O que se ganha em ir para o Algarve de férias? O que se ganha em ir para a Rep. Dominicana, Cuba, Brasil, Cabo Verde ou S. Tomé e não se sair do
resort? Para quê gastar uma soma de dinheiro, por vezes, tão grande na procura de uns momentos de paz e em plena fuga do nosso quotidiano quando depois somos prendados com apenas sol, água do mar e luxos que não vamos poder sustentar no resto do ano? Eu compreendo que as férias se desejam como sendo uma quebra com a normal rotina, mas valerá a pena sacrificar o resto do ano em prol de umas (por vezes apenas uma) semanas de luxo? Ou será que não podemos usufruir de sol e praia mais tempo durante o ano, quando somos um país com tanta costa e tanto sol?
Por sinal, eu e a Cláudia, temos tido o hábito, nos últimos anos, de fugir ao calor no Verão e fugir ao frio no Inverno. Por isso fomos à Finlândia em Agosto de 2001, França, Bélgica e Holanda em Agosto de 2002, Pirinéus em Agosto de 2003. Porém também fomos a Ibiza em Junho de 2001 e Barcelona em Agosto de 2003, à procura de calor. E também fomos na passagem de ano de 2002 a S. Tomé à procura de calor. Afinal o padrão tem falhas.
Para mim ir de férias é realmente quebrar com o quotidiano. Mas para quebrar o quotidiano existem mais 48 fins-de-semana durante o ano. E nesses é possível apanhar muito sol e fazer muita praia. Prova disso é este ano, em que já fiz mais praia do que nos anos anteriores e sem sair de Aveiro (é bom viver perto do mar, nesta altura do ano).
Para mim férias não é fechar-me num
resort e tentar esquecer que tenho uma vida miserável o resto do ano. Para mim férias é embeber-me numa cultura estranha e ser obrigado a esquecer-me que a minha vida não é perfeita o resto do ano. Fechar-me num
resort apenas iria potenciar o facto de que me estava a querer enganar e voltar iria ser muito mais doloroso. Se me "cansar" nas férias provavelmente venho, de volta ao trabalho, muito mais satisfeito e cheio de ideias novas.
Mas, não escondo que gosto d'"
il dolce far niente". Quem não gosta? Mas isso tem que ser compensado com experiências novas, que não existem no Algarve ou num
resort paradisíaco onde a cultura local é moldada em função dos gostos dos turistas. Acho que podia ir para uma ilha deserta, não fazer nada durante uma semana. Mas isso só por si era uma experiência, que não sendo cultural, era de certeza uma grande experiência pessoal. Como naquele vez que passámos apenas um dia e meio isolados do mundo, no Parque Natural Kolovesi na Finlândia, onde remámos algumas horas para acampar longe. Quando retornamos à civilização a ânsia de falar com alguém fez com que conseguíssemos comunicar com uns alemães, metade em alemão, e falar sobre o Rali dos Mil Lagos, do qual nada percebíamos.
Acho que, nós portugueses, estamos a ficar muito como os americanos, que como não têm férias quase nenhumas, quando têm uns dias de folga estoiram somas avultadas de dinheiro para esquecerem que são uns desgraçados. Ou como os ingleses que como têm um tempo desgraçado voam para um dado lugar, onde só há ingleses, para gozar uns dias de sol, mas embebidos na cultura de casa. Ou sejam saem de casa, mas ficam em casa. Não é assim na Rep. Dominicana, Brasil, Cuba, Cabo Verde ou S. Tomé para a maioria dos portugueses?
Podíamos ser como os holandeses que à primeira oportunidade fogem do seu país (embora nós não tenhamos tantas razões como eles para o fazer) e estão em toda a parte do mundo a conversar na língua local, a comer a comida local e a "ser" um local.
Mas, voltando às nossas férias, este ano por razões que me são alheias ainda não sei quando e para onde vamos. Mas o Algarve, Rep. Dominicana e Cabo Verde está fora das nossas ideias. S. Tomé podia ser, mas não me gosto de repetir, porque o mundo é demasiado grande para o pouco tempo que cá andamos para o explorar e viver. Cuba é um destino há muito sonhado, porque permite (como todos os outros se houver vontade) a embeber-se numa cultura alheia e ao mesmo tempo desfrutar o não-fazer-nada. Mas está caro...
A última ideia é voar até Veneza, onde temos um amigo que nos dá guarida - o Luca - e daí, via Trieste, passar à Eslovénia e fazer a costa da Croácia. Há espaço para descansar e "cansar".
Vamos a ver. Espero que esta semana já saiba novidades da minha própria vida, que como dizia o meu professor António Rui Borges, deixei de controlar a partir do momento que comecei a trabalhar. A trabalhar por conta de outrem.
Em breve saberão e se calhar até apanham com o relato...