quarta-feira, junho 23, 2004

Lost in Translation

Este blog está a ficar um bocado deprimente. Ou contestatário, conforme queiram-no ver.

A Cláudia disse-me que ando de novo numa fase em que me custa ir trabalhar. Tem razão! O Miguel mandou-me um SMS a dizer "Os obstáculos parecerão maiores ou menores consoante você for maior ou menor" (Orison Swett Marden). E também tem razão. Na verdade custa-me voltar ao trabalho todos os dias e ver como uma oportunidade dada a Portugal está a ser perdida, todos os dias, em prol da manutenção do poder de alguns. Ou por falta de visão de outros.

Hoje quando acordei e, como de costume, o dia começou com uma deslocação à sanita mais próxima. Agarrei o primeiro livro da prateleira do corredor e agarrei o guia da American Express sobre São Francisco. Abri o livro ao calha e abri-o nas páginas sobre o Golden Gate Park. Quando comecei a ler a parte sobre o jardim Japonês vieram-me lágrimas aos olhos e tive que fechar o livro.

Talvez ande deprimido, não o escondo, mas na verdade sinto-me fechado na minha própria vida. A minha vida está a prazo e eu estou preso por uma série de constrangimentos que não me permitem saber onde exactamente estou na minha vida. Não sei se estou bem ou mal, não sei se devo ficar ou se deva partir, não sei se vou ou se hei-de voltar. (Voltar, volto sempre!)

Temple Gate, Japanese Tea Garden, Golden Gate Park

Mas na verdade o facto de olhar para o meu passado não me vai resolver o meu futuro. Ao olhar o jardim japonês em São Francisco, e que me recorda dois momentos agradáveis da minha vida, não me vai fazer sair do, que como diriam os U2, "You've got stuck in a moment and you can't get out of it". Mas é apenas um momento...

Lost in Translation

Neste momento oiço a banda sonora do filme da Sofia Coppola "Lost in Translation". É bom ouvir os sons de Tokyo e recordar os momentos cómicos e divertidos de lá ter estado, porque os maus momentos já os esqueci. É extraordinário como temos a capacidade de apagar da nossa memória os maus momentos (talvez excepto os traumas). Mas o mais extraordinário é sentir que, como os personagens do filme, num ambiente "hostil" se conseguem divertir e chegam a ter vontade de ficarem "stuck in that moment", eu todos os dias me divirto com os meus colegas e todos os dias sei que continuar aqui é melhor para mim.

Mas a vida é curta e até que ponto não me estou a acomodar e não seria mais feliz noutro lugar ou a fazer outras coisas. Sim! Porque o meu futuro não é fazer software, pelo menos não em Portugal. Portugal é um país muito pequeno para uma empresa de desenvolvimento de software sobreviver, ou se o fizer, dá mais trabalho que dinheiro. Vejam o famoso relatório Porter, encomendado pelo governo de Cavaco Silva, e que apontava como clusters representativos o automóvel, calçado, malhas e produtos de madeira (na indústria), o vinho (agricultura) e o turismo (serviços). Leram software?

Pois! Há quem diga que o relatório Porter está errado e continue a acreditar que nós somos mais baratos a fazer software e que podemos ser o Silicon Valley da Europa. Essas pessoas que vão ver onde está o Silicon Valley.

Eu acredito que o meu futuro vai estar ligado ao turismo sustentável, provavelmente ligado à produção de vinho (porque não!?) e a alternativas de qualidade que façam a diferença aos turismos de massa. Os meus conhecimentos de software claro que me vão ajudar, principalmente no planeamento. Mas isso é a longo prazo! A curto prazo pode ser que vá passar uns tempos a Inglaterra ou mesmo ao Japão. Aprende-se muito e eu aqui, hoje, não aprendo muito. Pelo contrário, desaprendo.

Em breve vos comunicarei, quando sair deste "moment I am stuck in"...

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