quarta-feira, agosto 30, 2006

A minha vida dava um filme do Alfred Hitchcock (pt. 9)

Há cinco meses atrás, durante uma formação, tinha telemóvel em silêncio e recebi uma chamada sem me ter apercebido e, portanto, sem atender. Deixaram uma mensagem na caixa de voz e fui ouvir... Era a senhora da Fodicis que me tinha ligado há duas semanas exigindo que eu pagasse o empréstimo, que não fiz, e que eles aceitaram com documentos claramente falsificados com os meus dados pessoais. Deixou uma mensagem pedindo para eu ligar de volta para saber se havia alterações ao processo do Mistério Púbico.

Eram cerca das 18:15, quando fizemos o intervalo, e eu retribuí a chamada. Não devia, porque afinal de contas não tinha contraído nenhum empréstimo e estava a entrar em despesas por culpa da falta de rigor da Fodicis. A senhora não estava e atendeu-me um homem:
- "Por favor diga-me o seu número de contribuinte!" - pediu-me ele - "Aguarde um momento para poder aceder ao seu processo..."
Aguardei, embora renitente, porque afinal de contas era eu que estava a pagar a chamada.
- "Então diga-me Sr. Rui, quando é que pensa pagar aquilo as prestações em atraso?" - perguntou ele, com um tom meio ameaçador. Eu pensei, que das duas uma, ou ele não sabia nada do caso ou então estava-se a fazer de ignorante, uma vez que era das cobranças.
- "Como já expliquei à sua colega, não faço intenção nenhuma de pagar nem um tostão desse empréstimo, aliás porque não fui eu que o contraí..." - disse eu, tentando manter a calma – "... e porque ele só existe por um erro dos vossos serviços, porque se tivessem dois dedos de testa teriam visto que as cópias dos documentos apresentadas são falsas, aliás como já provei quando aí fui, às instalações da Fodicis, mostrar os meus documentos pessoais. E..."
Ao que fui interrompido, em tom mais agressivo:
- "Pelo facto de ter mostrado os seus documentos não prova que estes sejam falsos, porque os seus podem ser segundas vias." – disse ele, mostrando claramente que nunca tinha olhado nem para uns nem para os outros – "E acha que pelo facto de dizer, a um juiz, que estes documentos são falsos, ele lhe vai dar razão?" – continuou aumentando o tom da voz , porque eu tentei falar, e falando com ar jocoso. E continuou – "A Fodicis não é uma entidade de peritagem de identidades."
- "Mas posso falar?" – perguntei eu, já perdendo a calma e ficando algo alterado. E fiz um pequeno período de silêncio, para que ele me pudesse responder.
- "Sim! Diga..." – disse a voz do outro lado, algo alterado, também.
- "Eu estou a telefonar porque a sua colega me telefonou a averiguar se havia dados novos sobre os meus contactos com o Banco BETS no sentido de esta entidade confirmar o facto de a conta, naquele banco também ter sido aberta com os documentos falseados, uma vez que à data de abertura não era obrigatório a presença do cliente." – disse eu tentando acalmar-me – "Isto porque a sua colega disse que estava na eminência de divulgarem o meu nome ao Banco de Portugal..."
- "Oh, meu senhor! O seu nome há muito está no Banco de Portugal!" – disse ele, não aguentando mais estar calado, interrompendo-me e com um arzito de gozo. E continuou, em tom ameaçador – "O que está aqui em causa é se o senhor paga ou não o que deve?"
Nesse momento, a minha paciência tinha-se esgotado e a minha calma evaporado e apenas rematei:
- "Como já lhe disse não vou pagar nem um tostão desse empréstimo, por isso, se quiserem avançar com a sua cobrança coerciva, até agradeço, porque ainda tenho a receber uma indemnização por causa disso, incluindo uma parte por este telefonema. Boa Tarde!" E desliguei, mas não consegui voltar à sala de formação, sem apanhar uma golfada de ar e acalmar-me.

Quando cheguei a casa nessa noite, ainda algo alterado com a incompetência e prepotência do tipo, escrevi dois e-mails a duas amigas advogadas explicando a situação desde o início. Depois de uma breve troca de mensagens, com as duas, foi-me sugerido que expusesse o caso ao Banco de Portugal, a entidade reguladora do sector bancário, e fizesse uma queixa por violação de regras de segurança e diligência contra as duas instituições, a Fodicis e o Banco BETS.

A queixa seguiu há duas semanas, depois da recepção da notificação do Mistério Púbico dando conta do arquivamento dos autos do processo uma vez que a investigação não resultou em indícios suficientes sobre a identidade do autor do crime. No mesmo dia seguiu uma carta para a Fodicis, com a mesma notificação e expondo este episódico telefonema, que agora penso ter enterrado.

Mas ainda há um outro episódio para contar. Aguardem!

terça-feira, agosto 29, 2006

: : : 1-big-O [v20.1]

Se gostaram das minhas fotos de que vos falei ontem, podem ver as outras que já tirei e que se incluêm no mesmo trabalho fotográfico. Podem ver a fotografia do ensaios FP branco 2005, do Lokal Calcário 2003, do Lokal Silex 2004, do ensaios FP Tinto 2004, do FLP ou do Espumante 3b.

Mas ainda melhor que fotografar as garrafas é abri-las e beber... Em breve aparecerão aqui as fotografias dos copos... Vazios!

segunda-feira, agosto 28, 2006

: : : 1-big-O [v20.0]

Há uns tempos a Filipa Pato pediu-me para fazer um trabalho fotográfico sobre um ano de vindima. Há uns meses fui tirar fotografias à vinha, antes desta começar a rebentar, mas chovia e eu andei, uma manhã quase toda, a tirar fotografias sem memória na máquina e das poucas fotografias que tirei poucas se aproveitaram.

No entretanto a vinha cresceu e nasceu o Baltasar e as coisas ficaram paradas. E, como já toda a gente sabe andei algo ocupado entre fraldas e noites mal passadas. Mas a semana passada a Filipa telefonou-me, no dia em que cheguei de "férias", porque no dia seguinte ia fazer a vindima para o espumante. E eu fui tirar fotografias na manhã do meu dia de nascimento (ou de aniversário).

Depois de uma noite atribulada, porque o Baltasar fica sempre um pouco alterado com viagens (ainda não se habituou), quase com o sol a pino (porque eu cheguei tarde) e sob 32º C, lá se fizeram umas fotos da apanha da uva para espumante.

Vindima de Espumante 2006

Da sessão resultou um conjunto engraçado de fotografias que podem ver mais em pormenor aqui ou aqui.

Para aqueles mais curiosos, e que acham estranho apanhar a uva tão cedo: apanha-se agora a uva para espumante de modo a libertar a uva que será usada para fazer o vinho, para que esta mature melhor. Chama-se a esse processo "monda" (está-se sempre a aprender)!

domingo, agosto 27, 2006

O resto da conversa com...

... António Câmara, Prof. da FCT-UNL e CEO da YDreams, que comentou o meu post "Inovar é Preciso" de há umas semanas atrás.

RGa: Eu compreendo que o artigo que escreveu tem de ser muito limitado em extensão, e por vezes não é possível explicar tudo convenientemente, mas não fui o único a interpretar que se referia a Lisboa, não como a única, mas a mais provável região para que seja mais "vibrante e rica". Eu simplesmente dei a minha opinião, mas em conversas com alguns amigos e empreendedores locais, a verdade é que foi unanime que se tratou de um artigo típico do "autismo" próprio de quem está em Lisboa e não consegue ver o resto do país, provavelmente porque há outras regiões com o mesmo potencial e que precisam mais de ajudas concertadas do que Lisboa, que já tem bastantes.

AC: Houve uma interpretação errada mas não acho que Lisboa tenha ajudas concertadas. Aliás neste momento temos menos acesso a fundos europeus do que as outras regiões do país.

RGa: Acha possível uma estratégia concertada como a de Barcelona em Portugal? Eu acho que os empresários portugueses, na maioria dos casos (as generalizações são sempre uma armadilha perigosa) estão mais preocupados com os lucros mais imediatos do que com o futuro e uma medida dessas demora muito tempo a criar retornos. [...]

AC: Tanto é perfeitamente possível ter uma estratégia concertada que em combinação com algumas das maiores empresas portuguesas (em que apenas uma é de Lisboa), grupos universitários de classe internacional, e uma grande grupo económico, estamos a montar uma. Será divulgada em meados de Setembro.

RGb: Obrigado pela resposta! Não vou argumentar mais, vou esperar pelo anúncio, da estratégia que fala, em Setembro. Espero sinceramente que funcione e produza os resultados esperados, e que os ultrapasse mesmo.

RGa: Como é que nunca se referiu a ajudas externas e nem do estado quando diz que em Barcelona "os impostos sobre rendimentos na região foram também reduzidos para atrair residentes estrangeiros baseando-se numa tarifa plana de 20%"? Não será o estado, ou as autarquias como parte do estado, responsável por esta redução dos impostos? Posso não ter percebido, porque não tive tempo de seguir o link, mas as universidades, empresas ou bancos suportam o restante valor dos impostos? A verdade é que com essa frase entende-se que se espera ajuda do estado...

AC: A redução de impostos beneficia uma região: atrai investimento, gera empregos e acaba por criar um rendimento superior (que apesar de taxado numa menor percentagem acaba por contribuir para uma receita publica superior como é o caso das experiências bálticas, EUA e até Barcelona).
Num cenário em que qualquer empresa se pode localizar onde quiser não é uma ajuda; é uma condição de partida. Aliás veja-se onde se localizam as sedes das maiores empresas portuguesas.
Por isso em vez de ajudas na forma de subsídios (a que não aludi), o que pretendia dizer é que o governo deve criar condições de partida competitivas.


RGa: Concordo plenamente que ainda não existem Universidades de classe internacional em Portugal. E infelizmente continuo de acordo quando diz que o problema " fundamental reside no actual sistema de gestão de recursos humanos". [...]

RGa: Por fim UK e USA. Não tive noção que no UK fosse assim, mas nos EUA, não me surpreende. A verdade é que neste momento penso que no UK (e nos EUA) a maioria dos funcionários são talentos importados. [...]

RGa: Há uma coisa que depois foca no seu artigo a seguir, que para mim Lisboa-cidade não tem, qualidade de vida. Comparativamente a São Francisco, que é pouco maior que o Porto, Lisboa é demasiado grande, demasiada poluída (este verão até houve graves problemas nos arredores) e o nível de vida é demasiado alto para os ordenados.

AC: Essa é uma opinião subjectiva. Os portugueses e estrangeiros que trabalham na YDreams adoram a qualidade de vida na Caparica (onde temos a praia a 5 minutos) e de Alcântara (onde temos os escritórios comerciais).

RGb: Quanto a Lisboa, não me interprete mal, eu adoro Lisboa, onde passei muito tempo na minha juventude. Mas comparativamente com Aveiro, a qualidade de vida pode ser inferior. E claro, a Caparica é diferente... Mas tudo isto é sempre subjectivo!

terça-feira, agosto 22, 2006

A prenda que eu queria...

ToPeak Bikamper


Provavelmente nem a usaria, mas que é linda... É!

O meu nascimento (não é aniversário, notem bem)!

Eu


Era uma vez num país muito distante... Podia começar assim, mas não! Os meus pais numa viagem pela metrópole decidiram, algures entre Vendas Novas e Lisboa (segundo eles), que o meu irmão, recentemente nascido, não poderia passar sem um irmão (aliás, uma irmã, era o plano).

Uns meses depois (naquele tempo podiam-se tirar férias de 6 meses) retornaram a Moçambique, de navio (acho que é daí que vem a minha paixão pelas viagens e em especial pelo mar). E, depois de uns 9 meses de gestação, nasci eu, em pleno Inverno de Agosto, quando tinha já sido feito no Inverno de Dezembro. Cruzei os dois hemisférios, e passei o equador, sem ainda saber o que era este mundo.

terça-feira, agosto 08, 2006

We Hate It When Our Friends Become Successful

Não é muito o meu feitio, mas a verdade é que nos faz pensar!

"We hate it when our friends become successful,
We hate it when our friends become successful.

[...]

You see, it should have been me.
It could have been me.
Everybody knows, everybody says so.
"

"We Hate It When Our Friends Become Successful" - Morrissey Ouvir excerto

segunda-feira, agosto 07, 2006

Inovar é Preciso

Há umas semanas, mais precisamente a 8 de Julho, no caderno Económico do jornal Expresso, na coluna de opinião "Inovar é Preciso", o Prof. da FCT-UNL e presidente da YDreams, o mediático (nem por isso inovador, como irão ver, como a maioria dos que escrevem nessa coluna) António Câmara (asc@mail.fct.unl.pt) dizia:

"Talentos e Regiões
Lisboa é bem mais atractiva do que a maioria dos portugueses pensa

Paul Graham em How to be Silicon Valley (ver http://paulgraham.com/siliconvalley.htmI) enumera quatro factores decisivos para o sucesso das regiões na economia de conhecimento: a existência de universidades de classe mundial; investidores, talentos e exemplos de empreendedores de sucesso.

A ausência de apenas um dos factores explica o insucesso de cidades como Pittsburg e New Haven, segundo Graham. A primeira tem Carnegie Mellon University e talento abundante. Mas poucos são os investidores que querem viver na inclemente Pittsburgh. New Haven tem o talento de Yale e em Connecticut reside um número substancial de investidores, mas não existem exemplos de empreendedores bem sucedidos. Entre os quatro factores, a atracção de talentos é certamente o primordial. As principais universidades e empresas americanas têm recrutado investigadores, inventores, artistas e gestores em to do o mundo desde a 2a Guerra Mundial. Este talento atraiu o investimento que ajudou a criar riqueza.

Na última década, países e, sobretudo, cidades europeias acordaram para a necessidade de reter os seus talentos e atrair os provenientes de outros locais. Por exemplo, a Irlanda tem hoje programas como as Young Presidential Investigator Awards para apoiar os seus jovens cientistas mais talentosos. Dublin oferece até ateliês para os mais prometedores arquitectos internacionais.

Na vizinha Barcelona, criou-se uma iniciativa (http://www.bcn.es/22@bcn/) para transformar a cidade num magnete de talento mundial nas áreas dos novos «media» e biotecnologia. Essa iniciativa associa as principais universidades, empresas e entidades bancárias de Barcelona. Os impostos sobre rendimentos na região foram também reduzidos para atrair residentes estrangeiros baseando-se numa tarifa plana de 20% (muitos dizem que na origem deste valor estão os casos dos talentosos futebolistas e técnicos estrangeiros do principal clube local). A recente instalação do laboratório europeu de investigação da Yahoo demonstra a crescente atractividade da cidade.

Tendo passado este último ano a recrutar talentos (alguns deles internacionais) para a YDreams, verifiquei que a região de Lisboa é bem mais atractiva do que a maioria, dos portugueses pensa. Uma estratégia concertada entre , actores como os referidos para o caso catalão ajudaria certamente a criar uma região mais vibrante e rica.
"

Eu não pude deixar de comentar, e umas duas semanas depois, quando gozei de uns minutos entre fraldas, choros ou banhos do Baltasar, escrevi um mail ao "inovador" Sr. António Câmara. Nunca recebi uma resposta.

"Boa noite,

Desde o seu início que tenho lido a coluna "Inovar é Preciso" no caderno Económico do Expresso. Por diversas razões, porque que nutro uma especial admiração pelo Nicolau Santos, porque tenho interesse em saber o que pensam os mais mediáticos gestores da novas tecnologias em Portugal... Porque penso que, depois de ter trabalhado nos Estados Unidos, Inglaterra e Japão, posso comparar maneiras de pensar destes com a minha experiência.

Por isso, o seu artigo de 8 de Julho suscitou o meu interesse, mais do que é normal. Porém, entre as fraldas e os choros do meu recém-nascido filho não me foi possível comentar mais cedo, embora o tenha comentado entre amigos algumas vezes.

Confesso que o artigo me abriu o interesse pelo estudo feito pelo Paul Graham, mas ainda não tive a hipótese de me dedicar ao mesmo. Uma vez que me inscrevi esta semana numa pós-graduação em gestão, penso que estas fontes de informação são sempre de guardar para posterior análise. Mas o que mais me impressionou no seu artigo foi a comparação entre Barcelona e Lisboa, ou o assumir que Lisboa teria exemplos de empreendedores de sucesso, ou ainda que as empresas possam gozar de estratégias exteriores em vez de essa função passar pelas próprias empresas.

Assim e começando pela analogia entre Barcelona e Lisboa, poderemos ver que Barcelona terá adoptado a referida estratégia de transformar a cidade num magnete de talento estrangeiro, porque Madrid, a capital espanhola, não precisa dessa estratégia. Ou seja, Lisboa, como capital portuguesa, provavelmente não precisasse tanto dessa estratégia como outras cidades portuguesas. Além de que Lisboa é sem dúvida a cidade portuguesa com maior percentagem de estrangeiros em Portugal, pelo que adopção de uma taxa plana não iria trazer mais atracção a estrangeiros (ou ia definir o que era um talento de um qualquer imigrante?). Além disso, a YDreams não fica no distrito de Setúbal?

Depois enumere-me os empreendedores de sucesso em Lisboa... Assim de repente lembro-me como grandes empreendedores em Portugal, os nomes de Belmiro de Azevedo, Rui Nabeiro ou Américo Amorim e parece-me que nenhum deles é de Lisboa. Parece-me que Lisboa, é verdade, goza dos outros três factores, mas este sinceramente não é o melhor exemplo que obtemos de Lisboa.

O que nos leva ao meu terceiro comentário, acho que em Lisboa, e em Portugal, as empresas continuam à espera que sejam elementos exteriores os elementos de mudança e melhoria das suas estratégias. Confesso que quando trabalhei na Bay Area de San Francisco (tecnicamente não trabalhei em Silicon Valley), na mesma empresa onde trabalhou o vosso colaborador A.A.* (que conheci lá), eram as empresas as principais responsáveis para a fixação dos seus quadros, estrangeiros ou não. Além de que, como deve saber, Silicon Valley não é um exemplo de sustentabilidade, e como deve saber poucas são as empresas que sobreviveram ao pós-911 e à era Bush. E não estou a falar em criar bem estar só dos gelados Haggan Das (que também sei já não são normais nem na YDreams).
Permita-me este comentário, sem que não deixe de concordar com algumas coisas que diz, mas não para a região de Lisboa. Sim! Porque a Critical consegue fixar talentos estrangeiros em Coimbra, sem ajudas de "uma estratégia concertada" de actores referidos. Aveiro, com a sua qualidade de vida, poderia fixar esses talentos se se encontrassem investidores interessados (coisa que em Lisboa não falta). Ou Braga que sem ajudas vai todos os dias aumentando o número de talentos que por lá se fixam. Ou pergunte ao seu colaborador P.P.* se não preferia trabalhar numa zona mais periférica de Lisboa (fizemos BTT em tempos).

Confesso que Inglaterra, sem o sol que tanto gostamos, consegue neste momento ser o maior íman de talentos na Europa e não goza de nenhum estatuto especial para estrangeiros como Barcelona. Será porque a estratégia das empresas não passa por aí? Passa por outras... E sou-lhe sincero se por razões de qualidade de vida gostava de ter ficado a viver no norte da Califórnia, em condições de trabalho (ordenado, formação, organização de trabalho, liderança, objectivos...) preferia trabalhar na Inglaterra. Mas optei por retornar a Portugal, para poder aqui aplicar os conhecimentos e a experiência que adquiri.

Infelizmente, por excesso de currículo, estou desempregado... Assim se fixam os talentos em Portugal!

Cumprimentos
Rui
"

De qualquer maneira o artigo gerou discussão, o que é sempre muito bom!

* Os nomes foram substituídos pelas inicias por questões de privacidade das pessoas em causa.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Esclarecimento ao Rodrigo

Serve o presente post para esclarecer o Sr. Rodrigo, que anonimamente, decidiu comentar o meu último post e de alguma maneira me insultar.

Começo por comentar o facto de me acusar de ter escrito que a tradução teria sido feita por um brasileiro, o que não fiz, pois o que está lá escrito é "à brasileira" e não "por um brasileiro". Ou seja, eu nunca acusei nenhum cidadão de nacionalidade brasileira de ter efectuado a tradução. O que fiz foi associar ao facto do uso típico do "te" antes do verbo, pelo brasileiros (como em "te amo" ou "te insulto"), a uma tradução mal feita para português, aliás usando o também típico "você" tanto usado no português do outro lado do oceano. Obviamente, e com a utilização massificada destes brasileirismos, na língua portuguesa deste lado do oceano, é muito provável que a tradução até tenha sido feita por algum cidadão de nacionalidade portuguesa. Ou até, quem sabe, pelo próprio dono da tenda (vêem até eu estou a usar uma palavra espanhola para definir um estabelecimento de venda). Não interessa para o caso!

Mas a declaração mais grave, feita pelo Sr. Rodrigo, prende-se com o facto de eu ser racista. Confesso que tenho muitos amigos e todos eles são da mesma raça – da raça humana. Uns são brancos, outros pretos, alguns amarelos e até tenho amigos que devem ter sangue vermelho. Porém acho que o difere os portugueses dos brasileiros, e o que está aqui em questão, não é uma questão de racismo. E contesto veemente a acusação, aliás porque tenho diversos amigos brasileiros. E, até ponho o meu corpo nas mãos de um brasileiro preto, que considero meu amigo, para que de duas em duas semanas me espete agulhas, em sessões de acupunctura. Se calhar ele é racista? Porque eu não sou xenófobo.

Sim! Sou burro. Confesso que não sou um "sabixão" (em português escrever-se-ia Sabichão, mas...) e nem tento ser. Sou estúpido e talvez o facto de aqui estar a responder só me torna mais estúpido, mas acho que acusações deste género, cobardemente prenunciadas, são típicas de pessoas que me acusa ser, e não pretendo dar-lhe razão.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Lost In Translation

Ontem fui à Viagem Medieval em Terras de Santa Maria. Numa tenda que vendia ervas aromáticas e terapêuticas, junto a um cesto com uma quantidade enorme de uma erva esverdeada, dizia num placar em espanhol, a língua materna do dono da tenda - "Te Menta" (sim, sem acento). Por cima, numa tradução, à brasileira, para português, dizia "Você Menta"...

Para quem não sabe Té em espanhol quer dizer o mesmo que chá em português. Pelos vistos quem traduziu não sabia.

AS CINCO RESPOSTAS DO ECONOMISTA DISFARÇADO

Os conselhos de Tim Harford*


Há alguma teoria económica que explique porque é que ninguém fala de outra coisa, por estes dias, que não seja o CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL?

Com certeza! Talvez pense que não há nada de interessante no futebol. Mas como pessoa sensível que é, percebe que outras pessoas podem saber coisas que você desconhece. Quer aprender com elas - o que muitas vezes significa fazer o mesmo que elas. Na bolsa de valores, venderá, quando outros venderem, não por ser irracional, mas por pensar que eles sabem mais qualquer coisa. Se vir muitos carros estacionados em cima de um passeio, pode presumir que os condutores sabiam não haver polícias por perto a passar multas, e estacionará ali, com segurança, também. E se toda a gente começar a ver futebol, você também o fará, porque, provavelmente, pensará que outras pessoas conseguem ver alguma coisa que você não ainda não viu. Os economistas chamam a isso «herding theory» («teoria da manada»).


Porque é que Portugal continua a ser o PAÍS MAIS POBRE DA ZONA EURO? Não somos assim tão diferentes dos Camarões?

Enquanto economista sob disfarce, gosto sempre de julgar os países, tendo por base aquilo que vejo e que vivo - e eu não visito Portugal desde o último Europeu de futebol. Portanto, não quero adiantar muito. Mas um dos problemas é que não tem sido fácil montar negócios que criem empregos e produtos que as pessoas queiram comprar. De acordo com o Banco Mundial, no início de 2005, criar uma pequena empresa em Portugal demorava 54 dias. O mesmo tempo que no Quénia e na Bósnia. Agora, Portugal tem um novo sistema de criação de empresas [empresa na hora]. A situação pode, pois, melhorar (não mudará em alguns meses apenas, estas coisas levam o seu tempo). Que outras regras para se fazer negócio poderiam ser simplificadas e tornadas mais rápidas? [Ver http://www.doingbusiness.org/]


Sendo a economia portuguesa, e os portugueses, os mais deprimidos da Europa, porque é que ainda NÃO FUGIMOS TODOS PARA INGLATERRA?

Porventura por causa do bom clima, do peixe, queijo e vinho maravilhosos, ou por causa da importância dos amigos e da família. Economia é sobre aquilo que as pessoas querem, aquilo que recebem e o que fazem - mas não é, necessariamente, sobre dinheiro. Há mais na vida para além disso, e provamo-lo todos, no dia-a-dia.


No século XXII, ESTAREMOS TODOS A FALAR CHINÊS?

É uma boa pergunta, mas duvido que tenha qualquer significado daqui a cem anos. No séc. XIX assistiu-se a um desenvolvimento económico e tecnológico até então nunca visto (Karl Max estava naturalmente maravilhado). O cidadão médio era três vezes mais rico em 1900 do que em 1800. Os anos de 1900 tornaram-se ainda mais velozes. Apesar do comunismo e das duas guerras mundiais, o mundo tornou-se muito mais rico e desenvolveu-se muito mais depressa. O cidadão médio tornou-se oito vezes mais rico. Os dois últimos anos figuram, na História, entre aqueles em que houve mais crescimento económico mundial. E é muito provável que os próximos cem anos mudem ainda mais rapidamente que os últimos cem. A ser assim, não há muito que se possa dizer sobre o ano 2100. Excepto que o mundo estará irreconhecível.


Eu quero muito, MUITO, SER RICO. Por onde devo começar?

Não há problema. Para ser rico, precisa de investir o mais que puder e gastar o menos possível. O melhor investimento é um grau universitário: arranje um, talvez dois. Não gaste nada: viva num apartamento minúsculo e coma apenas pão e água. Arranje o emprego mais bem pago que conseguir, e um segundo emprego, aos fins-de-semana. Invista todo o seu dinheiro em imobiliário, acções e contas de poupança -espalhe por aí. Passado pouco tempo, será muito rico. Não tenho a certeza de que seja feliz - a maior parte de nós prefere um emprego agradável e gastar dinheiro. Mas boa sorte!

in Visão nº694 (22 a 28 Junho 2006) por Carla Alves Ribeiro

* Tim Harford é o autor do Livro "O Economista Disfarçado"

O Economista Disfarçado

(Se não souberem o que me oferecer nos anos, que estão aí à porta, podem dar-me este livro ou o "Freakonomics: o Estranho Mundo da Economia - o Lado Escondido de Todas as Coisas" de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, ou um qualquer do Jack Welch, que eu não me importo. Combinem é entre vocês porque só quero um exemplar de cada!)