Há 4 anos estava há cerca de uma semana num novo emprego. Numas instalações novas, que como é normal estavam atrasadas, e não tínhamos acesso à Internet. Eu e mais umas duas dezenas de novos empregados da NEC, em Aveiro.
Conhecia um ou outro, mas fui conhecendo os outros, como havia muitas horas mortas, porque sem rede não se conseguia trabalhar e estudar os dossiês sem poder exercitar cansava.
De repente, por volta da hora do almoço alguém diz que um avião tinha colidido com as torres gémeas no centro de Nova Iorque. Telefono a um amigo que me diz que se desconfia ser um avião da polícia, mas nesse preciso momento o segundo avião colide com a outra torre, deixando de haver dúvidas quanto às reais intenções do "acidente".
Sem poder saber o que se passou, para além de ver com os olhos de outros as notícias e de haverem várias versões cada uma baseada no que o "amigo lhe disse", saio às 18:00 e fui dar formação. Aí tinha acesso à Internet, mas não se consegue saber de nada porque a maioria dos sites estão de tal maneiras a serem solicitados que se torna impossível vê-los. Tento ler o meu mail no Yahoo, mas o acesso está interdito. O Estados Unidos estão "fechados".
Do outro lado dos Estados Unidos, de São Francisco, vão me chegando as notícias que as viagens estão limitadas e que as coisas estão paradas. Os meus amigos estão bem... Mas o país não volta a ser o mesmo. Em Nova Iorque, um amigo brasileiro, fotógrafo, caracteriza o ambiente da cidade como deprimente. Ele volta ao Brasil pouco depois.
O país mais potente do mundo mostra-se fragilizado, ferido e sem capacidade de reagir à surpresa. De repente começa a disparar para todos os lados com diversas teorias de conspiração e com a ajuda de uns amigos ataca o Iraque. O resto da história todos a sabemos. Aliás o Michael Moore faz questão de a desmontar em "Fahrenheit 911" ao ponto se nos sentirmos atraiçoados. Eu não porque nunca acreditei nem no Eixo do Mal, nem tão pouco no Trio Fantástico (que, ainda bem, nunca chegou a ser quarteto) dos Açores.
Uns meses depois a economia americana está de rastos. Silicon Valley definha e eu vejo aquilo que me fez voltar a casa um ano antes. Agora o Katrina vem mostrar que o país mais poderoso do mundo quando quer consegue ser terceiro mundista. Em directo na televisão. Aquilo que de melhor tem os Estados Unidos é aquilo que os torna tão vulneráveis. A "liberdade" que o estado permite na economia.
4 anos depois um 911 (ou um Katrina) também se passou em Aveiro e a maioria das pessoas que estavam nesse dia comigo a trabalhar estão neste momento dispersos. Uns em Coimbra, outros na Madeira, outros em Farnborough, outros em Manchester, outros em São Paulo ou Rio de Janeiro e alguns, ainda alguns, em Aveiro.
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