terça-feira, janeiro 25, 2005

A minha vida dava um filme do Quentin Tarantino

Sábado [22 de Janeiro de 2005], à noite, estava com um grupo de amigos no "Piolho" (Café Âncora D'Ouro na Praça de Parada Leitão, no Porto, junto ao que foi a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde estudei dois anos da minha vida). O café continua igual ao que era, quando o conheci, há 17 anos. Aquelas mesas minúsculas alinhadas umas contra as outras e as cadeiras feitas para pessoas de 1,60m, de modo que a mobilidade seja um desafio. Espelhos a toda a volta para simular um espaço maior, mas sempre os mesmos empregados que parece que foram recrutados na CERCI. O mesmo "Piolho" que inspirou muitas tardes e noites de copos (ninguém lá ia de manhã no seu perfeito juízo).

Dizia eu que estava no "Piolho" com uns velhos amigos, a beber umas Super Bock, naquele ambiente de café-anos-50. E, como é normal a cerveja tem propriedades diuréticas e levantei-me para ir ao quarto-de-banho. Incomodo duas ou três pessoas para me poder levantar do sítio onde estou encaixado entre duas mesas e três cadeiras. A caminho do quarto-de-banho passo por uma mesa de punks/anarcas que acabaram de entrar e estão a jantar uns hamburgers.

Entro no quarto-de-banho, uma sala de 2m quadrados decorada com azulejos azuis gastos pelo tempo e encosto-me ao urinol, que de tão alto, logo me faz pensar como é que as pessoas de 1,60m que se sentam naquelas cadeiras podem urinar ali. Logo a seguir entra um homem, albino, com cerca de 50 anos. O estado de alcoolémia do indivíduo roça o aceite pelo corpo para se poder caminhar de pé. A sua postura oscila entre a parede de fundo do urinol e cerca de dois palmos atrás da vertical. Nisto o homem diz (enrolando a língua junto ao céu da boca):
- "Isto do Porto é uma merda!"
"Grande início de conversa", pensei para comigo.
E o homem repete:
- "Isto do Porto é uma merda!"
Visto que a conversa não desenvolvia, perguntei:
- "Mas é uma merda, porquê?"
O homem olha para mim, sem me conseguir ver por detrás dos óculos, mas sempre virados para a parede de azulejos azuis, e diz:
- "Vinha dar uma foda e a gaja fugiu com a massa!"
O cabelo branco e a pele rosa do homem não deixavam em nada perceber que tinha estado a beber. Parecia uma pessoa num estado perfeitamente normal, não fosse o movimento harmónico em ressonância do seu corpo. Mas de cada vez que abria a boca sabia-se perfeitamente que estava com os copos.
E continua:
- "Lá em Matosinhos é diferente, aqui como é Porto têm a mania que são mais espertas!"

No entretanto acabei o meu "serviço" e em tom de despedida digo-lhe:
- "Pois! Queria fodê-la, mas ela é que o fodeu..."
O homem sorriu! E eu fui, que a Super Bock estava à minha espera.

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