Todos os dias quando entro para o meu local de trabalho reparo numa carrinha parada em cima de um baldio ao fundo do prédio. É uma carrinha de caixa aberta de transporte dos trabalhadores da construção civil (vulgo "trolhas") da obra em frente. No oleado que cobre metade da caixa, onde deve ter uns bancos de madeira corridos, onde se devem sentar todos os dias os "trolhas" para irem para casa, no fim de um dia de trabalho, diz em letras gordas "Trabalho, Suor e Dignidade". Só! Mais nada...
Confesso que sempre achei cómico. Mas depois de pensar um pouco (se calhar não devia) acho deprimente. Soa a qualquer coisa como um misto entre "Fátima, Fado e Futebol" (do antigo regime), "Sangue Suor e Lágrimas" e "O trabalho liberta" (de Auschwitz).
Pensando bem, quem se deixa transportar ali naquela caixa de carga, como se fosse gado, como pode pensar que há alguma Dignidade na maneira como são tratados? Depois de um dia de Suor, ir ali num banco corrido na parte detrás de um carrinha, sob um pequeno toldo, não se pode pensar muito em Dignidade. Sobra-lhes o facto de terem Trabalho.
E é assim que o patrão os convence que ter um Trabalho que os faz gastar o Suor lhes trará Dignidade. Patrões assim há muitos e por isso é que há uma nova vaga de emigrantes. Não só na construção civil...
1 comentário:
A comparação com Auschwitz acho um bocadinho demais, mas no demais concordo contigo. Mesmo tendo em conta que o Trabalho é uma parte integrante do nosso dia-a-dia, não concordo que um ser humano "ganhe" a sua Dignidade através dele. Aliás, se há coisa que hoje em dia cada vez mais se ausenta do Trabalho, é, sem dúvida, a Dignidade...
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