Quando vou ao castelo de Marialva e percorro os caminhos do seu interior, entre casas em ruínas, parece-me sentir as pessoas que em tempos viveram lá dentro e toda a energia deixada pela população que aos poucos foi abandonando aquele lugar à sua sorte. Como diz de José Saramago num trecho do seu livro "Viagem a Portugal" e que foi transcrito para uma pedra do interior do castelo, "... é este conjunto de edificações em ruína, o elo misterioso que as liga à memória presente dos que viveram aqui, que subitamente comove o viajante, lhe aperta a garganta e faz subir lágrimas aos olhos."
A mesma coisa acontece-me quando vou a Vilarinho da Furna no Parque Nacional da Peneda-Gerês, como aconteceu este fim-de-semana passado. Porém ali é mais difícil percorrer os caminhos por entre as casas, pois a aldeia está submersa a maioria do ano. Porém já tive o prazer de o fazer há uns anos quando o nível das águas da barragem o permitiu e a sensação foi muito semelhante. É bom sentir as pessoas sentadas à janela, junto à lareira ou mesmo caminhando pelas estreitas ruas. Mas só se sente porque as pessoas já lá não estão e porque as casas estão despidas. Apenas ficaram as pedras carregadas de memórias e energia positiva.
E Vilarinho da Furna tem uma história especial porque naquela zona, entre as serras Amarela e do Gerês, as pessoas viviam separadas da "humanidade" pela ausência de vias de comunicação, viviam em auto-suficiência e em comunidade. A aldeia tinha uma espécie de conselho onde cada família estava representada por um membro. Uma assembleia do povo. À frente desta junta estava um indivíduo que tinha o cargo de juiz ou zelador por seis meses e fazia cumprir regulamentos escritos e orais de que as pessoas tinham memória. E debatiam-se os assuntos relativos ao lugar, problemas como manter as infra-estruturas, caminhos, pontes, levadas, vedar as parcelas de pastagens nos montes e nos currais. No fundo era manter aquilo que era de todos e fazer o calendário agrícola e pastoril para que tudo corresse bem e não faltasse o essencial à comunidade. As pessoas estavam habituadas a participar na colectividade, naquilo que era de todos. (adaptei isto de um site sobre Vilarinho da Furna)
"Havia democracia naquele tempo" como também disse um velho que por lá apareceu, enquanto nós nos banhávamos nas águas geladas do Homem e nos banhávamos do sol que esteve sempre presente no fim-de-semana.
Foi bonito! Foi bonito termos lá passado a parte final do Fim de Semana de Yoga no Gerês, assim como foi bonito estar no castelo de Marialva na despedida do Fim de Semana de Yoga em Foz Côa, há um ano.
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