quarta-feira, agosto 30, 2006

A minha vida dava um filme do Alfred Hitchcock (pt. 9)

Há cinco meses atrás, durante uma formação, tinha telemóvel em silêncio e recebi uma chamada sem me ter apercebido e, portanto, sem atender. Deixaram uma mensagem na caixa de voz e fui ouvir... Era a senhora da Fodicis que me tinha ligado há duas semanas exigindo que eu pagasse o empréstimo, que não fiz, e que eles aceitaram com documentos claramente falsificados com os meus dados pessoais. Deixou uma mensagem pedindo para eu ligar de volta para saber se havia alterações ao processo do Mistério Púbico.

Eram cerca das 18:15, quando fizemos o intervalo, e eu retribuí a chamada. Não devia, porque afinal de contas não tinha contraído nenhum empréstimo e estava a entrar em despesas por culpa da falta de rigor da Fodicis. A senhora não estava e atendeu-me um homem:
- "Por favor diga-me o seu número de contribuinte!" - pediu-me ele - "Aguarde um momento para poder aceder ao seu processo..."
Aguardei, embora renitente, porque afinal de contas era eu que estava a pagar a chamada.
- "Então diga-me Sr. Rui, quando é que pensa pagar aquilo as prestações em atraso?" - perguntou ele, com um tom meio ameaçador. Eu pensei, que das duas uma, ou ele não sabia nada do caso ou então estava-se a fazer de ignorante, uma vez que era das cobranças.
- "Como já expliquei à sua colega, não faço intenção nenhuma de pagar nem um tostão desse empréstimo, aliás porque não fui eu que o contraí..." - disse eu, tentando manter a calma – "... e porque ele só existe por um erro dos vossos serviços, porque se tivessem dois dedos de testa teriam visto que as cópias dos documentos apresentadas são falsas, aliás como já provei quando aí fui, às instalações da Fodicis, mostrar os meus documentos pessoais. E..."
Ao que fui interrompido, em tom mais agressivo:
- "Pelo facto de ter mostrado os seus documentos não prova que estes sejam falsos, porque os seus podem ser segundas vias." – disse ele, mostrando claramente que nunca tinha olhado nem para uns nem para os outros – "E acha que pelo facto de dizer, a um juiz, que estes documentos são falsos, ele lhe vai dar razão?" – continuou aumentando o tom da voz , porque eu tentei falar, e falando com ar jocoso. E continuou – "A Fodicis não é uma entidade de peritagem de identidades."
- "Mas posso falar?" – perguntei eu, já perdendo a calma e ficando algo alterado. E fiz um pequeno período de silêncio, para que ele me pudesse responder.
- "Sim! Diga..." – disse a voz do outro lado, algo alterado, também.
- "Eu estou a telefonar porque a sua colega me telefonou a averiguar se havia dados novos sobre os meus contactos com o Banco BETS no sentido de esta entidade confirmar o facto de a conta, naquele banco também ter sido aberta com os documentos falseados, uma vez que à data de abertura não era obrigatório a presença do cliente." – disse eu tentando acalmar-me – "Isto porque a sua colega disse que estava na eminência de divulgarem o meu nome ao Banco de Portugal..."
- "Oh, meu senhor! O seu nome há muito está no Banco de Portugal!" – disse ele, não aguentando mais estar calado, interrompendo-me e com um arzito de gozo. E continuou, em tom ameaçador – "O que está aqui em causa é se o senhor paga ou não o que deve?"
Nesse momento, a minha paciência tinha-se esgotado e a minha calma evaporado e apenas rematei:
- "Como já lhe disse não vou pagar nem um tostão desse empréstimo, por isso, se quiserem avançar com a sua cobrança coerciva, até agradeço, porque ainda tenho a receber uma indemnização por causa disso, incluindo uma parte por este telefonema. Boa Tarde!" E desliguei, mas não consegui voltar à sala de formação, sem apanhar uma golfada de ar e acalmar-me.

Quando cheguei a casa nessa noite, ainda algo alterado com a incompetência e prepotência do tipo, escrevi dois e-mails a duas amigas advogadas explicando a situação desde o início. Depois de uma breve troca de mensagens, com as duas, foi-me sugerido que expusesse o caso ao Banco de Portugal, a entidade reguladora do sector bancário, e fizesse uma queixa por violação de regras de segurança e diligência contra as duas instituições, a Fodicis e o Banco BETS.

A queixa seguiu há duas semanas, depois da recepção da notificação do Mistério Púbico dando conta do arquivamento dos autos do processo uma vez que a investigação não resultou em indícios suficientes sobre a identidade do autor do crime. No mesmo dia seguiu uma carta para a Fodicis, com a mesma notificação e expondo este episódico telefonema, que agora penso ter enterrado.

Mas ainda há um outro episódio para contar. Aguardem!

2 comentários:

Unknown disse...

Mas que grande filme :)))

Anónimo disse...

Grande filme!!!

Sempre gostava de saber se já está resolvida a situação.