... acordei a pensar nos meus amigos de infância e juventude. Aquela gente toda que cresceu comigo, mas que já não veja há anos.
Bem, alguns ainda vejo quando vou visitar os meus pais, como fiz nesse dia. Vi a Sandra, que detestava ser chamada de Matilde (o seu segundo nome) mas que todos conhecíamos como “a filha do socialista” ou só por “a socialista”. Foi uma paixão minha por volta dos meus 17/18 anos... Nunca concretizada!
Também vi o Zé, “o trrrengo”, que carregava nos erres e cuja mãe constava que tinha passado uns tempos no manicómio e era alcunhada de “a maluca”. Ele por herança era “o trengo”. Está com SIDA consequência de uma troca de seringa fatídica. Aparentemente está melhor, mas está longe de ser “o trrrengo” com quem trocava discos de vinil.
Há umas semanas vi a Susana e a Zaira. A Susana, por oposição à Sandra, era “a comunista", porque o pai era do PCP. Obviamente o pai da Sandra era do PS, e durante algum tempo foi o Presidente da Junta. A Zaira era uma rapariga que só mais tarde se juntou ao grupo de amigas da vizinhança. Quando a mãe morreu, ela passou a ter mais liberdade e tornou-se amiga da Sandra, Susana e Xana, o trio de malucas lá da rua.
Nunca mais vi a Xana! Nem a Salomé, uma vizinha, amiga da Zaira que se casou com o primo da Xana.
Nem nunca mais vi o Vitó, o Rui Jorge, o Quim “macaco”, o Berto “leites”, o Nelo “nódoa” e o Luís “gordo”. Às vezes, quando lá vou, ainda vejo o Tó, que se casou e saiu dali e o Marcelo, que saiu agora da prisão por falsificar notas e cujo pai finalmente, depois de morto, reconheceu a paternidade e deixou-lhe uma pipa de massa.
Ainda haviam mais, mas estes eram aqueles com quem fazia sociedade nas festas de Passagem de Ano e Carnaval. Mas, nos últimos tempos em que vivi lá na Mouta, saia com o Paulo e o Jorge, que eram primos do Luís “gordo”. E com o Nelo Moutinho (que por acaso vi ao longe este fim-de-semana). Mas estes eram um pouco mais velhos do que eu.
Mais velhos também era o Telmo, que tinha um olho de vidro e o Leitz que já morreu (de overdose). Aliás a droga foi o que acabou com tudo lá na rua. Aquelas noites de verão sentados no muro e a conversar acabaram porque já ninguém se juntava, uns porque tinham ido comprar droga e outros porque não queriam ser confundidos com os primeiros.
Dos mais novos, tipo o Bruno (que me ficou a dever algum dinheiro), o Alexandre ou o Márito, apenas sei que este último tinha emigrado para Inglaterra. Ainda tentei contactar com ele, mas nunca consegui. O Paulinho morreu com um problema no pâncreas. A irmã Luísa acho que se casou pela terceira vez.
Depois haviam os primos e primas dos vizinhos que lá iam passar uns dias no verão e acabavam inevitavelmente por surgir amores com os “nativos”. Como a Susana, a prima do Rui Jorge, com quem namorei alguns três anos. Nunca mais a vi. Ou os primos do Vitó, a Sandra (outro meu namoro de verão) e o Bruno, que namorou anos com a Elizabete, irmã da Lisete, outras vizinhas.
Aliás a Elizabete era uma amiga muito especial. Era uma amiga com quem eu tinha uma forte relação de amizade, na juventude, e que raramente nos encontrávamos sem que não acabássemos aos beijos. Quando não estávamos juntos não se passava nada. A última vez que a vi foi no meu último ano da universidade, em que ela veio a Aveiro porque namorava com um Aveirense e ficou a dormir em minha casa.
O Quim “do bairro” desapareceu há dois meses e ninguém sabe dele - são novidades destas que recebo quando chego a casa dos meus pais. Bem! O Quim “do bairro” nunca foi muito bem acabado e depois da última vez que saiu de Custóias já não batia muito bem. A última vez que o vi andava a apanhar beatas de cigarro na paragem do 54. Andou comigo na primária.
De todos estes apenas eu me licenciei. Não sei se o Luís “gordo” e o Nelo “nódoa” alguma vez se licenciaram, mas eram bacharéis de engenharia.
Uma vizinhança fantástica que me deram uma infância/juventude cheia de histórias para contar aos meus netos, mas que raramente me lembro por já não ver as personagens tão frequentemente.
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