quinta-feira, dezembro 22, 2005

A minha vida dava um filme do Alfred Hitchcock (pt. 1)

Tinha almoçado bem e estava a começar uma nova tarde de trabalho. Toca o meu telemóvel e é um número não identificado. Podia ser alguns dos meus amigos que sempre resolvem passar por anónimos.

Atendi! Oiço do outro lado:
- "Estou sim? Estou a falar com o Sr. Rui Manuel Carneiro Gonçalves?"
Desconfiei! Quando me chamam pelo nome completo é porque não me conhecem.
- "Sim, sou eu!"
- "Daqui fala da Fodicis (N.R.:nome fictício)..." – disse a voz feminina. Eu pensando que era alguma publicidade daquelas compre-este-aspirador-e-damos-lhe-três-dias-de-férias-na-gronelândia, disse logo:
- "Eu não tenho nada a ver com a Fodicis!"
- "Não tem? Mas o seu bilhete de identidade não é o 6231568?"
- "Sim!"
- "Mora na R. Cais do Albói, 54 em Aveiro."
- "Não! Moro em Aveiro mas desconheço essa morada!"
- "É que temos aqui um crédito feito neste nome. E o seu número de contribuinte é o 612361812?"
- "Sim! Mas para que banco foi feita a transferência?" – disse eu.
- "Espere um pouco... Banco Bets!"

A conversa continuou com algumas trocas de informações, mas sem que a tipa do outro lado baixasse os ataques como se eu fosse realmente o tipo que lhe pediu 6000 euros. Falei com um amigo advogado e embora ele achasse que não era minha obrigação reclamar a minha inocência, mas a da Fodicis de provar a minha culpa, resolvi ir a Lisboa limpar o meu nome.

No dia seguinte, depois de almoço, fui para Lisboa. Depois de duas horas e pouco de viagem, algumas filas e muita confusão, cheguei ao edifício da Fodicis em frente ao Museu Calouste Gulbenkian. Entro e informam-me que naquele dia excepcionalmente tinham fechado às 17:00 (eram 17:13), quando a tipa do outro lado da chamada me tinha dito que fechava às 18:00 e depois de eu lhe ter garantido que lá ia naquele dia.

Começaram-me a subir os calores. E não fosse a prontidão em arranjarem alguém que me atendesse e estava pronto a perder a minha boa vontade toda de limpar o meu nome e lhes poupar o trabalho de me acusarem de algo que não fiz. Em pouco tempo estava com a cópia do bilhete de identidade, do cartão de contribuinte e o contrato em meu poder, tudo o que precisava para apresentar queixa na polícia.

É impressionante como se transfere 6000 euros para a conta de alguém baseado na fotocópia de um bilhete de identidade de alguém que nasceu em Lourenço Marques, uma cidade que já não tem essa designação desde há 30 anos e com a validade de 10 anos, algo que só é possível a quem tem mais de 35 anos, e à data da emissão do mesmo documento (09/01/2004) alguém nascido em 22/08/1969 teria apenas 34 anos. Para além de não falar que a fotografia é no mínimo irreconhecível (e em nada se parece comigo). E o cartão de contribuinte nota-se que o número foi lá colocado, porque está desalinhado com o resto do texto do mesmo. Depois admiram-se...

Obviamente que os dados foram sacados todos do meu CV que está online e que já nem sequer inclui aqueles dados, mas cujo conteúdo do site ainda não tive tempo de actualizar.

Passou o fim-de-semana e na segunda-feira de manhã, mal me levantei dirigi-me à esquadra de polícia de Aveiro. Expliquei a situação! O homem ficou a olhar para mim:
- "Mas fazem empréstimos assim? Assim qualquer um os pode enganar!"

Estive lá uma hora e tal para que o Sr. PSP me fizesse um texto que conseguisse explicar o sucedido, ou o que achamos que terá acontecido. A queixa seguiu para a polícia judiciária e eu mandei uma cópia para a Fodicis.

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