quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Inquietude

Eu sou filho de um alentejano e de uma transmontana que “emigraram” para Áfica e aí se conheceram, casaram e aí tiveram três filhos. Eu sou o filho do meio, nascido africano. Porém em tenra idade tive que abandonar a minha terra natal, à qual nunca retornei e da qual guardo poucas memórias. E, as memórias que guardo, às vezes não sei se são realmente minhas ou foram-me transmitidas pelos meus pais. Mas sei que me senti em casa quando fui a S. Tomé, mas penso que a maioria dos humanos deve sentir isso quando vai a África, pois aquele continente foi o berço da humanidade. Se calhar estou enganado…
Quando vim para Portugal (eu não retornei, por isso não sou “retornado”, mas mais refugiado) fui para a Maia. Terra que nada tinha a ver com o meu pai ou mãe. Aliás, era a terra adoptada pelos meus avós maternos, por uma questão profissional. Depois quando fui para a Universidade adoptei Aveiro como a minha terra, mas a verdade é que os laços que me unem a esta terra são circunstanciais e muito ténues (os meus amigos locais podem ficar ofendidos, mas sabem que uma verdadeira amizade não se faz depender de locais ou distâncias).
Tudo isto para dizer que, como dizia um ex-colega há uns tempos, ser emigrante é ser um desenraizado e a verdade é que eu sou emigrante na minha própria terra. E acho que a minha inquietude vem dessa vontade permanente de partir. Há uns tempos vi uma entrevista com o Dr. Fernando Nobre da AMI, em que ele dizia não ser capaz de ficar em casa muito tempo. Eu não sou assim, mas compreendo-o. Já olharam para um Leão numa jaula? Se ele pudesse sair estava lá?
Mas fiquei muito surpreendido no outro dia ao desfolhar umas revistas Volta ao Mundo. Fiquei surpreendido, porque não tive vontade de ir a nenhum dos destinos que estavam nas três revistas (minto, por momentos tive vontade de saltar para dentro das imagens que lá tinha de Lhasa e do Tibet). Mas o que mais me surpreendeu é que ao fim de muitos anos, mesmo não me sentindo um local, não tenho necessidade de me sentir um emigrante.
Tenho uma amiga que dizia que o mais sente saudades, quando está em Portugal, é de ser uma estranha. De ninguém a reconhecer e de poder assim se libertar de espartilhos. A verdade é que eu penso que não tenho muitos espartilhos e que não tenho receio de ser reconhecido. Mas sinto saudades de ser um estranho e de olhar em volta e saber que tudo aquilo que me rodeia é-me mais diferente que àqueles que lá vivem.
Tirando uma ida a Vigo em Janeiro, já não saia do território nacional, há um ano. Será que estou a perder as minhas inquietudes? Espero que não! Espero apenas estar a conseguir controlá-las melhor. É uma fase…

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Palhaça: "Mensagem pela manhã"

O staff fica surpreendido com o mail que chega logo pela manhã. Ambrósio Graciano escreve:
"Gostaria de informar que um dos nossos colegas sofre de um problema médico raro e conhecido por Disforia de Identidade do Género (DIG), mais comummente conhecido como Transexualidade. É uma condição incurável, mas tratável, que se pensa ser causada por um desequilíbrio hormonal na fase pré-natal, e não deve ser considerado um desvio, fetish ou uma opção de estilo de vida. Na sua essência uma pessoa que sofra desta condição, identifica o seu género de maneira diferente daquele que fisicamente e externamente apresenta. O tratamento para esta condição consiste em alterar o seu género físico da pessoa de modo a condizer com aquilo que sente interiormente.
Como resultado do seu tratamento de DIG e desejando fazer esta mudança de uma forma adulta e ponderada, Olegário Alho Lança vai deixar a empresa na sexta-feira, 23 de Março para retornar na segunda-feira 23 de Abril como Ongina Alho Lança, para viver e trabalhar como uma mulher.
Tenho a certeza que todos se juntarão a mim no desejo que esta transição corra sem problemas e sei que todos farão o possível para respeitar a Ongina e tratá-la como uma mulher.
"

E Rodrigo Rodrigues volta ao enchimento de chouriços...

(Serve este post de homenagem a Gisberta, uma transexual, brutalmente assassinada, no Porto, faz hoje um ano. E é baseado - como é costume na rubrica "Palhaça" - em factos verídicos da minha vida profissional, que ocorreram faz agora, também, três anos.)

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

A minha vida dava um filme de Luís Ismael

Às vezes esqueço-me como se fala diferente de zona para zona de Portugal. E, mesmo com pequenas distâncias a nos separar, é sempre fácil encontrar enormes diferenças na maneira como as pessoas falam.
Ontem, fui jantar a casa de uns amigos a Esmoriz. Mas antes fui fazer uns quilómetros de BTT. Ao retornar a casa, tomámos, eu e o meu amigo, o caminho sobre o passadiço de madeira nas dunas da praia de Esmoriz. Já estava muito escuro!
Ao longe via-se uma luz verde, que com a proximidade se foi transformando numa máscara de Carnaval. Uma máscara do Homem-Aranha num miúdo de pouco mais 3 ou 4 anos.
Quando passámos pelo Homem-Aranha, que estava acompanhado por uma mulher, cumprimentámos:
- "Olá Homem-Aranha!"
Ao que o miúdo ficou parado a olhar para dois adultos vestidos de calções de lycra e casaco amarelo, em cima de duas bicicletas, provavelmente a pensar se aquela seria o nosso disfarce.
Tivemos que desmontar para descer umas escadas muito íngremes e fomos apanhados pelo Homem-Aranha, quando a sua acompanhante dizia:
- "Oh, Tomás anda embora".
E eu disse:
- "Mas afinal chamaste Tomás ou és o Homem-Aranha?"
E o Tomás acanhado parou e nem respondeu… Mas a acompanhante disse:
- "É o Homem-Aranha, mas é um homem-aranha murcãum".
E fomos embora a pensar o que é que a senhora queria dizer com aquilo… E a rir!

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

(Ex)Citação XXIV

"Some men see things as they are and say why - I dream things that never were and say why not."
George Bernard Shaw

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Jai Narayan Singh

Há quase um ano, fui abençoado para viver com o nome espiritual de Jai Narayan Singh, que significa: O vitorioso Leão de Deus, cuja alma é clara, pura e brilhante como a água límpida e fresca, que tem a claridade da percepção, que motiva e protege os outros, e que anda com graciosidade e coragem pela sua vida.

Jai significa: Vitória, a capacidade de ultrapassar obstáculos no caminho para o seu objectivo.

Narayan significa: Aquele cuja alma é clara, pura e brilhante como a água límpida e fresca, que tem a claridade da percepção, que motiva e protege os outros.

Singh significa: O Leão de Deus que anda com graciosidade e coragem pela sua vida. Singh é o nome que Yogi Bhajan dava a todos os homens. Ele ensinou que todos os homens têm o potencial de alcançar um grande estado de graça e coragem, de serem um grande leão-guerreiro de Deus, e ele encorajou todos os homens a manifestarem esse potencial.

domingo, fevereiro 11, 2007

Aulas de Kundalini Yoga

Estão abertos novos horários para a prática de Kundalini Yoga, segundo os ensinamentos de Yogui Bhajan, n’O Jardim de Lótus. O professor é Jai Narayan, que para quem não sabe, sou Eu (é o meu nome espiritual e ainda não vos contei, né?).

Às 3as e 5as das 9:15 às 10:30, mas se houver outras horas que vos agrade mais, digam-me, sff.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

X-Wife Taking Control

Há algum tempo que não ia a um concerto de rock. Sinceramente, já nem me lembro do último que fui. Mas, diria que foi o Super Bock Super Rock de 2004… Não! Foi a Siouxsie em Londres, em 2005. Mas por 7 euros não podia perder um concerto, aqui em Aveiro, numa sala minúscula e num espaço que não conhecia sob este conceito. Assim, faz hoje uma semana fui ver os X-Wife no auditório do Mercado Negro.

Digamos que a sala não será muito maior que a minha sala de casa, em anfiteatro, mas infelizmente com cadeiras… Mas estou-me a adiantar! Digamos que o bilhete que comprei dizia que tinha que o trocar pelo verdadeiro no dia e no local do concerto. E por isso cheguei às 22:15 (o concerto era às 23:00) ao Mercado Negro. Mas, ninguém sabia onde e como se fazia a troca. No balcão diziam que era no auditório e no auditório mandavam-nos para o balcão. Estaria tudo bem se o balcão e ao auditório não fossem um em cada lado do estabelecimento e em andares diferentes. Mas lá consegui “trocar” o bilhete temporário, colorido e bem feito, por um papel de rifa com um carimbo dos X-Wife em vermelho… O que vale é que nos deixaram ficar com o bilhete!

Mas voltemos então ao concerto: tenho pena que, apesar de ter melhorado no último CD, o vocalista continue a usar a reverberação, o eco e os gritos para disfarçar o facto de ter vergonha da sua vocalização ou não se sentir confortável com a sua voz. E, apesar de não conseguir ver muito do que se passava no “palco”, devido a um tipo imóvel que ficou duas filas à minha frente, gostei da actuação do baixista que não parou um segundo e ainda deu um gostinho ao dedo e tocou um pouco do “She Lost Control” dos Joy Division a pedido do público. O teclista com a sua sempre presente camisa às riscas fez o que lhe competia sempre muito atento ao que se passava. Mas, tenho pena de não conseguir ver o baterista, que substituiu muito bem a caixa de ritmos que normalmente fazia os concertos dos X-Wife (acho que foi assim que os vi no tal SBSR de 2004).

O concerto foi muito bom, apesar de não nos conseguirmos mexer por causa das cadeiras, de não conseguirmos respirar por causa do fumo (a sala tinha muito má circulação de ar, para não dizer que não tinha nenhuma) e de não podermos levar bebidas para dentro da sala. Mas tudo isso era alheio aos X-Wife que passaram o tempo a dizer que nos divertíssemos e que éramos muito tímidos. Não sei se estaria à espera que fizéssemos stage diving mas ao contrário, da plateia para o palco (que estava num nível mais baixo).

Ouvi coisas que me lembraram Suicide em certas partes, roçaram os The Jesus And Mary Chain de Automatic, houve mesmo momentos muito rock’n’roll próximo dos The Gun Club e por vezes pareceu-me ouvir o Lux Interior em palco (eu disse ouvir). Mas afinal não, eram os X-Wife Taking Control.

X-Wife Tour

Vão ver…Hoje em Coimbra, amanhã em Leiria, depois de amanhã em Tondela, e depois em Lisboa, Caldas da Rainha, Esposende, Porto, Vila Real e Braga. Vejam no site deles onde e como.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

A minha vida dava um filme do Alfonso Cuarón

Estou a passar por uma fase da minha vida em que ponho tudo em causa. Afinal de contas o que é certo na minha vida? O Baltasar… Aconteça o que acontecer será sempre meu filho, e eu o pai dele!

Mas se mudar de profissão? Deixo de ser Engenheiro de Telecomunicações ou Programador… E se mudar de cidade? Aveiro deixa de ser a minha cidade… E se mudar de país? O português pode deixar de ser a minha língua… E se mudar…

Por isso mesmo por vezes tenho necessidade de ir até à Costa Nova, e andar na areia até muito próximo da rebentação. Para perceber porque é que ainda estou aqui! E tenho vontade de chorar quando olho para aquele mar, que todos os dias rebenta ali e não muda… Mas por outro lado, ninguém o consegue dominar!

Ontem fui até lá! E apeteceu-me tomar banho nu, mas estava muito frio e não tinha onde me limpar, se não... Aproveitei para apanhar um sol e lembrar-me que "Aconteça o que acontecer, a vida continua e o mar continuará a rebentar na praia!"