a história sobre o "empréstimo", que toda a gente mete as mãos na cabeça quando ouve e que nós encarámos com a maior das calmas (embora tenha noção que ainda vá dar chatices). Além disso em breve estarei de novo entre-empregos (aquilo que normalmente chamariam de desemprego) e só penso nisso com uma ansiedade enorme apenas porque queria que fosse já amanhã.

Sobre o Yoga e a importância que isso tem para a minha vida, e que na altura pus aqui como quinta resolução, só penso que poderia fazer muito mais e que houve alturas que fui preguiçoso. Mas Yoga não é só ir às aulas e fazer umas posturas bonitas. Yoga é aplicado em tudo o que fazemos. E o que disse no parágrafo anterior é Yoga. Mas ainda não consegui chegar aos 70 Kgs, embora queira ter como resolução este ano (novamente) perder uns quilos. Sim! Porque este ano em vez de perder ganhei...

Houve resoluções que temia não cumprir, porque estavam mais no nível do sonho ou porque sabia que não me seria permitido despender esse tempo ou dinheiro. Como aquela de tirar um curso para professor de Yoga. O que eu queria tirar era em Inglaterra, mas é impraticável em termos económicos ou mesmo em termo de disponibilidade temporal. Mas pode ser que o curso venha a Portugal e eu vou agora a Londres, em Janeiro, experimentar o "duro" exercício de meditar em grupo durante 12 horas, o que me dará de certeza para pensar bem nesta resolução.

A casa da minha avó em Almendra também estava nas minhas resoluções deste ano que agora acaba. Confesso que fizemos um esforço enorme para a limpar. Um esforço tão grande que a vontade de lá voltar diminuiu. Tenho imensa saudades daquilo tudo, mas a casa não tem as condições ideais para ser usada no Inverno, mas espero poder usá-la mais na primavera.

Quanto ao leitor de CDs... Ganhei um Zen Micro!!!!

Durante os próximos dias de férias pensarei que resoluções tomarei para 2006. Não sei se farei como as resoluções que (não) tomei em termos profissionais em 2005 e que afinal de contas foi a área da minha vida que mais dominou o ano. Se calhar foi precisamente porque não tomei nenhuma resolução e assim não tinha objectivos. Mas este ano penso tomar algumas resoluções em termos profissionais ou em termos de carreira, porque provavelmente a minha vida será mais dominada pelo sector pessoal, e não posso permitir que haja outros sectores tão exigentes para com o meu tempo.

Até para a semana!

Cândido-actozinho (Tenho fome)

Fim da greve de fome do candidato Botelho Ribeiro

"O candidato Luís Botelho Ribeiro agradece aos cidadãos, apoiantes e jornalistas as numerosas manifestações de solidariedade recebidas durante a greve de fome de dois dias, agora terminada...

A greve foi interrompida por se ter conseguido o essencial das reivindicações e também pela necessidade de atender uma situação familiar de carácter urgente."

in Nota de Imprensa do Candidato

sábado, dezembro 24, 2005

Boas Festas

Este ano não mandei postais, não vou mandar SMSs e nem telefonar a ninguém a desejar Boas Festas! Tirando os postais em si, cujo dinheiro podia reverter para programas de solidariedade, todos os outros servem apenas para engrossar a conta de alguns.

Por isso:
Bom Natal e Feliz Ano Novo a todos!!!
Bom Natal e Feliz Ano Novo

sexta-feira, dezembro 23, 2005

A minha vida dava um filme do Alfred Hitchcock (pt. 3)

Quinta-feira. Saio do emprego e vou na Vespa entre o trânsito, que nesta altura e aqui perto do Centro Comercial é imenso, e sinto o telemóvel vibrar no bolso do casaco. Paro! O número é omisso. Atendo e, enquanto tiro o capacete, digo:
- "Aguarde um momento, por favor!" – sem conseguir o que dizem do outro lado.
Quando finalmente consigo atender oiço a voz da senhora da Fodicis (N.R.: Nome fictício) que está responsável pelo "meu" processo do empréstimo que nunca fiz:
- "Estou sim? Sr. Rui Gonçalves? Recepcionámos a sua exposição, porém eu tinha lhe pedido para anexar a cópia da queixa-crime que efectuou na polícia" – disse ela, bastante mais simpática.
- "Eu enviei a notificação que me foi dada pela polícia!"
- "Pois mas o Departamento Jurídico da Fodicis necessita da cópia da queixa-crime e não a notificação, Sr. Rui."
- "Peço imensa desculpa, mas isso foi tudo o que me foi dado pela polícia, mas amanhã eu irei à polícia pedir a cópia da queixa-crime."
- "Obrigado, Sr. Rui. E boa noite!"
- "Boa noite!" – grunhi entre dentes e desliguei.

Hoje de manhã dirijo-me à esquadra de polícia onde efectuei a denúncia e pergunto ao polícia se seria possível facultar-me uma cópia da queixa-crime que efectuei na segunda-feira. A resposta foi simples "Nós não fornecemos nenhuma cópia dessa espécie" - disse-me o polícia simpaticamente - "mas dirija-se à nova esquadra e aos serviços de investigação criminal e eles pode ser que lhe facultem alguma coisa desse género".

Atravesso a cidade em ante-véspera de Natal, com um trânsito caótico e chego à nova esquadra, cuja existência desconhecia e cuja existência preferia continuar a desconhecer.

Entro e explico a situação. Nisto entra um guarda da GNR. O Sr. PSP interrompe-me, pedindo desculpa e dirigindo-se ao soldado que acabou de chegar, pergunta:
- "Que deseja?"
- "Era shó pra intregar eishto! É do shenhore cumandante!" – diz o Sr. GNR esticando uma prenda de Natal.

Após a saída do Sr. GNR, volto a explicar a minha situação. Resposta: "Nós não fornecemos nenhuma cópia dessa espécie" - disse-me o polícia - "mas dirija-se aos serviços de investigação criminal, na primeira porta à direita naquele corredor, e eles pode ser que lhe facultem alguma coisa desse género".

Entro na sala dos serviços de investigação criminal, onde estão três mulheres. Uma, de frente, no computador a digitar alguma coisa, outra com um monte de papéis e a terceira, de costas, na máquina de fotocópias.
- "Bom dia!" – digo timidamente. Nada muda na sala, até que um minuto depois dão pela minha presença. Explico a situação e a senhora que estava com o molho de papéis levanta a cabeça e diz:
- "Os senhores da Fodicis sabem muito bem que nós aqui não podemos fornecer a cópia da queixa-crime, porque uma vez feita a denúncia isso entra em segredo de justiça!" – disse ela com um tom algo gelado – "Porém posso lhe passar uma declaração dizendo que a fez e em que termos a fez!"
- "Ok! Isso deve servir!" – disse eu ainda mais intimidado.
- "Qual é o número da sua queixa?" – diz ela com um tom semelhante ao da minha professora primária quando fazíamos asneiras.
E ali estive uns 10 minutos enquanto escrevia a declaração no computador. Quando acabou levantou-se e passou por mim, já esboçando um sorriso e foi pedir a assinatura do comandante.

A meio da tarde telefono para a Fodicis:
- "Fodicis ! Bom dia!" - dizem do outro lado.
- "Boa tarde! Queria falar com a senhora C. S., se faz favor!" – disse eu.
- "É cliente da Fodicis?"
- "Não sou cliente, mas infelizmente parece que sou"- disse eu. Ao que seguiu o pedido do número de contribuinte e a posterior passagem da chamada para a pessoa que está a gerir o "meu" processo.
- "Estou sim? Sr. Rui." – diz ela, toda simpática.
- "Boa tarde! Eu fui à polícia e disseram-me que os senhores já deviam de saber que eles não fornecem a cópia da queixa-crime por estar em segredo de justiça. Mas passaram-me uma declaração em como a apresentei e em que moldes o fiz."
Resposta:
- "Mas era mesmo isso que eu tinha falado!" – disse ela, enquanto eu pensava para comigo "Óbvio!".

A minha vida dava um filme do Alfred Hitchcock (pt. 2)

Segunda-feira de tarde. Toca o telemóvel. O número é omisso. Atendo e oiço do outro lado a mesma voz feminina da quinta-feira passada:
- "Estou sim? Sr. Rui Gonçalves?" – disse ela num tom bastante mais cordial.
- "Sim! Sou eu!" – digo eu muito seco.
- "Gostava de lhe pedir desculpa pelo facto de não o ter podido receber na sexta-feira quando aqui veio às nossas instalações."
- "Ok!" – digo eu num tom ainda mais seco, pensado no facto de que nunca me tinha informado que nesse dia fechavam mais cedo porque havia festa de Natal da empresa, e no facto de 13 minutos depois das 17:00 (a hora de fecho extraordinária) já não estar no local de trabalho para me "receber".
- "E gostaria também de lhe pedir que me enviasse anexa à exposição que vai fazer a cópia da queixa-crime que vai efectuar na polícia."
- "Ok!" – grunhi.
- "Pronto! Então agradeço-lhe que me envie essa informação o mais tardar até sexta-feira. Obrigado e boa tarde." – disse já num tom mais exigente.
- "Boa tarde!" - E desliguei!

quinta-feira, dezembro 22, 2005

A minha vida dava um filme do Alfred Hitchcock (pt. 1)

Tinha almoçado bem e estava a começar uma nova tarde de trabalho. Toca o meu telemóvel e é um número não identificado. Podia ser alguns dos meus amigos que sempre resolvem passar por anónimos.

Atendi! Oiço do outro lado:
- "Estou sim? Estou a falar com o Sr. Rui Manuel Carneiro Gonçalves?"
Desconfiei! Quando me chamam pelo nome completo é porque não me conhecem.
- "Sim, sou eu!"
- "Daqui fala da Fodicis (N.R.:nome fictício)..." – disse a voz feminina. Eu pensando que era alguma publicidade daquelas compre-este-aspirador-e-damos-lhe-três-dias-de-férias-na-gronelândia, disse logo:
- "Eu não tenho nada a ver com a Fodicis!"
- "Não tem? Mas o seu bilhete de identidade não é o 6231568?"
- "Sim!"
- "Mora na R. Cais do Albói, 54 em Aveiro."
- "Não! Moro em Aveiro mas desconheço essa morada!"
- "É que temos aqui um crédito feito neste nome. E o seu número de contribuinte é o 612361812?"
- "Sim! Mas para que banco foi feita a transferência?" – disse eu.
- "Espere um pouco... Banco Bets!"

A conversa continuou com algumas trocas de informações, mas sem que a tipa do outro lado baixasse os ataques como se eu fosse realmente o tipo que lhe pediu 6000 euros. Falei com um amigo advogado e embora ele achasse que não era minha obrigação reclamar a minha inocência, mas a da Fodicis de provar a minha culpa, resolvi ir a Lisboa limpar o meu nome.

No dia seguinte, depois de almoço, fui para Lisboa. Depois de duas horas e pouco de viagem, algumas filas e muita confusão, cheguei ao edifício da Fodicis em frente ao Museu Calouste Gulbenkian. Entro e informam-me que naquele dia excepcionalmente tinham fechado às 17:00 (eram 17:13), quando a tipa do outro lado da chamada me tinha dito que fechava às 18:00 e depois de eu lhe ter garantido que lá ia naquele dia.

Começaram-me a subir os calores. E não fosse a prontidão em arranjarem alguém que me atendesse e estava pronto a perder a minha boa vontade toda de limpar o meu nome e lhes poupar o trabalho de me acusarem de algo que não fiz. Em pouco tempo estava com a cópia do bilhete de identidade, do cartão de contribuinte e o contrato em meu poder, tudo o que precisava para apresentar queixa na polícia.

É impressionante como se transfere 6000 euros para a conta de alguém baseado na fotocópia de um bilhete de identidade de alguém que nasceu em Lourenço Marques, uma cidade que já não tem essa designação desde há 30 anos e com a validade de 10 anos, algo que só é possível a quem tem mais de 35 anos, e à data da emissão do mesmo documento (09/01/2004) alguém nascido em 22/08/1969 teria apenas 34 anos. Para além de não falar que a fotografia é no mínimo irreconhecível (e em nada se parece comigo). E o cartão de contribuinte nota-se que o número foi lá colocado, porque está desalinhado com o resto do texto do mesmo. Depois admiram-se...

Obviamente que os dados foram sacados todos do meu CV que está online e que já nem sequer inclui aqueles dados, mas cujo conteúdo do site ainda não tive tempo de actualizar.

Passou o fim-de-semana e na segunda-feira de manhã, mal me levantei dirigi-me à esquadra de polícia de Aveiro. Expliquei a situação! O homem ficou a olhar para mim:
- "Mas fazem empréstimos assim? Assim qualquer um os pode enganar!"

Estive lá uma hora e tal para que o Sr. PSP me fizesse um texto que conseguisse explicar o sucedido, ou o que achamos que terá acontecido. A queixa seguiu para a polícia judiciária e eu mandei uma cópia para a Fodicis.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Coisas simples

Ultimamente tenho tido formação depois das horas de trabalho e chego a casa, normalmente já depois dos vizinhos jantarem.

Há algum tempo que reparei que há uma senhora e uma miúda nos seus dois anos, que por volta da hora que chego a casa, passam ali em frente ao prédio. Sempre que abro o portão automático da garagem a miúda insiste com a senhora (suponho que a mãe) para ficar ali a assistir ao seu fecho, também, automático.

A primeira vez que reparei foi há cerca de meio ano, porque estava a dar formação na altura.

A "mãe" e a miúda já me conhecem e cumprimentam-me. Rimo-nos sempre da situação.

Ontem perguntei-lhe se tinha pedido um portão ao Pai Natal. Como as coisas simples também são importantes. Principalmente nesta altura do ano em que só se pensa em coisas grandes para ofuscar.

domingo, dezembro 18, 2005

O nosso cândido-actozinho

Presidenciais 2006
Pré-candidato Botelho Ribeiro anuncia greve de fome contra "censura televisiva"
18.12.2005 - 08h46 Lusa


Botelho Ribeiro, 38 anos, entregou sexta-feira no Tribunal Constitucional cerca de 2500 das 7500 assinaturas necessárias para formalizar a sua candidatura

O pré-candidato à Presidência da República Luís Botelho Ribeiro anunciou ontem à noite que vai iniciar hoje, em Braga, uma greve de fome contra a "censura televisiva" à sua candidatura, parcialmente formalizada sexta-feira.

Em comunicado enviado à Lusa, Botelho Ribeiro, professor de Engenharia Electrónica na Universidade do Minho, em Guimarães, refere que a greve de fome vai iniciar-se às 15h30 frente ao coreto da Avenida Central com uma "manifestação de desagravo perante a censura televisiva a esta candidatura do Norte".

Botelho Ribeiro, 38 anos, entregou sexta-feira no Tribunal Constitucional "cerca de 2500" das 7500 assinaturas necessárias para formalizar a sua candidatura às eleições presidenciais de 22 de Janeiro.

Prometendo entregar as restantes assinaturas "na quinta ou sexta-feira" da próxima semana, Botelho Ribeiro definiu-se como "um ilustre desconhecido", mas "um renovador" e um "cidadão empenhado".

"Não podemos deixar cinco inteligentes a falar por nós", disse, confessando ter como única experiência eleitoral a vitória que obteve nas eleições para a Associação Académica da Universidade de Aveiro.

"Pode-se dizer que sou um candidato 100 por cento vitorioso", ironizou.

Botelho Ribeiro prometeu uma "campanha porta a porta e pessoa a pessoa", uma "campanha de artesanato" centrada na "discussão de ideias e perspectivas para a sociedade portuguesa", num "projecto que é feito para os cidadãos".

"Vou andar pelo país todo. Estamos abertos à constituição de núcleos por todo o país", acrescentou.

A candidatura que prometeu formalizar integralmente na próxima semana com a entrega das restantes cinco mil assinaturas é para ir até ao voto já que, salientou, "o país só tem a ganhar que o debate se faça com a máxima pluralidade".

in Público

quarta-feira, dezembro 14, 2005

(Ex)Citação XXII

"God has a master plan
That only He understands.
"
Depeche Mode - Precious

domingo, dezembro 11, 2005

Vamos tomar um cafezinho?

Portugueses desperdiçam milhões de horas de trabalho por ano: o equivalente a 5,8% do PIB

Os portugueses desperdiçaram 1.574.203.400 horas de trabalho no ano passado. Uma enorme cifra com dez algarismos e que, para uma população activa próxima de 4,2 milhões de pessoas, significa que cada trabalhador português desperdiçou, durante 2006, mais de 42 dias úteis de trabalho, à média de oito horas diárias. São mais de 65 milhões de dias de trabalho perdidos em 2004.
A um custo médio de 5,17 euros por hora de trabalho, as pausas para o café, absentismo, as baixas, as pontes, os feriados, as greves e o tempo útil desperdiçado devido à falta de organização das empresas e das organizações representará um total de 8143 milhões de euros. O equivalente a 5,8% do PIB.
Os dados constam do último relatório da consultora Proudfoot sobre produtividade. De um conjunto de nove países analisados, Portugal está no penúltimo lugar do "ranking", conseguindo apenas maior produtividade que a Hungria e, ainda assim, com vantagem de apenas um ponto. Por cada hora de trabalho, os portugueses produzem 64% a menos que os franceses, 48% a menos que os americanos e 21% a menos que os espanhóis.
De acordo com as conclusões do estudo, o baixo nível produtividade deve-se sobretudo ao fraco nível planeamento e à insuficiente gestão operacional das empresas. A falta de liderança e de supervisão é a segunda razão apontada. A título de exemplo, a Proundfoot refere que mais de metade dos sistemas de controlo do trabalho são inapropriados. E dos sistemas que funcionam, cerca de um terço precisam de ser melhorados. Outro dado curioso com reflexo directo nos níveis de produtividade, são as reuniões de trabalho: metade são realizadas sem agenda.
O enorme desperdício de horas de trabalho não significa que os portugueses trabalhem menos que os outros. Devido À baixa produtividade, cada português trabalha uma média de 1718 horas anuais. Na europa, só os espanhóis e os húngaros roubam mais tempo ao lazer. A baixa produtividade é, aliás, o principal factor que justifica as diferenças de PIB "per capita" conclui o relatório. Em Portugal, por exemplo, o PIB "per capita" é metade do americano. E destes 50 pontos percentuais de diferença, 48 derivam da menor produtividade. Os espanhóis têm um PIB "per capita" 14% superior, mas uma produtividade 21% superior, pois trabalham menos horas com uma população activa menor.

EUA x Europa
Fora da Europa, na Austrália e nos EUA, trabalha-se mais do que na maioria dos países europeus. "Há uma diferença nos níveis de produtividade entre a União Europeia e os EUA: os americanos têm uma produção por hora de trabalho 8% superior", confirma Nicholas Crafts, professor de Hhistória Económica da London School of Economics.

Por Álvaro de Mendonça
in Expresso, 10 de Dezembro de 2005

terça-feira, novembro 29, 2005

Génios em fuga

Estar no sítio certo, no momento certo, pode mudar o rumo de uma vida. Há
dez anos, enquanto Ricardo Reis assistia a uma normal aula de inglês, alguém
entrou na sala para desafiar os alunos a estudar no estrangeiro e o jovem de
17 anos ficou logo com bichos carpinteiros. Quis saber tudo. Três anos
depois acabou a licenciatura em economia, na London School of Economics, no
Reino Unido, como melhor aluno da turma, e nunca mais parou. Foi para
Harvard tirar o doutoramento e hoje é professor na Universidade de
Princeton, nos Estados Unidos. Ricardo é um dos mais bem sucedidos jovens
portugueses no estrangeiro e sente "um certo sentido de dever para com o
país". Mas, pelo menos nos próximos cinco anos, não está no seu horizonte
voltar a Portugal. Até porque está onde deve estar: "Num ambiente
estimulante, com condições que não existem em Portugal". Ele e a mulher,
doutorada em sociologia e também professora em Princeton, vivem a cinco
minutos da faculdade, têm uma carga horária leve, um bom salário e estão "no
centro de tudo".
Ainda em Londres, Ricardo descobriu que queria seguir o ramo da investigação
e, por isso, sabia que tinha de estar onde tudo acontece: "À hora de almoço
falo sobre uma descoberta de um colega que pode influenciar o meu
trabalho...". O facto de Portugal ser o país da União Europeia que mais
cérebros "exporta" é explicado pelo jovem economista de uma forma simples:
"Temos um mercado de trabalho muito rígido, é muito difícil arranjar um
primeiro emprego que nos valorize. Também é muito difícil ser despedido e,
por isso, às tantas, há uma série de pessoas que não tem competência ou
valor, mas que estão a ocupar um lugar". Ricardo está convencido que, "para
pessoas novas e ambiciosas, é quase uma escolha normal sair de Portugal".

Entre estes jovens de que fala Ricardo está Susana Redondo que, na hora de
fazer as malas, não pensou duas vezes. "Não há mercado em Portugal, há
muitos compadrios e poucas oportunidades". Esta jovem portuguesa nunca foi
grande fã de futebol, mas há três anos que não pensa noutra coisa: trabalhou
no Euro 2004 e, como a experiência correu bem, saltou directamente para o
Euro 2008, que vai decorrer na Suíça e na Áustria. Susana já tinha estado lá
fora - estagiou em França, na Euronews - e o "bichinho ficou". Por isso não
hesitou em ir para a Suíça, onde está desde 1 de Julho a trabalhar na
organização do Euro 2008. Um evento, que segundo Susana, tem sido organizado
com a ajuda do bom exemplo português, que organizou o evento em 2004, mas
que se torna uma tarefa ainda mais árdua porque vai decorrer em dois países,
como aconteceu em 2000 (na Bélgica e na Holanda).
Susana já conhecia a Suíça e não se sentia fascinada pelo país. Mas, embora
sinta falta da família, não pensa voltar tão cedo porque " o mercado de
trabalho em Portugal é mais limitado". Não poupa críticas ao sistema
nacional, mas também não poupa elogios aos portugueses: "Se em Portugal
houvesse oportunidades seríamos os maiores", afirma com o seu sotaque
nortenho.

As oportunidades, ou melhor, a falta delas, são também a razão que levou
Ricardo Marvão a apostar numa carreira internacional. "Sempre gostei muito
de Portugal e acho que o país tem grande potencial, mas as grandes
oportunidades estão fora do país e é lá fora que os portugueses são cotados
ao mais alto nível". Ricardo já correu meio mundo - estudou nos Estados
Unidos, Áustria, Londres, Paris - e hoje, aos 27 anos, é dono da única
empresa portuguesa sediada no centro de operações da Agência Espacial
Europeia (ESA), em Frankfurt, na Alemanha.
Ainda há pouco tempo, este engenheiro informático esteve envolvido na
construção do Cryostat - um satélite europeu com o objectivo estudar o
aquecimento global da terra. A missão fracassou devido a uma falha no
foguetão russo, perderam-se 160 milhões de euros e vários anos de trabalho,
mas a ESA já decidiu que, dentro de três anos, será lançado o Cryostat 2.
Ricardo Marvão e sua empresa, a Oristeba, estarão novamente envolvidos no
projecto. Ricardo aterrou na ESA há dois anos para realizar um estágio, mas
três meses depois já lhe pediam para ficar na agência. Na altura, ele e o
actual sócio, Nuno Sebastião, perceberam que era viável criar uma empresa
para prestar serviços à ESA e mergulharam de cabeça no projecto. Depois de
vários contactos e estudos, e com o apoio do governo português, conseguiram
criar a Oristeba.
Ricardo tem "a certeza" que o seu "futuro passa por Portugal", mas não sabe
quando é que isso vai acontecer, já que o próximo ano será determinante para
o crescimento da Oristeba. É o primeiro ano em que Portugal está em
concorrência aberta e "tem que mostrar à Europa que é capaz. O nosso Governo
está atento. E tem que estar, senão perdemos o comboio".
Antes de se ter mudado para a Alemanha, Ricardo teve uma breve passagem pelo
mercado de trabalho português. As experiências na Portugal Telecom Inovação
e na Associação Industrial Portuguesa serviram para descobrir um dos
problemas do mundo laboral português. "Fora do país, o chefe de uma empresa
aposta num jovem e dá-lhe responsabilidade, em Portugal não é sequer dada
liberdade". E é claro que "os ordenados são muito superiores". Ricardo
acredita que os doutores emigrantes, "mais cedo ou mais tarde, regressam e
trazem mais-valias para o país". Na aventura de crescer profissionalmente
fora de Portugal há um pequeno senão: faltam "o sol, o mar, a família e os
amigos". E é quando a saudade bate que Ricardo apanha um avião e em três
horas se põe em Portugal.

Dizem, aliás, que a saudade é uma coisa muito portuguesa. Até Maria Miguel,
que não pensa em voltar, fica com a voz tremida quando recorda o cheiro a
maresia. Está na Suíça, bem longe do mar, com um cargo de topo numa empresa
de relojoaria, área onde os suíços são mestres. Partiu com 22 anos para
estudar na Suécia, ao abrigo do programa Erasmus, mal chegou a Portugal fez
novamente as malas para ir estagiar em Genebra. Partiu para ficar nove
meses, mas já está há três anos. Pouco depois de chegar foi convidada para
integrar os quadros da empresa e assumir um cargo de direcção. Embora
Genebra seja uma cidade que alberga várias multinacionais, não são assim
tantos os estrangeiros que chegam a um cargo de topo, talvez por isso Maria
já sentiu que na empresa a olharam com desconfiança. Mas, é um mal menor:
"As vantagens de estar no estrangeiro são intermináveis". Tantas que,
entretanto, Maria "convenceu" outros dois portugueses a juntarem-se à sua
equipa em Genebra.
Quando decidiu ir para a Suíça disseram-lhe que, na empresa para onde iria,
bastava dominar o inglês. Mas quando lá chegou percebeu que não era bem
assim e, como não dominava o francês, quase entrou em pânico. Mas tudo não
passou de um susto, Maria aprendeu a língua e nunca mais parou - aliás o seu
objectivo a médio prazo é partir para trabalhar noutro país e fazer um MBA.
Daniel Motta Veiga também suou as estopinhas para entender os colegas de
trabalho. Antes mesmo de tirar o curso, aos 18 anos, este designer gráfico
aterrou na Alemanha para trabalhar numa empresa de automóveis, mas não
entendia uma palavra do que os alemães diziam. "Disseram-me que durante três
meses podia falar inglês, mas depois disso só podia falar alemão". E assim
foi. Pouco tempo depois Daniel já dominava a língua, tão bem que ficou por
lá quase dois anos. E deu-se bem. Um dos seus projectos (transformação de um
Opel Tigra numa pick up) foi escolhido para o Salão Internacional de
Automóveis de Genebra - uma das mais importantes mostras da área.
Daniel acabou por voltar a Portugal para tirar a licenciatura em Design
Industrial, mas rapidamente decidiu partir de novo. Com um diploma na mão,
andou entre Madrid e Turim para conseguir um master e acabou por ficar em
Itália. Esteve envolvido em vários projectos da Fiat, Alfa Romeu e Lancia,
mas acabou na Pininfarina, uma das mais importantes empresas de design
industrial do mundo, onde está há cerca de dois anos e meio. Não pensa
voltar, até porque "o design industrial não é levado a sério em Portugal".
Daniel vem cerca de três vezes por ano a Lisboa matar saudades da família e
amigos. E quando Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé, de tal
forma que este ano Daniel conseguiu convencer os pais a ir passar o Natal a
Miami, cidade onde está neste momento a trabalhar ao serviço da Pininfarina.
Já Maria Madureira vem directamente dos antípodas, Austrália, para passar o
Natal com a família. A jovem gestora tem o espírito aventureiro no sangue, e
mais do que procurar uma brilhante carreira profissional, Maria tem andado a
saltar de país em país pelo gozo de conhecer novas gentes e novas culturas.
"Sei que posso estar a prejudicar a minha carreira, mas estou a valorizar-me
enquanto ser humano", justifica Maria. Depois de ter terminado o curso Maria
fez um estágio entre Portugal e Brasil, mas a dada altura decidiu ganhar
asas. Foi tirar um MBA para a Colômbia e depois decidiu viajar - andou em
São Paulo, Amesterdão, Nova Iorque e agora o seu poiso é Sidney, onde
trabalha numa empresa de consultadoria. No entanto, está certa que ainda há
caminho a fazer. "A média prazo quero ir para outro país e cada vez mais
penso que não será Portugal". Maria tem "orgulho" do seu país, mas sente que
em Portugal "somos todos muito semelhantes".

Por Mariana Adam
in Público

Famosos em terra alheia

O fenómeno de fuga de cérebros não é novo e nem acontece apenas com ilustres
desconhecidos. São vários os exemplos de personalidades portuguesas que
brilham no estrangeiro. O sadino José Mourinho é a vedeta do momento no
futebol mundial. Com apenas uma internacionalização o treinador do Chelsea é
um dos "embaixadores" portugueses em terras de sua majestade. Domitília dos
Santos já anda por outras bandas há algumas décadas. A dama de Wall Street,
como é conhecida, é portuguesa de gema. Nasceu em Estói, no concelho de
Faro, mas fez carreira nos Estados Unidos onde é nada menos do que senior
vice president de uma das maiores consultoras financeiras do mundo, a
Salomon Smith Barney.

Quase todos querem voltar, Rodrigo Costa por exemplo, não vai perder mais
tempo, no início do próximo ano vai abandonar a Microsoft para assumir a
administração não executiva da Portugal Telecom. O gestor tem feito uma
carreira ascendente na Microsoft, onde lidera a área mais lucrativa do
império de Bill Gates, e liderou a operação desta multinacional em Portugal
durante 11 anos, assumindo em 2001 o negócio da multinacional no Brasil.
Actualmente, Rodrigo Costa estava radicado em Seattle.Mas há outras áreas em
que os portugueses se destacam. António Damásio, António Coutinho e Carlos
Duarte, dois médicos e um biólogo marinho, estão entre os 250 cientistas
mais bem cotados do mercado.

in Público

segunda-feira, novembro 28, 2005

Flowers in your hair

A semana passada aluguei o filme "Sideways" cuja história se passa na região vinícola de Santa Bárbara, no sul da Califórnia. Mostra de uma maneira despretensiosa como a vida por aqueles lados é levada. Fiquei com algumas saudades.

No dia seguinte recebi um mail da minha amiga Filipa Pato, que estava na região vinícola de Napa no norte da Callifórnia. Ia para São Francisco e queria referências para passear. Comecei a recordar a cidade e os arredores e escrevi-lhe, num mail, aquilo que eu gostaria de voltar a visitar se retornasse àquela bela cidade. Bateu uma nostalgia quando carreguei no "send".

No dia seguinte, na série de banda desenhada que estou a ler (House of Secrets), os personagens decidem fugir de Seattle e vão numa road trip para São Francisco. Atravessam a Golden Gate, vão a Fisherman's Wharf, sobem à Coit Tower e acabam o dia em Ocean Beach, na Cliff House. Há 5 revistas que se passeiam pela cidade em procura de uma amiga.

Sábado acordei e a primeira música que ouvi foi "If you’re going to San Francisco, Be sure to wear some flowers in your hair, If you’re going to San Francisco, You’re gonna meet some gentle people there". À tarde na MTV anunciava um filme chamado "Just Like Heaven" passado em São Francisco.

Porque será que não há filmes passados em Aveiro, bandas desenhadas sobre Aveiro ou músicas mundialmente conhecidas sobre Aveiro?

quarta-feira, novembro 23, 2005

Modelo bang-bang

Aqui há umas semanas (14/10/05) vi no Público a seguinte foto com o texto "Uma modelo passa uma criação da estilista bósnia Lidja Kolovrat para a Primavera/Verão 2006 durante o primeiro dia de desfiles da Moda Lisboa, que ontem começou."

Modelo bang-bang

Achei alguma piada, mas só depois quando andava a ver as fotos da viagem à Croácia é que me apercebi de onde veio a inspiração. Reparem neste sinal que estava na porta de um banco em Samobor, uma vilazita pacata onde os Zagrebenses vão ao domingo passear.

Banco Croata

domingo, novembro 20, 2005

Bebradore a pelhas

Bebradore a pelhas

Há umas semanas contaram-me a história de uma senhora de idade que, aqui em Aveiro, foi a uma farmácia com este bilhete para lhe venderem um bebradore. Acontece na história, segundo me foi contada, que o farmasetico, na ausência de tal produto no seu stock, encaminhou a senhora para um herbanário (sinceramente não sei quem fica pior na história) uns números abaixo na rua.

O senhor da herbanária tirou a fotocópia do bilhete que a senhora tinha e que supostamente lhe tinha sido passado por uma amiga mais ou menos da mesma idade. O bilhete, num português escrito muito próximo da forma arcaico-infantil do nosso idioma, dizia "Senhori farmasetico pesulhe que me benda um bebradore a pelhas e fasa o fabor di ispelicar a esa senhora como e que sefass meter as pelhas como se poe a trabalhar e cuato cuesta".

Mas não haviam pelhas.

Trabalho, Suor e Dignidade

Trabalho, Suor e Dignidade

Todos os dias quando entro para o meu local de trabalho reparo numa carrinha parada em cima de um baldio ao fundo do prédio. É uma carrinha de caixa aberta de transporte dos trabalhadores da construção civil (vulgo "trolhas") da obra em frente. No oleado que cobre metade da caixa, onde deve ter uns bancos de madeira corridos, onde se devem sentar todos os dias os "trolhas" para irem para casa, no fim de um dia de trabalho, diz em letras gordas "Trabalho, Suor e Dignidade". Só! Mais nada...

Confesso que sempre achei cómico. Mas depois de pensar um pouco (se calhar não devia) acho deprimente. Soa a qualquer coisa como um misto entre "Fátima, Fado e Futebol" (do antigo regime), "Sangue Suor e Lágrimas" e "O trabalho liberta" (de Auschwitz).

Pensando bem, quem se deixa transportar ali naquela caixa de carga, como se fosse gado, como pode pensar que há alguma Dignidade na maneira como são tratados? Depois de um dia de Suor, ir ali num banco corrido na parte detrás de um carrinha, sob um pequeno toldo, não se pode pensar muito em Dignidade. Sobra-lhes o facto de terem Trabalho.

E é assim que o patrão os convence que ter um Trabalho que os faz gastar o Suor lhes trará Dignidade. Patrões assim há muitos e por isso é que há uma nova vaga de emigrantes. Não só na construção civil...

domingo, novembro 06, 2005

: : : 1-big-O [v16.0]

Workshops Kundalini Yoga


Workshops Kundalini Yoga
18, 19 e 20 Novembro
Aveiro

Com a professora britânica Guru Daya Kaur.

Mais informações aqui.

Mais um cartaz feito aqui neste portátil.

sexta-feira, novembro 04, 2005

20% dos licenciados fogem de Portugal

Eu sei que a notícia já tem uma semana, mas continua actual e espelha o estado precário dos locais de trabalho em Portugal. Não se criam condições para a sustentabilidade dos locais de trabalho passíveis de criar valor acrescentado ao país. Na verdade, o mais difícil é ficar cá...

O relatório do Banco Mundial aponta para o facto de o fenómeno da "fuga de cérebros" estar a afectar sobretudo os países mais pobres do mundo

Elsa Costa e Silva in DN Sexta, 28 de Outubro de 2005

Um quinto dos portugueses com ensino superior não trabalha em Portugal. Este número, que consta de um relatório do Banco Mundial (BM) onde é analisado o fenómeno da fuga de cérebros, dá conta de que Portugal é o país europeu de média/grande dimensão mais afectado pela saída de licenciados e quadros técnicos. Na lista dos Estados com mais de cinco milhões de habitantes, Portugal é 21.º, com a maior percentagem de licenciados a residir fora das fronteiras. Mas esta é uma realidade com traços mundiais entre 1990 e 2000, o fluxo de imigrantes qualificados cresceu a um ritmo anual de 800 mil pessoas.

Por só considerar os países de maior dimensão, este ranking onde consta Portugal deixa de fora países pequenos do Leste europeu, alguns dos quais agora membros da União Europeia, onde a emigração de quadros é também elevada. Apenas Malta, um país de 400 mil habitantes, é contabilizado na lista que inclui a totalidade dos países e que é liderada pela Guiana. Na pequena ilha do Mediterrâneo, mais de metade da sua população licenciada reside no estrangeiro.

Na lista dos países maiores (com mais de cinco milhões de habitantes), elaborada a partir de dados relativos a 2000 e liderada pelo Haiti, surgem a seguir a Portugal mais dois países europeus a Eslováquia e o Reino Unido, ambos com 16,7% da sua população qualificada emigrada. Neste panorama, convém não esquecer que Portugal é um país com forte tradição de emigração. Por outro lado, o relatório do BM não distingue entre as pessoas que emigraram depois de se licenciarem daquelas que frequentaram o ensino superior no país de destino. Uma situação onde estarão muitos jovens nascidos em Portugal, que abandonaram o país ainda crianças, acompanhando os pais emigrantes.

Contudo, a saída de jovens licenciados de Portugal em busca de melhores paragens é um fenómeno que ganha peso. José Cesário, secretário de Estado das Comunidades nos dois anteriores governos sociais-democratas, afirma que o número do BM "não é surpreendente", já que estes fluxos são "cada vez mais evidentes". Garante que, por exemplo, dos jovens portugueses que se formam em algumas das melhores universidades norte-americanas "regressarão apenas entre 10 a 20%". Até porque, "em matéria de investigação, as condições das instituições estrangeiras são melhores".

Também Azeredo Lopes, professor de Relações Internacionais da Universidade Católica, aponta a má situação económica do país como um dos factores que afastam os jovens licenciados. Mas elogia o que chama de "capacidade de procurar" melhores paragens, lembrando que Portugal "acaba sempre por beneficiar a prazo do que poderia ser uma desvantagem". Ou seja, via remessas desses emigrantes para Portugal ou através do próprio regresso dos imigrantes formados mais tarde, que contribuirão para a qualificação geral do país. Assim, explica este especialista, "Portugal tem de aceitar que a tipologia da sua emigração (que nos anos 50 e 60 era maioritariamente de mão-de-obra muito pouco qualificada) mudou e que o fluxo de pessoas com formação superior começou há muito tempo". O que resultará da liberdade de movimentação, por exemplo, no espaço da União, e que é, até certo ponto, esperado.

Desenvolvimento em risco. Mas o fluxo de emigração qualificada resulta também numa maior debilidade estrutural dos países de origem, que vêem sair os seus recursos mais bem preparados para melhorar os índices de desenvol- vimento económico e social. O relatório do BM alerta para o facto de esta fuga de cérebros afectar sobretudo os países pobres, numa dicotomia já habitual de Sul/Norte, e de não ser tão evidente nas potências emergentes (como, por exemplo, China e Índia) do grupo das nações em desenvolvimento.

De acordo com os números do relatório (que não contabilizam a imigração ilegal), mais de um terço do total da imigração que chegou aos países da OCDE era qualificada. Um número muito eleva-do, se se tiver em conta que, a nível da mão-de-obra mundial, apenas 11,3% têm formação superior. Entre 1990 e 2000, a proporção de recursos humanos qualificados que procuraram os países da OCDE cresceu quase cinco pontos percentuais, superando os 20 milhões de pessoas. Tendo também aumentado a percentagem de trabalhadores com o ensino secundário, é evidente que o fluxo de mão-de- -obra pouco qualificada tem vindo a perder importância.

A "fuga de cérebros" resulta também do facto de os países de origem mais procurados terem adoptado políticas selectivas a nível da imigração, procurando especificamente trabalhadores com melhores qualificações. A esta filosofia de acolhimento não será alheio o facto de, por exemplo, mais de metade dos imigrantes do Canadá serem licenciados, assim como 42,7% virem da Nova Zelândia ou 40% dos Estados Unidos.

Lusofonia. Três ex-colónias portuguesas estão também entre as mais "exportadoras" mundiais de recursos humanos qualificados. Cerca de 67,5% dos licenciados de Cabo Verde estão fora deste arquipélago, assim como 45% dos moçambicanos e um terço dos angolanos. Portugal será assim um dos países que mais recebem esta mão--de-obra, ainda que este fluxo imigrante africano e também dos países de Leste não chegue para compensar a "perda" dos emigrantes portugueses. De facto, no balanço entre recursos humanos qualificados que saem do país e os que chegam, Portugal fica a perder. Aliás, este indicador líquido de "fuga de cérebros" piorou entre 1900 e 2000, tendo quase duplicado.

Contudo, o maior problema é, para Azeredo Lopes, o facto de Portugal não estar a atenuar este efeito através de um melhor aproveitamento da comunidade imigrante em Portugal. "Estamos atra- sados no reconhecimento das minorias, na afirmação de um país multicultural e multilinguístico", afirma este especialista. Não são raros os casos de imigrantes, sobretudo de Leste, com formação superior, a exercer profissões pouco qualificadas. "Este é um percurso migratório muito recente e se eles virem os seus países, agora na UE, a crescer, vão-se embora, porque não valorizamos a vida destas pessoas e dos filhos."

Estou vivo

Há algum tempo que não escrevo. Não é porque tenha pouco para contar, mas porque aprendi a calar-me e porque sei que muita gente vive, diariamente, vidas quase iguais à minha. Na verdade é-me mais fácil escrever quando estou fora, não porque queira me expor, mas porque sinto necessidade de me manter próximo e porque há sempre coisas diferentes que, vistas pelo meu olhar alienígena, dão uma boa crónica.

Por outro lado, em pleno século XXI, descobri que uma empresa, que se diz de Telecomunicações, consegue trabalhar uma semana sem acesso à Internet. Parece ridículo, mas é pragmático do nível de excelência que se vive nesta área de negócios. Não é só cá! Há histórias igualmente ridículo-assustadoras noutras partes do globo, onde já tive o prazer de trabalhar.

Há muitas novidades, mas não vos vou contar nenhuma. Tenho um telemóvel novo, mas não vos conto a história e como tem mudado a minha organização. Tenho umas fotos tiradas com ele, mas não vos vou já mostrar. Fui ver o Kimmo Pohjonen, mas não vos vou contar como se sai do emprego às 21:15, come-se uma bola-de.berlim de jantar, se vê um concerto comovente e se volta para trabalhar às 23:00. Tenho algumas histórias hilariantes para contar, mas não estou com disposição para as escrever. Estou a dar formação à noite, depois de ter estado a assistir a uma e não tenho tempo para mim há quase dois meses.

Estou nostálgico! Estou com sono! Tenho saudades... Acho que é o nosso fado português! Sermos assim...

Como disse há dias a um amigo, que me perguntou "Como estás?" – "Eu ando fo**** com o trabalho (como é costume), apreensivo com a vida e esperançado com o futuro".

sexta-feira, outubro 21, 2005

Rang Mahal

Não há melhor comida, em qualquer parte do mundo onde já tenha estado (e considero que já estive em muito lado) , do que a comida portuguesa. A espanhola por vezes aproxima-se e a de S. Tomé, apesar de diferente, chega a ser quase tão boa. Mas a indiana é aquela que, logo a seguir à portuguesa, me faz crescer água na boca. Se calhar porque, como nasci em Moçambique, sempre houve caril e xacuti em minha casa (sabiam que se o Vasco da Gama não tivesse parado em Moçambique muito dificilmente chegaria à Índia? Sim! Não se fala disso na escola, mas os marinheiros estavam a morrer de escorbuto e deram-lhes fruta de boas vindas, o que os salvou e ele contratou um piloto indiano para o fazer chegar à Índia. Porque a costa oriental de África há muito que comercializava com os indianos.)

Isto tudo para falar de um restaurante indiano que existe aqui em Aveiro. É o terceiro restaurante indiano que abre em Aveiro e nenhum dos anteriores sobreviveu muito tempo, pelo que gostaria que este, porque a comida é melhor, tivesse melhor sorte. Chama-se Rang Mahal e é no mesmo sítio do Indo-Paquistanês, ali na rua "direita" (R. dos Combatentes da Grande Guerra), numa galeria do lado direito quem desce do Marquês para as Pontes (se tiverem o Google Earth sigam o link).

Rang Mahal

Tem um Nan muito bom, feito mesmo por eles. Tem uma série de pratos de Caril, Xacuti, Balti e Tandoori. Tem também pratos vegetarianos o que neste país é uma raridade.

O facto de dizer que tem comida italiana prende-se com o facto de à hora do almoço servirem refeições económicas e porque têm que sobreviver. Mas peçam o menu de comida indiana.

Quando querem marcar lá um jantar?

quinta-feira, outubro 20, 2005

Máquina de Passar Tempo

Ainda na senda do tempo.

Hoje nuns 5 minutos que naveguei aqui pela blogosfera, encontrei este texto que tomei a liberdade de trascrever partilhando-o convosco. Podem encontrá-lo escrito, no seu blog, por Rui Werneck de Capistrano.

Está em português do Brasil!

"MÁQUINA DE PASSAR TEMPO

Não, você não leu direito o título. Ele não queria inventar a Máquina do Tempo. A perseguida por tantos e tantos cientistas sérios ou malucos. Aquela de ir e vir no tempo. De visitar a infância ou a velhice. O que ele queria mesmo era inventar a Máquina de Passar Tempo. Só isso. Por onde começar? Que apetrechos usar? Melhor pensar. Sentou-se na melhor poltrona da casa e lá ficou. Zen. Quase nem. Sem porém. Cinco horas mais tarde, ainda estava pensando. Precisaria energia elétrica? Pneus de bicicleta, acelerador de partículas, cartas de baralho? Indeciso, pensava. Logo mais apalpou a poltrona, o tecido macio, e resolveu começar por ela. Adaptou um volante de automóvel, um dial de rádio, motor de liquidificador. Daí em diante, foi fácil. Uma cúpula de abajur, dois garfos e uma faca, uma pá de ventilador, roldanas de persiana. Ficou dois dias indeciso entre uma ou cinco cordas de violão. Decidiu por cinco. Pelos dez dias seguintes visitou ferros-velhos e catou tudo que parecia bom de usar. A família estranhou, os vizinhos balançaram a cabeça. Noite e dia ele pregava, serrava, soldava. Lógico que correu a notícia de que ele endoidara. Pirou. Está dando milho para bicicleta. Jogando queda de braço com toca-discos. Até que, num belo dia de chuva, ele abriu a casa para os curiosos.

— Vejam! Vejam! Inventei a Máquina de Passar Tempo!

Risos, muxoxos, bocas franzidas.

— Não acreditam, né? Pois, olhem: comecei a fabricá-la no dia 29 de novembro de 1993. O calendário mostra que hoje é 23 de novembro de 1994 e eu nem senti o tempo passar. Ele fez passar um ano inteiro! E o melhor vem agora: ela nem está pronta ainda! Pelos meus cálculos e estudos, acho que preciso de mais uns dez ou doze anos. Isso se eu achar todas as peças. Agora, pronta, pronta, funcionando sem nenhum barulhinho, leva ainda uns trinta anos. Aí, posso requerer patente. E revender. Mas isso, isso se eu não descobrir um jeito de modernizá-la, colocando peças tecnologicamente mais avançadas, ecologicamente corretas. Bom, aí vão mais uns cinqüenta anos. Acreditam? Não? Esperam pra ver. Esperem pra ver..."

The Time is Now

Ainda sobre o tempo.

And we gave it time
All eyes are on the clock
But time takes too much time
Please make the waiting stop

[...]

Tempted by fear
And I won't hesitate
The time is now
And I can't wait

[...]

Give up yourself unto the moment
The time is now
Give up yourself unto the moment
Let's make this moment... Last


"The Time is Now" - Moloko Ouvir excerto

segunda-feira, outubro 17, 2005

Menos um (ou mais um)

Hoje fiquei mais só.

Mais um colega, e amigo, emigrou. Já são alguns, aqueles que optaram por partir. Mais um português em Inglaterra.

Menos um para andar de bicicleta. Menos um para sair às quintas-feiras. Menos um para conversar no emprego. Menos um quadro válido em Portugal.

Eu vou ficando.

quinta-feira, outubro 13, 2005

As minhas fotos (em formato um pouco maior)

Luís,

Embora não seja actualizado há algum tempo e não tenha fotos posteriores a 2003, muitas fotos minhas estão em r u i g o n ç a l v e s - fotografia | photography.

Farol da Illa D'Es Penjats

Pretendo mudar o site e mesmo retirar algumas fotografias que acho que já lá não estão a fazer nada, para além de ocuparem espaço e distraírem os visitantes. Já ando a pensar nisso há algum tempo, mas ultimamente mais, porque além disso não estão lá as fotos todas das minhas exposções.

Illa D'Es Penjats ao Pôr-do-Sol

Fica (fiquem) atento(s) porque estou a preparar outra.

Abraço
Rui

P.S.: Boa sorte na tua nova aventura em terras de S. Majestade.

terça-feira, outubro 11, 2005

segunda-feira, outubro 10, 2005

(Ex)Citação XX

"A nossa maior glória não está em nunca cair, mas em levantarmo-nos de cada vez que caímos."
Confúcio

O Tempo

Mais um dia! Cheguei aqui há algum tempo e desde aí que tenho esperado que o tempo passe. Porque "o tempo faz com que as coisas mudem", pensei eu nessa altura. Mas o passar do tempo apenas nos faz ficar com menos tempo. Tempo esse, que pretendemos que seja para mudar aquilo que não mudámos a seu tempo.

A verdade é que nunca acreditei na história do D. Sebastião, mas como todos aqui, acredito que haverá um tempo melhor que este. Um tempo em que terei tempo para fazer aquilo a que gosto de dedicar o meu tempo. Para eu próprio ser fruto do meu tempo e quem sabe até ter algum tempo livre.

Mas o tempo não mudou nada. Se calhar "ainda não passou o tempo necessário", penso eu. "É preciso dar tempo ao tempo". A verdade é que o tempo foi passando e apenas foi me dando uma precessão de lugares comuns. O tempo é apenas tempo, porque como me diziam em miúdo, naquela ladainha, "o tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem". Ou seja, não faz mudar nada, para além do próprio tempo. E, já não tenho tempo para isso...

Afinal o que se passou neste tempo todo? Cada um gastou o tempo a fazer aquilo que o seu tempo permitia. Alguns arranjaram um passatempo, outros olharam pela janela e viram o tempo a passar. Mataram o tempo! "Porque quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro" ou, mesmo, para mudar o que quer que seja.

Agora, voltou a chuva e o tempo frio. Mas a mudança não veio, como dizia aquela música festivaleira "o vento mudou e ela não voltou". É do meu tempo? Não! É do tempo dos meus pais.

Eu não gosto do tempo. Não gosto das horas, dos minutos, dos segundos... O tempo apenas nos faz esquecer, não muda nada. Se calhar, não é o tempo, mas sou eu que tenho que mudar. Será que ainda vou a tempo? É que o tempo não volta para trás...

Mas, agora, é tempo de mudar!

terça-feira, outubro 04, 2005

Palhaça: "Prioridades"

28 de Setembro, 16:30
Marta Borges, entra na linha de enchimento de chouriços com uma folha de papel na mão. Chega junto de Rodrigo Rodrigues, e diz, mostrando a folha de defeito, detectado pelos resultados dos testes aos chouriços, feitos pela equipa de qualidade.
- "Defeito 1787 confirmado. Como é de prioridade média e não vem do grupo de aceitação, não vamos para já agendar nenhuma mudança para esta semana, a menos que cheguem outros de prioridade alta. Devem-se concentrar nas encomendas em curso."

E afasta-se!

30 de Setembro, 12:39
Marta Borges, entra na linha de enchimento de chouriços. Dirige-se a Rodrigo Rodrigues, e diz:
- "O meu objectivo para o próximo pacote seria: Defeito 1787 corrigido, metade da encomenda em curso realizada e melhoria da embalagem."
Rodrigo olha para ela e, surpreso, gagueja, contendo a resposta.

Continua a trabalhar, enquanto ela se afasta. Ao que ela retorna dizendo:
- "Achas que pode ser para hoje?"

sexta-feira, setembro 23, 2005

Alice no País das Maravilhas

"But I don't want to go among mad people," Alice remarked.
"Oh, you can't help that," said the Cat: "we're all mad here. I'm mad. You're mad."
"How do you know I'm mad?" said Alice.
"You must be," said the Cat, "or you wouldn't have come here."

Há cerca de quatro meses e meio mandei o meu CV para uma, relativamente grande, empresa de telecomunicações, sediada aqui em Aveiro. Sei, através de conhecimentos meus internos na empresa, que o meu CV andou a circular por alguns departamentos. Aliás, no mesmo dia que o meu CV foi distribuído pelos directores de departamento recebi um e-mail de uma outra "empresa", também de Aveiro, que só presta serviços para a primeira empresa, a propor-me uma entrevista. Coisa que me surpreendeu por nunca me ter candidatado a esta última "empresa".

Há 3 meses que trabalho para uma terceira empresa (nesta história), que como a segunda tem como quase único cliente a primeira empresa (da história). Ou seja a primeira empresa contrata os serviços a tempo inteiro dos colaboradores destas (e mais) empresas, gerindo-os directamente, para realizar os seus serviços.

Ontem recebi o seguinte e-mail, que suponho seja a resposta àquela candidatura que falei no início da história.

"Vimos pela presente acusar a recepção da sua candidatura à , a qual mereceu a nossa melhor atenção, e agradecer o interesse manifestado por esta Empresa.

Aproveitamos para informar que, de momento, não temos previstas necessidades de emprego no âmbito das suas qualificações académicas e profissionais. Contudo, e se isso for de seu interesse, iremos manter o seu Curriculum Vitae na nossa base de dados, por um período de um ano, para ser considerado numa eventual futura selecção.
"

Depois de três meses a trabalhar para esta (primeira) empresa.

quinta-feira, setembro 22, 2005

A minha vida dava um filme do Tim Burton

Entrei! A porta de metal, com uma grade, abriu-se e tocou uma campainha. A menos de mim, e de uma senhora que não tirou os olhos do jornal, não estava mais ninguém ali. Subi as escadas e esperei que aparecesse alguém mais, uma vez que a senhora não me pareceu muito interessada em me informar do que se passava. Sentei-me, num banco corrido, junto ao corrimão da escada, que tinha acabado de subir desde a porta.

Tocou o telefone! De repente oiço alguém a subir as escadas, mas adopto a reacção da senhora, no outro banco, como se fosse o procedimento normal de quem ali espera por algo e mantenho os olhos naquele artigo sobre os atentados ecológicos em Portugal. Um artigo sem grande interesse e cheio de lugares comuns, mas informativo para quem não vive neste mundo e compra a Visão.

No entretanto entram mais duas pessoas. Toca a campainha, mas quem devia de atender, está a atender um telefonema. Sobem as escadas e olham em volta, como se houvesse muito para ver. Entram numa das salas, em frente a mim, e vão-se embora. Eu conheci o tipo, que acompanhava uma jovem borbulhenta nesta rápida visita às instalações, enquanto a senhora lê o jornal, eu a Visão e o outro atende o telefone. Era um amigo de uma amiga, a quem fui levar uns CDs há umas semanas, e que foi em tempos patrão de um outro amigo meu. Cumprimentámo-nos timidamente, quando levantei os olhos da revista.

Depois de findo o telefonema, o homem, de barba grisalha e sotaque, pergunta-me, simpaticamente, o que procurava eu ali. Respondi-lhe que vinha para uma consulta de acupunctura. "Ok! Espere um pouco aqui" – apontando para a porta fechada, em frente – "Ele está neste momento a atender outro cliente". E continuei a ler os atentados ecológicos em Portugal.

A porta, à minha frente, abre-se! Sai de lá um tipo com 1,80m e com um volumetria que ocupou a improvisada sala de espera ali no vão de escada. Era o companheiro da senhora do jornal, que pela primeira vez levantou os olhos do mesmo. Falaram qualquer coisa e foram-se embora.

Nisto, o tipo de bata branca e luva de plástico na mão direita, diz, olhando na minha direcção "Rui? Pode entrar!". O acupunctor é brasileiro, preto (ou marron, como ele diz "No Brasiú preto é assim marron..."), com um cabelo lambido para trás, com reflexos meios cobreados, com alguma dificuldade em abrir os olhos, mas com um lindo e aberto sorriso que enche a sala, decorada com mobiliário de consultório com 30 anos.

Deito-me na marquesa e ele liga o almofada vibratória para eu relaxar. Não que estivesse nervoso, mas algo tenso! Já dei sangue e fiz algumas análises, mas era a primeira vez que me iam espetar agulhas com fins terapêuticos. Começou por me analisar na orelha, com um medidor de continuidade eléctrica, quais os órgãos, ou sintomas, que eu precisava de ver melhorados. Intestinos, pulmões e a ansiedade!

A conversa foi desenrolando, enquanto me espetava as agulhas nos meridianos que regulavam as energias que os afectavam. Para balançar o Yin e o Yang, porque eu tenho Yang a mais, disse ele. Uma das agulhas, no cotovelo do braço direito, paralisava-me completamente os movimentos e até senti a mão dormente, mas as das pernas e dos pés nem as senti. Acho que estava algo tenso, por ser final de um dia de trabalho, e como não conseguia ter uma posição confortável dos braços, fazia alguma força. Ou então, o meu lado direito (o Yang) estava a resentir-se.

Conversámos das vantagens de viver em Portugal e dos males do Brasil. De racismo e de extraterrestres. Enquanto as agulhas foram fazendo o seu serviço no meu corpo e enquanto me espetava umas pequenas (quase invisíveis) agulhas na orelha direita. E assim ando há uma semana, com agulhas na orelha! Umas vezes dói mais uma ou outra, mas neste momento só me dói a que está no meridiano do intestino grosso.

E ando com agulhas na bolsa, porque amanhã volto lá outra vez.

quarta-feira, setembro 21, 2005

TOTO


O meu telemóvel da NEC (que envergonhadamente posso dizer que tem código feito por mim), o N338 (nome de projecto: Luigi) deu o "peido". Já é a segunda vez num ano! Como é que um telemóvel do calibre deste, que supostamente era o 3G mais pequeno do mercado, e cujo custo rondava os 300 euros, avaria assim?

Da última vez deixava cair as chamadas. Desta vez quando me telefonam ou eu telefono, não consigo ouvir quem está do outro lado.

Da última consegui "flashar" o telemóvel de novo. Desta vez pode ser que "flashe"-o com o autocolismo.

Cloaca Maxima


Estou num curso de formação profissional de Gestão Estratégica. À noite, depois de um longo dia de trabalho.

Aqui fala-se de tudo o que a maioria das empresas portuguesas nem pensam. Fala-se de levantamento de problemas, resolução de problemas, factores que influênciam as empresas, poder negocial, potencial de novas entradas, pressão de produtos substitutos, modelo das cinco forças, intervenção, antecipação...

Porque é que não está aqui nenhum empresário das empresas que eu conheço? Só estão aqui empresários de pequenas empresas. Com aspirações, porque os outros ou não as têem ou acham que já não precisam.

quarta-feira, setembro 14, 2005

(Ex)Citação XIX

"Teachers open the door, but you must enter by yourself."
Provérbio Chinês

terça-feira, setembro 13, 2005

Saudades

Hoje fiz uma coisa que já não fazia há muito tempo. Estive com uma pessoa de quem já tinha imensas saudades. Falámos de coisas que já nem me lembrava.

Hoje estive na minha companhia.

Ah! Saudades...

segunda-feira, setembro 12, 2005

Palhaça: "Estou saturada, vou de férias!"

Marta Borges, ao fim de uns meses sem aparecer, passeia-se pela linha de enchimento de chouriços.

Ao passar por Rodrigo Rodrigues, repara que o enchimento dos chouriços está a ser feito sem seguir o normal processo de enchimento e diz:
- "Estou a ficar um pouco saturada destas situações de erros sobre coisas que já estiveram correctas! Ultimamente têm sido todas do género. Este é mais um caso."

Rodrigo olha para ela e contendo a resposta continua a trabalhar, sem perceber bem o que está mal. Nisto continua Marta:
- "Mais queria informar que para a semana estou de férias. Por isso gostaria de ver hoje ainda o andamento deste enchimento de chouriços, a entregar na 2ª a tempo de meter no pacote e enviar."

E afasta-se! Não mais se viu na linha durante dois meses.

domingo, setembro 11, 2005

Há quatro anos

Twin Towers

Há 4 anos estava há cerca de uma semana num novo emprego. Numas instalações novas, que como é normal estavam atrasadas, e não tínhamos acesso à Internet. Eu e mais umas duas dezenas de novos empregados da NEC, em Aveiro.

Conhecia um ou outro, mas fui conhecendo os outros, como havia muitas horas mortas, porque sem rede não se conseguia trabalhar e estudar os dossiês sem poder exercitar cansava.

De repente, por volta da hora do almoço alguém diz que um avião tinha colidido com as torres gémeas no centro de Nova Iorque. Telefono a um amigo que me diz que se desconfia ser um avião da polícia, mas nesse preciso momento o segundo avião colide com a outra torre, deixando de haver dúvidas quanto às reais intenções do "acidente".

Sem poder saber o que se passou, para além de ver com os olhos de outros as notícias e de haverem várias versões cada uma baseada no que o "amigo lhe disse", saio às 18:00 e fui dar formação. Aí tinha acesso à Internet, mas não se consegue saber de nada porque a maioria dos sites estão de tal maneiras a serem solicitados que se torna impossível vê-los. Tento ler o meu mail no Yahoo, mas o acesso está interdito. O Estados Unidos estão "fechados".

Do outro lado dos Estados Unidos, de São Francisco, vão me chegando as notícias que as viagens estão limitadas e que as coisas estão paradas. Os meus amigos estão bem... Mas o país não volta a ser o mesmo. Em Nova Iorque, um amigo brasileiro, fotógrafo, caracteriza o ambiente da cidade como deprimente. Ele volta ao Brasil pouco depois.

O país mais potente do mundo mostra-se fragilizado, ferido e sem capacidade de reagir à surpresa. De repente começa a disparar para todos os lados com diversas teorias de conspiração e com a ajuda de uns amigos ataca o Iraque. O resto da história todos a sabemos. Aliás o Michael Moore faz questão de a desmontar em "Fahrenheit 911" ao ponto se nos sentirmos atraiçoados. Eu não porque nunca acreditei nem no Eixo do Mal, nem tão pouco no Trio Fantástico (que, ainda bem, nunca chegou a ser quarteto) dos Açores.

Uns meses depois a economia americana está de rastos. Silicon Valley definha e eu vejo aquilo que me fez voltar a casa um ano antes. Agora o Katrina vem mostrar que o país mais poderoso do mundo quando quer consegue ser terceiro mundista. Em directo na televisão. Aquilo que de melhor tem os Estados Unidos é aquilo que os torna tão vulneráveis. A "liberdade" que o estado permite na economia.

4 anos depois um 911 (ou um Katrina) também se passou em Aveiro e a maioria das pessoas que estavam nesse dia comigo a trabalhar estão neste momento dispersos. Uns em Coimbra, outros na Madeira, outros em Farnborough, outros em Manchester, outros em São Paulo ou Rio de Janeiro e alguns, ainda alguns, em Aveiro.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Las ilusiones devastadas de Portugal

El 90% del bosque sigue estando en manos de 400.000 propietarios, en su mayoría dueños de parcelas de dos hectáreas.

Las condiciones climáticas de los tres últimos años -olas de calor consecutivas y la mayor sequía de que hay registro- destaparon el barril de pólvora.

Por cada 1.000 hectáreas, hay 7 veces más fuegos en Portugal que en España e Italia, 20 veces más que en Francia y 22 veces más que en Grecia.

La economía empezó a dar muestras de crisis a finales de 2000 y entró en recesión en el último trimestre de 2002, pese a un pequeño repunte a primeros de 2004.

in El Pais domingo, 28 de agosto de 2005

domingo, agosto 28, 2005

Espanta-espíritos

Hoje estive na praia. Como as nossas praias são bonitas... Deserta!

O mar estava bravo! A minha cabeça não parava e eu distraí-me a fazer um espanta-espíritos, para ver se os maus espíritos se iam.

Espanta-espíritos

Acho que se foram!

O espanta-espíritos ficou lá! Na praia deserta, do outro lado da Ria. Para que os espíritos bons possam voltar, mas para que os espíritos maus saibam que posso fazer outro.

Stuck In A Moment You Can't Get Out Of

I'm not afraid
Of anything in this world
There's nothing you can throw at me
That I haven't already heard

I'm just trying to find
A decent melody
A song that I can sing
In my own company

I never thought you were a fool
But darling look at you
You gotta stand up straight
Carry your own weight
These tears are going nowhere baby

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment
And now you can't get out of it

Don't say that later will be better
Now you're stuck in a moment
And you can't get out of it

I will not forsake
The colors that you bring
The nights you filled with fireworks
They left you with nothing

I am still enchanted
By the light you brought to me
I listen through your ears
Through your eyes I can see

And you are such a fool
To worry like you do
I know it's tough
And you can never get enough
Of what you don't really need now
My, oh my

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment
And you can't get out of it

Oh love, look at you now
You've got yourself stuck in a moment
And you can't get out of it

I was unconscious, half asleep
The water is warm 'til you discover how deep

I wasn't jumping, for me it was a fall
It's a long way down to nothing at all

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment
And you can't get out of it

Don't say that later will be better
Now you're stuck in a moment
And you can't get out of it

And if the night runs over
And if the day won't last
And if our way should falter
Along the stony pass

And if the night runs over
And if the day won't last
And if your way should falter
Along this stony pass

It's just a moment
This time will pass


"Stuck In A Moment You Can't Get Out Of" - U2 Ouvir excerto

Hold On

Hold On


(Era a esta que te referias, Ricardo?)

quinta-feira, agosto 25, 2005

Disempregário - Posfácio

Nesta fase em que um gajo está entre empregos, num emprego novo ou a ir a entrevistas toda a gente tem opiniões sobre a nossa vida:
"Ah! Não me estou a querer meter na tua vida, mas acho que fazes mal em não aceitares."
"Acho que devias de voltar a estudar isto ou aquilo."
"Podes aproveitar este tempo que estás parado para ir para a biblioteca e estudar umas coisas"
"Corta as suiças, pois se queres que te dêem um emprego de gestor não podes ir assim às entrevistas"
"Olha que oportunidades destas não aparecem todos os dias."
"Parabéns! 36 anos... Essa é idade limite para se arranjar um emprego. Pelo que vejo nos jornais."
"Vais ter que os mandar à m****. Atenção que depois ficas 'queimado'."

Mas a mais ouvida é aquela que pretende ser até um cumprimento:
"Então como está o novo emprego? Estás a gostar?"

Há mais coisas na vida que um emprego.

Por falar em Britânicos (5) - A resposta

Dear Editor,

We read with interest AA Gill’s decimation of the Portuguese nation in the guise of his review on the new Portuguese restaurant in the Kings Road on Sunday 21 August, and were so impressed that Mr. Gill could apparently review our country in such expert detail without ever having actually visited Portugal, we felt compelled to write in.

The fact that "Senhor" Gill claims that Portugal is ‘forgettable’ is beyond belief - unless, of course, he has in fact already visited the country but has experienced some kind of unfortunate memory loss. As the 2 million or so UK visitors who chose to holiday in Portugal every year would attest it is, in fact a country of contrasts which appeals to beach lovers, golf players, surf dudes, nature fans and, indeed, epicures alike. Whatever your passion, so much of this country is just waiting to be explored by the discerning traveller and to find your vision of the ideal holiday you need only take some initiative, get off the tourist trail , broaden your mind and seek out your corner of European paradise for yourself.

We also were most bemused reading Mr. Gill’s thoughts on Portugal’s contribution to the modern world. Apart from our nautical pioneering, there are many Portuguese natives who have made a significant mark in areas of key interest to your readers. Indeed, José Manuel Durao Barroso, who was born and bred in Lisbon, is now President of the European Commission whilst as the well educated Mr. Gill would no doubt be aware, José Saramago won the Nobel Prize for his contributions to literature in 1998. Furthermore, Londoners will also know that the Portuguese architects Álvaro Siza and Eduardo Souto de Moura designed this year’s Serpentine Gallery Pavilion in Hyde Park whilst one of Portugal’s most famous painters Paula Rego, currently has work on show in exhibitions across the UK.

With these starters out of the way, let us now move to the main course - Portuguese food. Here the claims that food in Portugal is ‘well meaning and pretty dreadful’ left a slightly sour taste, particularly when the very same "gourmet" freely admits that his own culinary sense of adventure has fallen short of actually taking the short plane journey over to Portugal to experience the delights of this country for himself. After all, if one is to be an expert on how traditional cuisine should best taste, surely there is no substitute for experiencing it on native soil? This would also serve the useful purpose of enabling the Gill-ty to learn that this most famous of Portuguese dishes is of course the “bacalhau” and not the Spanish “bacalao”, as referred to in the review. And with over 365 different ways of cooking the dish, I’m sure that we could find one method that would take his fancy.

All that's left is for us to wish AA Gill the best of luck in achieving his ambition of a promotion across to the travel section, although he might do well to learn from his counterparts that there really is no better substitute for researching a destination than to actually visit it - a somewhat unorthodox concept for Mr. Gill to entertain at present, it might appear.

Yours Sincerely,
José António Preto da Silva
Director
ICEP PORTUGAL
Portuguese Tourism Office
Portuguese Embassy

Por falar em Britânicos (5)

Table talk

AA Gill


I’ve never been to Portugal, so my prejudices about the salty Iberian appendix are unsullied and uncorrupted by acquaintance. It is with a disinterested authority, therefore, that I can say Portugal is Belgium for golfers, a place so forgettable that the rest of us haven’t even bothered to think up a rude nickname for it.

Portugal is Britain’s oldest ally — like that keen exchange student your mother forced you to be nice to, and who turned up in paperweight glasses and national costume. It’s also the only colonial power that was given independence by its own colony. Brazil told Lisbon it would just have to stand on its own two feet now, because, frankly, being seen out with it was getting embarrassing. Portugal’s colonial reputation was for being overfamiliar with the folk they were ripping off. In fact, there is a theory that the Portuguese only got an empire as a desperate attempt to get laid.

The world is dotted with plain mates on double dates, countries that are gawkier, hairier, shyer, goofier and less entertaining than their friends. Their main purpose is to make the next-door neighbour look good. Obviously, there’s Canada, which is the ugly friend of America. New Zealand is the dingo date for Australia. Ulster is the foul-gobbed psycho with a neck tattoo out with lyrical, literate, craicing Eire. But how depressing must it be to be the forgettable one out on a date with Spain? It’s a Ladyshave assault course.

Portugal has been doomed to be the mini-me España. It’s Spain that’s famous for sailors and discoverers, when, in fact, the Portuguese were better and braver at it. Spain got fascism and Franco; Portugal just got some bloke called Salazar, but nobody noticed. Spain got bullfights, flamenco, Penélope Cruz and Real Madrid; Portugal got golf courses, porto, gout and domestic servants. Name three famous Portuguese who weren’t sailors. Or three of your favourite Portuguese dishes. Okay, so there’s bacalao (salt cod), those little custard tarts and, erm, another one of those delicious little custard tarts.

One of the problems with the communal, back-slapping, one-for-all-and-all-for-France Europe is the rock-on relativism (by the way, Portugal is in the EU, isn’t it?). We’re all supposed to be uniformly good and nice and attractive. We’re supposed to believe that everyone’s sense of style is equal, that their pop songs are jointly joyous and that everyone’s domestic cookery is equally, salivatingly moreish. So in EU-topia, the food of Greece is as wonderful as Italy’s, although there’s always the proviso that it has to be really, really well made. How many people do you think there are who can make Greek food taste good? Very few. And they’re all Turks.

In gallant little Portugal, the food is well meaning and pretty dreadful. And before you say anything, no, I’ve never had it well made, because I’ve never found anyone who can be bothered to make it. Salt cod, of course, can be fantastic, but one swallow doesn’t make a cuisine. Then there are all those things made with chickpeas. The Portuguese are very fond of pulses, bobbing like buoys in soups of old fatty fat.

I’m sure if you’re born to it, it reminds you of your grandmother’s beard and your mother’s mop bucket. Portuguese food is heaven — if you’re Portuguese. But if you come to it with a mild hunger and a choice, it’s just sort of Spanish, but without the shrieking. Dinner of the Dons always seems as if it’s therapy to cope with the sensory, religious and emotional overload of being Spanish. Portuguese food, on the other hand, is more your necessary ballast and seasick ammunition for discovering Tierra del Fuego — or being the live-in couple for a rock star in Sussex.

Tugga is a new Portuguese restaurant on a stretch of the King’s Road that is filled with barn-like grub bars, vaguely themed by country — Italy, Spain, Mexico, Thailand. Their decor and menus are more style indicators than authentic gastronomic experiences. The King’s Road has always been a notoriously difficult place to find anything decent to eat, at least, anything that wasn’t at school with your sister. Most of the clients who trawl up and down here in the evening are up from boarding school, clogging the pavement as they do intense and romantic things on their mobile phones. I love watching young people on phones; they come alive. Face to face, they’re mumbling stroke victims, with all the elegant body language of a beanbag. But give them a handset, and they prance and pose like Margot Fonteyn laying an egg and orate like Hal at Agincourt.

Tugga is just another in this series of dark rooms, which, I suspect, do most of their business in the bar. The best thing about this one is the wallpaper of gaudy flowers that looks a bit like they’ve skinned a dead BA aeroplane tail and glued it to the wall. The Blonde says this particular paper is very fashionable at the moment and comes from Scandinavia. Jabberwocky food is now expanding into jabberwocky environments. You get food from Lisbon, wallpaper from Stockholm, wine from Chile, water from Fiji, music from Ibiza, waiters from Poland and a bill from the Cayman Islands.

The menu is short and Iberian, starting off with the Portuguese version of tapas, which is very like the Spanish version of tapas, but without the thumbscrews. This includes that pata negra ham that just is Spanish. The best I can say about Tugga is that it’s trying to improve the general food of the area, while providing a base for the coveys of public-school children who have been at a loss for a summer camp since Pucci’s, the famous virginity brokerage, closed down.

This is laudable, but, sadly, this Atlantic-rim food is never going to be fashionable or trendy. And it’s not terribly well made. The ham was sweaty and sliced too thick. The salt cod, which ought to be the signature dish, was bland and resistant to swallowing. The chickpea mush was really not edible for pleasure.

Tugga is going to have a hard time competing with its pounding, tequila-slamming, chip-and-dip, youth-ogling, short-skirted neighbours. But then, for Portugal, that’s a familiar story.

in Sunday Times August 21, 2005

Dans la Ville Blanche

Pelos vistos algumas pessoas, principalmente aqueles que já foram emigrantes portugueses, foram as que mais comentaram o meu post sobre o retorno de férias. Alguns fizeram-no por mail dizendo "deixa de te martirizar tanto com os lusos problemas, não é culpa tua" ou verbalmente "acho que estás a ser muito negativo".

A verdade é que sempre fui algo negativista nos momentos maus. Depressivo mesmo. Acho que é próprio na minha natureza portuguesa. Mas o facto de que este país pára em Agosto (Julho e Setembro) torna-o algo depressivo para quem quer andar para a frente com a sua vida. Além de que ter que ir trabalhar quando os outros estão todos de férias torna qualquer um num ser revoltado.

Mas também sou um optimista e um ser positivista em todas as outras alturas e sei ver o que é que este país tem de bom em relação a todos aqueles onde já vivi, trabalhei ou visitei.

Portugal é sem dúvida um país onde se vive mais a vida que nos Estados Unidos. Aqui temos a noção clara de quem é nosso amigo. Temos amigos, não somos seres individuais, estanques e intocáveis. Um emprego aqui, em Portugal, rege-se por regras contratuais e é supervisionado por sindicatos e instituições públicas. Há alguma segurança no trabalho, há segurança social e há serviço nacional de saúde. O estado tem intervenção na vida pública.

Em Portugal tem-se a noção que ao fim de algumas horas de trabalho as pessoas não produzem o mesmo que quando começaram. Aqui, ao contrário do Japão, não é necessário esperar pelo chefe para sair da empresa e há condições mínimas de higiene e segurança no trabalho. Há espaço para se respirar e temos tempo para o desfrutar. Nós temos férias, coisa que os Japoneses e Americanos só usufruem raramente.

Ao contrário de Inglaterra temos sol. Ainda mais sol que na Finlândia. Temos um clima ameno que, por vezes, até permite-nos já fazer praia em Maio. Ao contrário dos ingleses, somos frontais, dizemos o que temos a dizer na cara. Não somos falsos, sorrindo pela frente, mas espetando a faca pelas costas. Falta-nos é a alegria dos Espanhóis, mas resta-nos a paz de viver num país pacífico e cujas fronteiras não mudam há séculos. Estável!

Somos muito mais amistosos que os franceses e sobretudo sabemos compreender melhor as diferenças culturais que eles ou os alemães. Somos muito menos parolos que os italianos e sabemos respeitar o próximo...

E, temos as melhores praias da Europa!

Claro que tudo isto são generalizações, mas penso nisto quase todos os dias. E vêem-me sempre as lágrimas aos olhos quando vejo que as qualidades do nosso país são apreciadas e divulgadas (por vezes bem melhor) por estrangeiros.

Há umas semanas vi um filme (num ciclo de cinema cá em Aveiro) de seu nome "A Cidade Branca" de um realizador suíço – Alain Tanner – passado numa Lisboa do início dos anos 80. O protagonista – representado pelo Bruno Ganz das "Asas do desejo" ou mais recentemente do "A Queda - Hitler e o Fim do Terceiro Reich" – um marinheiro suíço que desembarca em Lisboa e apaixona-se pela vida pacata e pela beleza da cidade.

O filme tem 20 e poucos anos. E ver Lisboa nessa altura faz-nos pensar como muita coisa mudou em Portugal nestes anos. Nós é que estamos embebidos na mudança e não nos apercebemos.

Mas podemos ser melhores!

segunda-feira, agosto 22, 2005

Aniversário

Hoje faço 2 x 18anos!

Optei por não escrever nada, ainda, porque, se por um lado estava muito ocupado, por outro soa a presunção. Mas deixem-me ser presunçoso...

Há 6 anos que não comemorava os meus anos em Portugal. A última vez foi em 1999 e comemorei-os a trabalhar em Porto de Mós, durante o Campeonato Europeu de Cross Country (BTT). Na altura juntei meia-dúzia de amigos e jantámos na Nazaré. Entre os amigos estava um alemão.

6 anos depois, num formato diferente, e marcado à última da hora (no fundo temia que não fossem celebrados cá) juntei uns amigos e vamos jantar. Só alguns... Desculpem, mas não posso juntar todos (talvez para o ano que vem). Entre os meus amigos está um alemão.

Nestes 5 anos de interregno, como já disse numa Crónica, fui-me aproximando de casa. Desde São Francisco, Helsínquia, Paris, Barcelona... Até a Bawnboy (na Irlanda) que no ano passado voltou a me afastar (por isso temia que este ano voltasse a surgir algo semelhante).

Obrigado a todos pelos mails, telefonemas, postais, cartas, abraços e beijinhos.

E obrigado João por me teres dado a esperança de um dia ser um fotógrafo e de sonhar em viver até aos 95 anos. Porque, também, hoje nasceu Henri Cartier-Bresson.

sexta-feira, agosto 19, 2005

A caminho do eclipse

Faltam menos de dois meses para o grande acontecimento astronómico de 2005. Tem lugar na manhã de segunda-feira 3 de Outubro. É um eclipse anular do Sol que atravessa o norte de Portugal e pode ser visto em todo o país. Ao contrário de eclipses parciais a que temos assistido, este evento não poderá passar despercebido.

Nesse dia, as posições relativas da Terra, Sol e Lua são tais que o nosso satélite se coloca à frente do astro-rei, mas não consegue escondê-lo por completo. Observadores colocados no coração do acontecimento vêm o disco solar enegrecido no meio, mas com um estreito anel de luz em torno desse buraco negro. É um eclipse anular do Sol.

Para ver o ânulo é preciso estar numa estreita faixa de centralidade que atravessa o norte de Portugal Continental, vinda da Galiza. Os observadores melhor situados serão os que estiverem numa linha que passa perto de Bragança e de Miranda do Douro. Ao longo dessa linha o ânulo aparece quase perfeito, com uma espessura quase uniforme em volta do Sol. Fora da faixa de centralidade, que tem a largura de uma centena e meia de quilómetros, vê-se a Lua dentar parcialmente o Sol, sem nunca penetrar totalmente no seu centro. Aí, o eclipse é parcial.

Há quem comece já a fazer planos para ver o eclipse nas melhores condições. O Nuclio, Núcleo de Divulgação de Astronomia, em colaboração com a Sinergiae, organiza uma viagem ao coração do evento. No programa (www.nuclio.pt) incluem-se palestras, passeios e, claro, a observação colectiva do eclipse perto de Bragança.

Viaje-se a Trás-os-Montes ou veja-se o eclipse de outro local, 3 de Outubro é uma data que vale a pena marcar já na agenda.

Nuno Crato in Expresso 18 Agosto 2005

Voltei de férias...

Olá,

Voltei de férias, mas ainda não sei se voltei (des)cansado. Embora tenha dito, no último post antes de ir, que iria ficar triste por voltar, a verdade é que assim não foi. Fiquei com vontade de voltar, embora agora, neste momento, esteja a ser assolado por uma vontade de não ter voltado. Não porque tenha gostado por demais de lá ter estado, mas porque não tenho muita vontade de aqui estar.

A Croácia é um país bonito. Mas ainda não consegui digerir as hordas de veraneantes que, em Agosto, invadem as vilas e as pequenas “praias” da Croácia semeando um ambiente de terror de balneário da Europa. Eu vou deixar estas histórias para as Crónicas (que eventualmente escreverei no fim-de-semana) mas queria deixar-vos com a ideia que não foi a Croácia que fez querer voltar, mas os alemães, eslovenos, italianos, checos, austríacos, polacos, eslováquios, holandeses, belgas, luxemburgueses, franceses, espanhóis, croatas, bósnios, sérvios, búlgaros, albaneses, americanos, canadianos, moldavos, australianos e portugueses que enchem o país de carros, as ruas de gente, as praias de barulho e as águas de porcaria.

Mas chego aqui e... Este país deprime-me. Nós (portugueses) não queremos ser ajudados. Claramente tudo o que tem a ver com mudar não tem nada a ver com Portugal. Para quê mudar se está tudo bem assim. Reclamamos o tempo todo, mas quem quiser que mude as coisas, “porque agora não posso”. E em Agosto isto ainda se acentua mais.

Eu vi na Croácia um Portugal de há 15 ou 20 anos. Um Portugal saído há alguns anos de uma ditadura, evoluindo devagar, mas com esperança no futuro. Chego aqui e encontro um Portugal sem governo, parado no tempo e sem esperança nenhuma no futuro. A Croácia tem (e vai fazê-lo) a possibilidade de fazer melhor que nós assim que entrar na União Europeia. A Bósnia é um claro exemplo disso, porque se nota que entra no país muita ajuda externa e vê-se a sua clara aplicação.

Ficar em Portugal neste momento é a opção mais difícil. Tentar ajudar um país que claramente não quer ser ajudado é o décimo terceiro trabalho de Hércules. Não há emprego, não há condições, não há economia. Os incêndios estão a levar a única coisa que ainda sobrava de bom neste país, que era a qualidade de vida.

Quero emigrar!

quinta-feira, agosto 11, 2005

Croacia...

Ola'

(Isto vai mesmo sem acentos!)

Ca' estamos no's em Trogir, depois de termos passado por terras com nomes impronuncia'veis e com vogais com acentos circunflexos invertidos, aqui estamos numa terra cujo nome se consegue pronunciar. Ale'm disso e' uma terra muito bonita, tirada de um qualquer filme do James Bond, ou duns piratas turcos no mediterraneo.

Nao vou tirar fotografias! :-) Esteve a chover (parece que passou um tornado por aqui) e esta' pouca luz... Mas depois eu conto como foi!

A Croacia recomenda-se, mas NUNCA em Agosto! Azar...

sexta-feira, agosto 05, 2005

Amanhã!

Não tenho escrito muito, porque uma imagem vale mais que mil palavras.

Amanhã estarei ali ao lado, lá longe! Mas não fico triste por vos deixar. Ficarei triste por ter de voltar. Por mais que goste de vocês...

Zbogom!

Falta 1 dia!!!

Dubrovnik

quinta-feira, julho 28, 2005

Agricultor Debaixo do Tractor

Há quase 16 anos, vim estudar para Aveiro. Aveiro era uma cidade conservadora, muito conservadora. No entretanto as coisas evoluíram e a Universidade, que era vista como centro desestabilizador do moral e bons costumes da cidade, tomou o seu verdadeiro papel de motor do seu desenvolvimento.

Mas, no seio desse conservadorismo, havia, como ainda hoje há, um grupo de pessoas da cidade que lutavam por serem alternativas. Como eu chegava de uma cidade maior, onde a "liberdade de expressão" era maior e grupos alternativos, pseudo-intelectuais ou urbano-depressivos eram às dezenas, fiquem com a sensação que esse grupo de pessoas se levava muito a sério. Verdade que eram únicos na cidade de Aveiro e verdade que culturalmente estavam muito mais informados que a maioria dos locais, mas achei que por vezes roçavam o pedantismo e isolavam-se propositadamente para que a sua esfera de conhecimento fosse restrita e não fosse adulterada.

Com o tempo, fui conhecendo alguns desses "alternativos" de Aveiro. E, com o tempo, fui apercebendo-me que afinal eram pessoas bem mais interessantes do que aquele ar de pseudo-intelectuais-urbano-depressivos-alternativos deixava transparecer. Mas, também com o tempo, eles foram percebendo que não era preciso vestir de preto ou falar do Nietzsche para se ter cultura e foram abrindo os seus horizontes. Todos crescemos.

Mas esta conversa toda porquê? Porque sempre ouvi falar a essas pessoas de uma banda punk de Aveiro, que teve uma duração efémera e cujo nome sempre me cativou pelo seu humor latente – Agricultor Debaixo do Tractor. Foram precisos quase 16 anos para ouvir uma música deles. E pelos vistos (eu nem sabia) o Ivar Corceiro do Bagaço Amarelo fez parte da tal banda.

Oiçam e leiam o poema de amor em Love Song.

Faltam 9 dias!!!

NP Sjeverni Velebit

quarta-feira, julho 27, 2005

Faltam 10 dias!!!

NP Plitvička Jezera

(Ex)Citação XVIII

"Se não sabes para onde vais, nenhum caminho te levará lá."
Lewis Carroll

(B)Ota para trás...

Tem sido por demais reconhecido que Portugal vive uma profunda crise. Face à sua capacidade de gerar riqueza, a economia tem um excesso de despesa, quer ao nível das finanças públicas, quer ao nível da sociedade em geral. Tais excessos estão traduzidos, nomeadamente, nos persistentes défices das contas do Estado e das contas externas do País. Por outro lado, é notória a perda de capacidade competitiva da economia portuguesa, tal como dão conta o défice externo, o crescimento medíocre dos últimos cinco anos (e perspectivas para os próximos) e o crescente desemprego.

Este preocupante cenário requer uma urgente e dedicada concentração de esforços visando apropriadas medidas de contenção orçamental (com uma estrita selectividade das despesas públicas), de incentivo económico a favor dos sectores produtores de bens transaccionáveis, de promoção da eficiência económica (nomeadamente através da redução das ineficiências geradas pelo próprio Estado) e de uma moderação da despesa colectiva. Mas face a tal cenário parece ter emergido uma corrente de pensamento que acredita que a superação da crise pode estar no investimento em obras públicas, sobretudo se envolvendo grandiosos projectos convenientemente apelidados de estruturantes.

Porque a situação é séria e o País não pode, sem pesados custos, embarcar em mais experiências fantasistas, importa dizer, de forma muito clara, que essa ideia é errada e a sua eventual concretização poderá ser desastrosa para o País. O investimento público pode ter virtudes e pode ser um importante elemento estimulador do desenvolvimento. Mas não é, nas presentes circunstâncias da economia e das finanças públicas, o caso do investimento físico, sobretudo se dirigido a obras cujo mérito não tenha sequer sido devidamente demonstrado por estudos publicamente divulgados, credíveis e contraditáveis.

Primeiro, porque, numa situação de excesso de despesa, mais investimento em obras públicas irá favorecer sobretudo as economias de onde importamos, sem efeito sensível na capacidade produtiva da economia portuguesa, agravando o défice externo (pois só há financiamento parcial de fundos comunitários). Segundo, porque o tipo de emprego mobilizado pela construção pouco efeito terá na absorção do desemprego fabril gerado pela perda de competitividade da nossa indústria e mobilizará sobretudo a imigração. Terceiro, porque tais investimentos irão agravar ainda mais o desequilíbrio das contas públicas, seja pela despesa directa, seja pelos custos de exploração futura, seja, como aconteceu nas SCUTS, pelas inevitáveis garantias para assegurar a mobilização do sector privado. Pelo menos! Por fim, porque os portugueses não poderão compreender que lhes estejam a ser pedidos sacrifícios com impacto no seu nível de vida, quando o Estado se dispõe a gastar dinheiro em projectos sem comprovada rendibilidade económica e social.

Porque o momento é grave; porque continuar com tergiversações à volta do essencial (onde se inclui a reforma do próprio Estado), apenas ajudará o País a afundar-se numa senda de definhamento; e porque é altura de a própria sociedade civil se deixar dos brandos costumes do conformismo e dizer o que tem que ser dito; os signatários entendem dar este seu contributo à reflexão da sociedade e dos poderes políticos.

António Carrapatoso - Vodafone
António Nogueira Leite - ex-Secretário de Estado do Tesouro e Finanças
Augusto Mateus - Professor Catedrático
Fátima Barros - Professora Catedrática
Fernando Ribeiro Mendes - Presidente da RSE Portugal
Henrique Medina Carreira - Advogado e Fiscalista
José António Girão - Professor catedrático da Fac. de Economia da Universidade Nova
José Silva Lopes - Economista
José Ferreira do Amaral - Economista
José Almeida Serra - Economista
João Salgueiro - Presidente da Associação Portuguesa de Bancos
Miguel Beleza - ex-Governador do Banco de Portugal
Vítor Bento - Presidente da SIBS

in Diário de Notícias 27/07/2005