quinta-feira, maio 06, 2004

Acerca dos nomes...

Ando a ler uma mini-série de banda desenhada chamada "The Books of Magic" (a primeira) em quatro números e escrita por Neil Gaiman, o escritor de Sandman, uma das mais aclamadas séries da banda desenhada actual. Esta é uma obra inicialmente editada em finais de 1990 e inícios de 1991, uma meia dúzia de anos antes do Harry Potter, mas que tem algumas semelhanças com aquelas histórias. É também a história de um miúdo que entra para o mundo da magia, mas aqui a história tem contornos muito pouco perceptíveis a menores de idade, pois o miúdo vive no nosso mundo e é levado a conhecer o lado negro da magia a ponto de quase não retornar.

The Books of Magic #1 The Books of Magic #2 The Books of Magic #3 The Books of Magic #4

Mas isto para falar dos nomes. Acontece que uma das primeiras coisas que o Timothy Hunter (é o nome do miúdo) aprende, e que é constantemente dito ao longo da sua caminhada pelo mundo da magia, é que saber o verdadeiro nome de uma pessoa é ter poder sobre ela, e que esse apenas pode ser revelado à aqueles que realmente confiamos.

Eu não concordo com esta perspectiva, porque se calhar não vivo no mundo da magia, mas na verdade há muita gente que não me conhece pelo verdadeiro nome e nem sequer imagina qual é.

A Cláudia no outro dia disse "quando ele ainda era Mané", mas na verdade ainda sou Mané para toda a minha família e antigos vizinhos na Maia. E a maioria dessas pessoas nem sabe e nem imagina que me chamo Rui, pois o Mané vem do meu segundo nome Manuel (e não de tolo ou palerma). Ainda há umas semanas encontrei a Susana e a Zaira, minhas amigas de infância e elas cumprimentaram-me como Mané.

Mas a Cláudia tinha razão, porque esse foi o "nome" que me acompanhou toda a infância e juventude. Só deixei de ser Mané, para a maioria dos meus amigos, quando vim estudar para Aveiro. Aliás em Aveiro apenas o meu primeiro colega de quarto – o Quim - é que me chamava esse nome e apenas por influência do meu irmão. Mas já voltamos a Aveiro.

No entretanto, na escola secundária (Fontes Pereira de Melo) era conhecido por "Canário". É cómico mas nunca me importei que me chamassem por alcunhas, desde que estas fossem usadas com respeito. Acho que é preferível assumir-mos as razões porque nos chamam esse nomes e aceitarmos as alcunhas, do que as usarem nas nossas costas para nos ofenderem. Ainda hoje o Miguel (Monteiro) me trata por "Canário" e foi por causa disso que me lembrei de escrever isto.

Mas se "Canário" pode parecer depreciativo, pois estava ligado ao facto de eu usar constantemente um casaco amarelo nesse tempo, a minha alcunha na universidade é bem mais chocante e prende-se ao facto de usar sempre cabelo comprido. Ainda hoje há (mesmo) muita gente que me chama "Lóló" porque não sabe o meu verdadeiro nome. E até a minha irmã, que veio para Aveiro depois de mim, herdou a alcunha.

Há um tipo que reclama que o "Lóló" vem do facto do meu irmão ser alcunhado de "Lúlú" (Luís) na Universidade de Aveiro, mas nada tem a ver. A verdade é que quando me mudei para Aveiro, em 1989, a cidade e a universidade eram muito conservadoras e tirando o (Luís) Pitta mais ninguém usava cabelo comprido. Por azar (ou por sorte) eu mudei no ano em que os caloiros só entraram em Janeiro, devido a greves dos professores, pelo que eu era um dos únicos caloiros na universidade, usava cabelo comprido e frequentava as aulas do segundo e terceiro ano de Electrónica. Era visível em qualquer ambiente, o que provocou algumas invejas.

Acontece que como caloiro (estrangeiro) ninguém sabia o meu nome, mas sabiam quem eu era. E era normal dividir a gasolina com uns conhecidos, à sexta-feira, para ir para o Porto. Numa dessas sextas-feiras, o João (Guerra) e o Novais dividiam os interessados na boleia pelos seus carros e o João para explicar quem era o tal Rui que ia com o Novais, chamou-me de "Lóló".

Primeiro foi uma alcunha um pouco depreciativa, mas com o tempo o João e todos aqueles que me viam com maus olhos, tornaram-se os meus melhores amigos na universidade e a alcunha passou a ser um termo carinhoso.

E é bonito ver um amigo telefonar para o meu local de trabalho e perguntar pelo "Lóló". Como eu não estava pediu para falar com o "Pipa" (Sérgio Santiago). E como ele também não estava pediu para dizer que era o "Vitó".