Por vezes é tão ténue a linha que separa o azar de uma sorte tremenda. E às vezes é tão pouco distante a fronteira que separa um momento feliz de um tremendamente desagradável.
Este fim-de-semana, o tal fim-de-semana em que ia com uns amigos andar para a Serra da Freita, vi-o por diversas vezes e na verdade acho que tive mais-sorte-que-juízo e não tive a clareza de espírito para saber destinguir um mau momento de um fim-de-semana em que tudo correu mal.
Na verdade é que fiz bastante para que tudo resultasse e tudo correu da pior maneira possível. Para a maioria nem foi assim, mas para mim e para a Cláudia foi decididamente um fim-de-semana para esquecer. Aliás esquecer era o objectivo do próprio fim-de-semana, pois queríamos estar no seio do nosso grupo de amigos, fazer o que gostamos de modo a esquecer os maus momentos que ultimamente teimam em povoar a nossa vida. Porém foi precisamente o contrário o que aconteceu. Se havia alguma coisa que poderia correr mal, essa situação aconteceu.
No sábado [24 de Julho de 2004] estava um calor tremendo, mas mesmo assim fomos andar de bicicleta. Eu fui ficando para trás a acompanhar os mais lentos, que nem sequer chegaram ao fim, mas foi o bastante para perder o meu ritmo e ficar completamente estoirado. A meio da volta caí, com tal violência, que foi muita sorte não me ter magoado mais. Tenho um tendão na perna direita que me dói, penso que devido à tensão dos pedais no momento da queda. E a perna esquerda está bastante mal tratada por ter sido a primeira parte do corpo a tocar o solo, amparar a queda e a travar-me. Em cima de pedras. A bicicleta ficou (mais uma vez) com o drop-out torto, mas mesmo assim ainda aguentou mais uma dúzia de quilómetros. Foi uma sorte não ter sido pior. Foi um azar ter caído? Ou foi desleixo ou inconsciência?
No domingo [25 de Julho de 2004] a sequência de eventos levam-me a pensar que se calhar tenho que ir à bruxa. Talvez seja a nossa percepção negativista dos eventos, que visto à luz dos últimos azares, parecem apenas mostrar que existe um padrão negativo que comanda a nossa vida. Começo a ter medo de estar com outras pessoas, pois parece que isso faz com que os que me rodeiam sofram da mesma maleita.
Foi muito mau. Talvez para os demais não tenha sido, mas para nós foi. Desde metermo-nos por estradas de terra, com 30º lá fora e à procura de um banho num rio que parecia não existir. Uma estrada infindável e becos sem saída com muros de cada lado, que me fizeram partir umas luzes traseiras do jipe numa marcha-a-trás mal controlada.
Mas o pior foi quando, para tentar apanhar uns amigos que se enganaram, fiz uma subida íngreme a puxar pelo jipe e este, por avaria da ventoinha de refrigeração do radiador, entrou em sobreaquecimento. Quando vi o ponteiro da temperatura do motor, o mundo desabou à minha volta. O motor deixou de funcionar e o capot deitava fumo por todo o lado. Esperámos o pior.
Ficámos ali parados numa estrada, no fim do mundo, à espera que arrefecesse. Felizmente tínhamos um garrafão de água no jipe. Não para apagar um eventual fogo no carro, porque temos extintor (embora comece a pensar que ele não iria funcionar), mas porque conseguimos baixar a temperatura do motor. O motor trabalhou e fizemos o resto da subida parando quantas vezes fosse preciso para esperar que o motor voltasse à temperatura normal.
Telefonámos aos 20 amigos que ficaram a almoçar em Covas do Monte, para os avisar do sucedido e voltámos a Aveiro com o coração nas mãos e um nó na garganta. Fomos tentando reagir como melhor sabíamos, mas é difícil ser-se forte quando sucessivamente somos maltratados pela vida.
Na verdade até que ponto o problema não foi gerado por nós ao não levarmos o jipe à revisão e por isso não se ter dado conta da avaria da ventoinha de refrigeração do radiador? Se calhar fomos inconscientes. Foi azar? Ou foi muita sorte o carro não ter queimado a cabeça do motor, ter colado os pistões e neste momento estar a caminho do ferro-velho? Se calhar no azar tivemos sorte (saberei na quarta quando for à revisão).
Quando chegámos a Aveiro fomos para a praia. Já estávamos mais confiantes, mas quando mergulhámos no mar... Fomos puxados pela corrente e estava a ver que de novo estávamos numa situação má! Felizmente uma onda varreu-nos o azar e levou-nos até à praia.
O dia acabou bem! Acabou com umas sardinhas numa esplanada de um restaurante na Costa Nova. Tivemos sorte em ainda servirem àquela hora e tivemos sorte porque as sardinhas estavam óptimas.
Há esperança!
1 comentário:
Que exagero... isto não é ser-se maltratado pela vida... é apenas mais uma história para se contar aos netos.
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