sexta-feira, setembro 23, 2005

Alice no País das Maravilhas

"But I don't want to go among mad people," Alice remarked.
"Oh, you can't help that," said the Cat: "we're all mad here. I'm mad. You're mad."
"How do you know I'm mad?" said Alice.
"You must be," said the Cat, "or you wouldn't have come here."

Há cerca de quatro meses e meio mandei o meu CV para uma, relativamente grande, empresa de telecomunicações, sediada aqui em Aveiro. Sei, através de conhecimentos meus internos na empresa, que o meu CV andou a circular por alguns departamentos. Aliás, no mesmo dia que o meu CV foi distribuído pelos directores de departamento recebi um e-mail de uma outra "empresa", também de Aveiro, que só presta serviços para a primeira empresa, a propor-me uma entrevista. Coisa que me surpreendeu por nunca me ter candidatado a esta última "empresa".

Há 3 meses que trabalho para uma terceira empresa (nesta história), que como a segunda tem como quase único cliente a primeira empresa (da história). Ou seja a primeira empresa contrata os serviços a tempo inteiro dos colaboradores destas (e mais) empresas, gerindo-os directamente, para realizar os seus serviços.

Ontem recebi o seguinte e-mail, que suponho seja a resposta àquela candidatura que falei no início da história.

"Vimos pela presente acusar a recepção da sua candidatura à , a qual mereceu a nossa melhor atenção, e agradecer o interesse manifestado por esta Empresa.

Aproveitamos para informar que, de momento, não temos previstas necessidades de emprego no âmbito das suas qualificações académicas e profissionais. Contudo, e se isso for de seu interesse, iremos manter o seu Curriculum Vitae na nossa base de dados, por um período de um ano, para ser considerado numa eventual futura selecção.
"

Depois de três meses a trabalhar para esta (primeira) empresa.

quinta-feira, setembro 22, 2005

A minha vida dava um filme do Tim Burton

Entrei! A porta de metal, com uma grade, abriu-se e tocou uma campainha. A menos de mim, e de uma senhora que não tirou os olhos do jornal, não estava mais ninguém ali. Subi as escadas e esperei que aparecesse alguém mais, uma vez que a senhora não me pareceu muito interessada em me informar do que se passava. Sentei-me, num banco corrido, junto ao corrimão da escada, que tinha acabado de subir desde a porta.

Tocou o telefone! De repente oiço alguém a subir as escadas, mas adopto a reacção da senhora, no outro banco, como se fosse o procedimento normal de quem ali espera por algo e mantenho os olhos naquele artigo sobre os atentados ecológicos em Portugal. Um artigo sem grande interesse e cheio de lugares comuns, mas informativo para quem não vive neste mundo e compra a Visão.

No entretanto entram mais duas pessoas. Toca a campainha, mas quem devia de atender, está a atender um telefonema. Sobem as escadas e olham em volta, como se houvesse muito para ver. Entram numa das salas, em frente a mim, e vão-se embora. Eu conheci o tipo, que acompanhava uma jovem borbulhenta nesta rápida visita às instalações, enquanto a senhora lê o jornal, eu a Visão e o outro atende o telefone. Era um amigo de uma amiga, a quem fui levar uns CDs há umas semanas, e que foi em tempos patrão de um outro amigo meu. Cumprimentámo-nos timidamente, quando levantei os olhos da revista.

Depois de findo o telefonema, o homem, de barba grisalha e sotaque, pergunta-me, simpaticamente, o que procurava eu ali. Respondi-lhe que vinha para uma consulta de acupunctura. "Ok! Espere um pouco aqui" – apontando para a porta fechada, em frente – "Ele está neste momento a atender outro cliente". E continuei a ler os atentados ecológicos em Portugal.

A porta, à minha frente, abre-se! Sai de lá um tipo com 1,80m e com um volumetria que ocupou a improvisada sala de espera ali no vão de escada. Era o companheiro da senhora do jornal, que pela primeira vez levantou os olhos do mesmo. Falaram qualquer coisa e foram-se embora.

Nisto, o tipo de bata branca e luva de plástico na mão direita, diz, olhando na minha direcção "Rui? Pode entrar!". O acupunctor é brasileiro, preto (ou marron, como ele diz "No Brasiú preto é assim marron..."), com um cabelo lambido para trás, com reflexos meios cobreados, com alguma dificuldade em abrir os olhos, mas com um lindo e aberto sorriso que enche a sala, decorada com mobiliário de consultório com 30 anos.

Deito-me na marquesa e ele liga o almofada vibratória para eu relaxar. Não que estivesse nervoso, mas algo tenso! Já dei sangue e fiz algumas análises, mas era a primeira vez que me iam espetar agulhas com fins terapêuticos. Começou por me analisar na orelha, com um medidor de continuidade eléctrica, quais os órgãos, ou sintomas, que eu precisava de ver melhorados. Intestinos, pulmões e a ansiedade!

A conversa foi desenrolando, enquanto me espetava as agulhas nos meridianos que regulavam as energias que os afectavam. Para balançar o Yin e o Yang, porque eu tenho Yang a mais, disse ele. Uma das agulhas, no cotovelo do braço direito, paralisava-me completamente os movimentos e até senti a mão dormente, mas as das pernas e dos pés nem as senti. Acho que estava algo tenso, por ser final de um dia de trabalho, e como não conseguia ter uma posição confortável dos braços, fazia alguma força. Ou então, o meu lado direito (o Yang) estava a resentir-se.

Conversámos das vantagens de viver em Portugal e dos males do Brasil. De racismo e de extraterrestres. Enquanto as agulhas foram fazendo o seu serviço no meu corpo e enquanto me espetava umas pequenas (quase invisíveis) agulhas na orelha direita. E assim ando há uma semana, com agulhas na orelha! Umas vezes dói mais uma ou outra, mas neste momento só me dói a que está no meridiano do intestino grosso.

E ando com agulhas na bolsa, porque amanhã volto lá outra vez.

quarta-feira, setembro 21, 2005

TOTO


O meu telemóvel da NEC (que envergonhadamente posso dizer que tem código feito por mim), o N338 (nome de projecto: Luigi) deu o "peido". Já é a segunda vez num ano! Como é que um telemóvel do calibre deste, que supostamente era o 3G mais pequeno do mercado, e cujo custo rondava os 300 euros, avaria assim?

Da última vez deixava cair as chamadas. Desta vez quando me telefonam ou eu telefono, não consigo ouvir quem está do outro lado.

Da última consegui "flashar" o telemóvel de novo. Desta vez pode ser que "flashe"-o com o autocolismo.

Cloaca Maxima


Estou num curso de formação profissional de Gestão Estratégica. À noite, depois de um longo dia de trabalho.

Aqui fala-se de tudo o que a maioria das empresas portuguesas nem pensam. Fala-se de levantamento de problemas, resolução de problemas, factores que influênciam as empresas, poder negocial, potencial de novas entradas, pressão de produtos substitutos, modelo das cinco forças, intervenção, antecipação...

Porque é que não está aqui nenhum empresário das empresas que eu conheço? Só estão aqui empresários de pequenas empresas. Com aspirações, porque os outros ou não as têem ou acham que já não precisam.

quarta-feira, setembro 14, 2005

(Ex)Citação XIX

"Teachers open the door, but you must enter by yourself."
Provérbio Chinês

terça-feira, setembro 13, 2005

Saudades

Hoje fiz uma coisa que já não fazia há muito tempo. Estive com uma pessoa de quem já tinha imensas saudades. Falámos de coisas que já nem me lembrava.

Hoje estive na minha companhia.

Ah! Saudades...

segunda-feira, setembro 12, 2005

Palhaça: "Estou saturada, vou de férias!"

Marta Borges, ao fim de uns meses sem aparecer, passeia-se pela linha de enchimento de chouriços.

Ao passar por Rodrigo Rodrigues, repara que o enchimento dos chouriços está a ser feito sem seguir o normal processo de enchimento e diz:
- "Estou a ficar um pouco saturada destas situações de erros sobre coisas que já estiveram correctas! Ultimamente têm sido todas do género. Este é mais um caso."

Rodrigo olha para ela e contendo a resposta continua a trabalhar, sem perceber bem o que está mal. Nisto continua Marta:
- "Mais queria informar que para a semana estou de férias. Por isso gostaria de ver hoje ainda o andamento deste enchimento de chouriços, a entregar na 2ª a tempo de meter no pacote e enviar."

E afasta-se! Não mais se viu na linha durante dois meses.

domingo, setembro 11, 2005

Há quatro anos

Twin Towers

Há 4 anos estava há cerca de uma semana num novo emprego. Numas instalações novas, que como é normal estavam atrasadas, e não tínhamos acesso à Internet. Eu e mais umas duas dezenas de novos empregados da NEC, em Aveiro.

Conhecia um ou outro, mas fui conhecendo os outros, como havia muitas horas mortas, porque sem rede não se conseguia trabalhar e estudar os dossiês sem poder exercitar cansava.

De repente, por volta da hora do almoço alguém diz que um avião tinha colidido com as torres gémeas no centro de Nova Iorque. Telefono a um amigo que me diz que se desconfia ser um avião da polícia, mas nesse preciso momento o segundo avião colide com a outra torre, deixando de haver dúvidas quanto às reais intenções do "acidente".

Sem poder saber o que se passou, para além de ver com os olhos de outros as notícias e de haverem várias versões cada uma baseada no que o "amigo lhe disse", saio às 18:00 e fui dar formação. Aí tinha acesso à Internet, mas não se consegue saber de nada porque a maioria dos sites estão de tal maneiras a serem solicitados que se torna impossível vê-los. Tento ler o meu mail no Yahoo, mas o acesso está interdito. O Estados Unidos estão "fechados".

Do outro lado dos Estados Unidos, de São Francisco, vão me chegando as notícias que as viagens estão limitadas e que as coisas estão paradas. Os meus amigos estão bem... Mas o país não volta a ser o mesmo. Em Nova Iorque, um amigo brasileiro, fotógrafo, caracteriza o ambiente da cidade como deprimente. Ele volta ao Brasil pouco depois.

O país mais potente do mundo mostra-se fragilizado, ferido e sem capacidade de reagir à surpresa. De repente começa a disparar para todos os lados com diversas teorias de conspiração e com a ajuda de uns amigos ataca o Iraque. O resto da história todos a sabemos. Aliás o Michael Moore faz questão de a desmontar em "Fahrenheit 911" ao ponto se nos sentirmos atraiçoados. Eu não porque nunca acreditei nem no Eixo do Mal, nem tão pouco no Trio Fantástico (que, ainda bem, nunca chegou a ser quarteto) dos Açores.

Uns meses depois a economia americana está de rastos. Silicon Valley definha e eu vejo aquilo que me fez voltar a casa um ano antes. Agora o Katrina vem mostrar que o país mais poderoso do mundo quando quer consegue ser terceiro mundista. Em directo na televisão. Aquilo que de melhor tem os Estados Unidos é aquilo que os torna tão vulneráveis. A "liberdade" que o estado permite na economia.

4 anos depois um 911 (ou um Katrina) também se passou em Aveiro e a maioria das pessoas que estavam nesse dia comigo a trabalhar estão neste momento dispersos. Uns em Coimbra, outros na Madeira, outros em Farnborough, outros em Manchester, outros em São Paulo ou Rio de Janeiro e alguns, ainda alguns, em Aveiro.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Las ilusiones devastadas de Portugal

El 90% del bosque sigue estando en manos de 400.000 propietarios, en su mayoría dueños de parcelas de dos hectáreas.

Las condiciones climáticas de los tres últimos años -olas de calor consecutivas y la mayor sequía de que hay registro- destaparon el barril de pólvora.

Por cada 1.000 hectáreas, hay 7 veces más fuegos en Portugal que en España e Italia, 20 veces más que en Francia y 22 veces más que en Grecia.

La economía empezó a dar muestras de crisis a finales de 2000 y entró en recesión en el último trimestre de 2002, pese a un pequeño repunte a primeros de 2004.

in El Pais domingo, 28 de agosto de 2005