quarta-feira, abril 14, 2004

PazCôa I

Já falei na Páscoa em Foz Côa noutras crónicas. Aliás há um ano atrás falei-vos da visita do Ben e do Tim e dos cruzamentos no jardim do Destino (ver Crónica 5 depois da Califórnia). Mas já lá não tinha umas férias, como estas últimas, da Páscoa, há bastante tempo.

O início foi complicado, mas o final foi difícil. Eu e a Cláudia, convidámos uma série de amigos para lá irem passar uns dias e no final tivemos que andar a gerir a ocupação dos quartos e o uso das toalhas e lençóis de cada um, porque entraram uns quando saíram os outros. Parecia uma pensão. Uma pensão só para amigos.

Os primeiros a entrar foram o Ken, Sue e Mary, a filha da Sue. Eu já vos falei do Ken e da Sue (ver o post de Segunda-feira, 29 de Março de 2004) aqui no blog, mas desta vez traziam mais a Mary, uma inglesa simpática e bem disposta.

Em dois dias já me tinha esquecido de todas as chatices de trabalho e da vida.

Eles chegaram na quinta-feira [8 de Abril de 2004]. Mal pousaram as coisas em casa entrámos para o jipe – ainda não dei nenhum nome ao meu carro! Tenho que pensar nisso – e zarpámos em direcção à estação de caminho de ferro de Freixo de Numão, em direcção à Petiscaria Preguiça. Para quem não conhece é a nossa última descoberta em termos gastronómicos da região. Imaginem uma pequena sala envidraçada sobre a Ribeira de Murça, mesmo na sua foz com o Douro e com vista sobre a ponte de caminho de ferro, rodeados de vinha e árvores de fruto. Mas, o melhor são os peixinhos do rio e o entrecosto grelhado na lenha, servido com um vinho da região e feito pelas pessoas mais amáveis que possam imaginar. Tudo terminado com uma laranja sumarenta e doce e um café na esplanada ao ar livre, enquanto os mosquitos deixam.

Terminámos tarde. Mesmo a tempo de não jantar. Mas ainda a tempo de dar um passeio a pé até à berma de água.

À noite arrastámos os ingleses anglicanos (um pleonasmo?) até à procissão católica e a ouvir o cântico da Verónica. É sempre um belo espectáculo de Páscoa... A procissão de sexta-feira é que já não gosto. Assim como não gosto (mas respeito) que as pessoas levem tão a peito a procissão e fiquem ofendidas porque nós nos afastamos, como duas velhas que foram mal educadas – devem ter visto o filme do Mel Gibson.

Mas antes de chegarmos à procissão da noite de sexta-feira [9 de Abril de 2004], que apenas ouvi já no aconchego da minha caminha, tal era o cansaço, convém falar do dia passado num piquenique na praia da estação de Almendra, na margem do Douro. Um paraíso que partilhámos com três rapazes de Foz Côa e uma meia dúzia de espanhóis que ali apareceram nas suas lanchas. De nuestros hermanos nem falo, porque mal os vimos, embora tenham mostrado que não somos só nós que somos inconscientes, pois traziam uns miúdos na proa sem qualquer tipo de protecção e nem sequer um colete salva-vidas. Mas dos rapazes de Foz Côa, há que dizer bem, pois quando o nosso vinho estava a acabar, vieram ter connosco e partilharam do seu garrafão um vinho “feito de uvas” como nos disseram.

Estava um calor maravilhoso! Digno de um dia de primavera. Nas primeiras horas soprava um vento gelado, mas pouco depois estava de tronco nu e queimado pelo sol.

Fizemos uma fogueira com ramos secos, assamos uma morcela e umas belas costeletas (uma heresia, eu sei, na Sexta-feira Santa). E o dia acabou com um magnífico arroz de polvo (feito pela Cláudia) já em casa. É curioso como o polvo é um desconhecido pelos povos mais a norte e até mal visto, pois é têm sempre a sensação que não é saboroso e rijo. Desmistificámos mais uma vez esta crença. Ainda não conheci nenhum estrangeiro que cá tenha estado e que não vá daqui a babar-se por um bom polvo.

Eles partiram no sábado [10 de Abril de 2004] bem cedo. Bem antes de nós acordarmos...

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