Já não me lembro quando foi, mas deve ter sido no fim da quarta classe do meu irmão, por isso no fim da minha segunda. Tinha 8 anos!
Eu nem queria andar. A bicicleta era grande para mim e além disso o meu irmão monopolizava-a. Ele fazia a rua toda sem mãos e até subia passeios sem mãos. Eu acho que tinha inveja e nem sequer queria andar na bicicleta.
Em Agosto de 1979, na praia de Esmoriz, ganhei o concurso de construções na areia do Diário de Notícias. Fiz um barco de areia, com remos de madeira, amarrado por uma alga a um cais, também de areia. Acho que ganhei não pela qualidade do trabalho em si, mas pela originalidade de usar algas e paus que antecipadamente levava no bolso dos meus calções de banho. Tinha quase 10 anos e adorava aqueles calções que tinham um velcro na zona da braguilha.
Lembro-me que estava com os meus pais numa roulotte de venda de comida junto à praia velha de Esmoriz, junto ao bairro dos pescadores. Tive que ir a pé até junto à praia nova, mais a norte, sozinho, para a entrega dos prémios. Na altura não sabia ainda que tinha ganho. Fiquei feliz por ter ganho, mas queria ter ficado com o segundo prémio que era composto pela obra completa d'"Os Cinco", "Os Sete" e a "Colecção Mistério" da Enid Blyton. Eu ganhei uma bicicleta, mas nem sabia andar de bicicleta e gostava de ler aqueles livros de aventura. Além disso a bicicleta tinha quadro de menina.
Uns dois ou três anos mais tarde ganhei num sorteio nacional uma outra bicicleta. Foi num concurso da "Topo Topo", um gelado-bebida muito semelhante ao "Fá", e que estava ligado ao programa de televisão do Topo Gigio, aquele rato idiota italiano que dava na RTP (a única emissora na altura) apresentado por o não menos idiota Rui Guedes (que será feito deste senhor?). Tinha que responder a umas perguntas do Guinness cujas respostas saiam nos gelados e enviar para o sorteio. Um colega meu da escola tinha o Guinness e nem precisámos de comprar assim tantos gelados.
A bicicleta era uma Tip Top. Uma BMX! Foram-ma levar a casa, pois na altura foram apenas premiadas 21 pessoas a nível nacional. O primeiro ganhou uma viagem a Itália e os outros ganharam bicicletas. Eu ganhei a minha terceira bicicleta e nem sequer sabia andar para tirar as fotografias para a posteridade (ainda tenho essas fotos que eu depois postarei aqui).
Uns dias mais tardes decidi que era altura de começar a andar de bicicleta. Aliás aquela BMX era mesmo bonita e fazia a inveja dos miúdos todos da rua. Tinha 13 anos. Saí à rua com a minha Tip Top e segui os conselhos do meu irmão – "Não olhes para a roda da frente". Montei em cima da bicicleta, comecei a andar como se sempre soubesse fazê-lo. Acho que de tanto observar os outros aprendi a andar sem o fazer fisicamente.
Quando ia brincar nunca saía de casa sem ser de bicicleta. Era tão mais simples. Adorava fazer quilómetros e aventurar-me pelos pinhais da vizinhança na minha BMX. Não era muito habilidoso, mas só deixei a Tip Top quando parti o quadro pela segunda vez, quando já nem com a soldadura habilidosa de um vizinho o consegui ressuscitar novamente. Não sei que idade tinha, mas já devia ter uns 16 ou 17.
Já que não podia reaver o quadro, mudei todo o material da Tip Top para a bicicleta que tinha ganho em Esmoriz e que nunca tinha andado. Pintei-a com uns sprays de tinta, para ficar com mais estilo e tinha uma bicicleta nova. Uma BMX com quadro de senhora de passeio e pintada de verde às pintas amarelas. Só visto!!!!
No entretanto também dobrei o quadro da "pintas" e mudei-me para a Universidade de Aveiro. Durante 4 anos não tive bicicleta alguma. Andava aqui ou ali com as bicicletas de amigos, mas não tinha capacidade de comprar uma para mim. Além disso Aveiro é uma cidade pequena e fácil de percorrer a pé.
No último ano do curso [1994], quando já trabalhava a dar aulas na Esc. Sec. José Estêvão em Aveiro, comprei uma BTT. Como ia dar aulas de bicicleta, os alunos chamavam-me o "BTT" (esqueci-me desta alcunha no outro post). Era uma Marvil e tinha 21 velocidades Shimano. Essa compra tem uma longa história associada, mas isso fica para outra vez.
Novamente o quadro sofreu danos irreparáveis na preparação de uma prova de orientação em BTT na Serra do Sicó, em 1996. A organização pagou-me parte do quadro e comprei um Sunn Revolt 2, novo. A minha primeira bicicleta não nacional. O brilho dos meus olhos.
Era linda. O quadro era uma edição especial polida e envernizada. Pedi a um amigo para me mandar uma suspensão RockShox dos Estados Unidos. Raiei eu as rodas e montei todas as peças com o maior carinho. Era a MINHA bicicleta. Toda feita com o melhor material que o meu dinheiro podia comprar. Linda!
Foi minha companheira de muitas provas e passeios. Acho que foi a bicicleta que mais quilómetros fez comigo fora de estrada e que me fez gozar mais adrenalina. Desde Serpa a Beja, Chaves a Vila Real, Marvão a Portalegre, em Aveiro, em Castelo de Vide ou em Entre-os-rios, ajudou-me a ganhar algumas taças e medalhas, mas acima de tudo fez-me um amante da natureza e do prazer de chegar cada vez mais alto.
Mas como todas as anteriores teve que "morrer". No final do verão de 1999 tive que trocar o meu belo quadro polido por um outro, porque tinha havido um problema no envernizamento e o quadro começou a ganhar ferrugem nas soldaduras. Felizmente um dos importadores da Sunn (na altura) é meu amigo e numa visita à fábrica, em Andorra, trocou-me por um quadro Urge Un Flex.
Até pouco antes eu trabalhava na Sociedade Comercial do Vouga, o importador nacional da Shimano, e graças a uns contactos e umas amostras consegui montar a bicicleta com o de melhor havia no mercado, quase sem custos. A bicicleta só ficou pronta, como está agora, em Janeiro de 2000, uma semana antes de voar em direcção às minhas aventuras na Califórnia. E a Vaynessa, o nome que dei a esta bicicleta, acompanhou-me quase para todo o lado e em todo o tempo que estive no Golden State.
Isto tudo porque pedalei na Vaynessa para o trabalho. Depois de algumas semanas parada, porque dobrei a ponteira do quadro num tombo, finalmente arranjei-a e já posso de novo usar a Vaynessa como meio de transporte.
Já não ando tanto como andava há uns anos e já não me dedico tanto à bicicleta como o fazia na altura da Revolt 2, mas continuo a fazer uns quilómetros de vez em quando. Com o maior dos prazeres.
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