domingo, maio 02, 2004

Inspiração

Hoje [Domingo, 02 de Maio de 2004] no jornal Público vem um artigo sobre o Luís Pato, o pai da Filipa. Aliás o artigo inclui uma parte sobre a filha... Mas na verdade é bom ler coisas que nos dão razão e vindas de alguém com a experiência do Mr. Baga da Bairrada (como é chamado no artigo), dá-nos força, porque às vezes chego a pensar que estou só e errado.

Luís Pato

Gosto especialmente de frases como "não é Portugal que é pequeno, os seus vinhos é que podem ser grandes lá fora se os produtores estiverem dispostos a ceder na sua orgulhosa auto-insuficiência" que me fazem pensar até que ponto é que isto não se pode aplicar a empresas como a que eu trabalho. Porque não ceder e deixarmo-nos ajudar? Mas com ideias! Não podemos ficar eternamente à espera dos subsídios.

"Sempre tivemos um espírito de pobreza e aí o salazarismo foi marcante, na falta de rasgo, de perspectiva." Porque temos sempre que pensar como pensava Salazar quando dizia "Orgulhosamente Sós"? Sermos portugueses já não acaba em Vilar Formoso, podemos sê-lo em qualquer parte do mundo e as fronteiras acabaram há muitos anos. O mercado é o mundo! E sozinhos não vamos a lado nenhum... Especialmente quando a União Europeia passou a ter quase o dobro das nações e o dobro dos mercados. O "orgulhosamente sós" aplicava-se quando o Salazar sabia que ao pertencer a qualquer comunidade teria que ceder o seu poder. O mesmo se aplica à direcção de algumas empresas que acham que pertencer a uma organização europeia implica perda de poder, quando juntos teremos muito mais poder para negociar com organizações maiores. Portugal é pequeno em telecomunicações, mas a Europa é suficientemente grande para competir com o Japão, Estados Unidos ou China.

"Muitos dos meus colegas produtores achavam caro viajar". Para mim esta traduz em muito a perspectiva da maioria dos gestores portugueses. Todos os anos vão de férias para o Algarve, ou para o local habitual, porque é aí que têm a sua casa de praia, e não conseguem aperceber-se que perdem as referências e não conseguem introduzir ideias novas. Quem se limita ao território nacional "não tem padrões de comparação, só faz o que sempre fez, não evolui nem quer evoluir".

Depois há a inovação. "Cultivo a inquietação. Quando deixar de fazer experiências, deixo de ser Luís Pato." Onde há inovação em Portugal? Nós fazemos o que nos mandam e não temos tempo para procurar ideias novas. Além disso não as procuramos porque as nossas referências continuam a ser os vizinhos da mesma rua. É surpreendente como numa empresa de tecnologia de ponta como a que trabalho continue a comparar-se a empresas da mesma rua e não a empresas do mesmo mercado e dimensão.

Somos pequenos, vemo-nos como tal e aceitamos que assim somos. Felizmente há bons exemplos de quem procura a excelência - "quero ser o melhor, não o maior" - em vez de se vender mais barato. E melhor é ver que este exemplo vem de uma região marcadamente conservadora e tradicionalista, uma "região imbuída de orgulho pela sua tradição vinícola", mas onde há excepções.

Há esperança!