Estar no sítio certo, no momento certo, pode mudar o rumo de uma vida. Há
dez anos, enquanto Ricardo Reis assistia a uma normal aula de inglês, alguém
entrou na sala para desafiar os alunos a estudar no estrangeiro e o jovem de
17 anos ficou logo com bichos carpinteiros. Quis saber tudo. Três anos
depois acabou a licenciatura em economia, na London School of Economics, no
Reino Unido, como melhor aluno da turma, e nunca mais parou. Foi para
Harvard tirar o doutoramento e hoje é professor na Universidade de
Princeton, nos Estados Unidos. Ricardo é um dos mais bem sucedidos jovens
portugueses no estrangeiro e sente "um certo sentido de dever para com o
país". Mas, pelo menos nos próximos cinco anos, não está no seu horizonte
voltar a Portugal. Até porque está onde deve estar: "Num ambiente
estimulante, com condições que não existem em Portugal". Ele e a mulher,
doutorada em sociologia e também professora em Princeton, vivem a cinco
minutos da faculdade, têm uma carga horária leve, um bom salário e estão "no
centro de tudo".
Ainda em Londres, Ricardo descobriu que queria seguir o ramo da investigação
e, por isso, sabia que tinha de estar onde tudo acontece: "À hora de almoço
falo sobre uma descoberta de um colega que pode influenciar o meu
trabalho...". O facto de Portugal ser o país da União Europeia que mais
cérebros "exporta" é explicado pelo jovem economista de uma forma simples:
"Temos um mercado de trabalho muito rígido, é muito difícil arranjar um
primeiro emprego que nos valorize. Também é muito difícil ser despedido e,
por isso, às tantas, há uma série de pessoas que não tem competência ou
valor, mas que estão a ocupar um lugar". Ricardo está convencido que, "para
pessoas novas e ambiciosas, é quase uma escolha normal sair de Portugal".
Entre estes jovens de que fala Ricardo está Susana Redondo que, na hora de
fazer as malas, não pensou duas vezes. "Não há mercado em Portugal, há
muitos compadrios e poucas oportunidades". Esta jovem portuguesa nunca foi
grande fã de futebol, mas há três anos que não pensa noutra coisa: trabalhou
no Euro 2004 e, como a experiência correu bem, saltou directamente para o
Euro 2008, que vai decorrer na Suíça e na Áustria. Susana já tinha estado lá
fora - estagiou em França, na Euronews - e o "bichinho ficou". Por isso não
hesitou em ir para a Suíça, onde está desde 1 de Julho a trabalhar na
organização do Euro 2008. Um evento, que segundo Susana, tem sido organizado
com a ajuda do bom exemplo português, que organizou o evento em 2004, mas
que se torna uma tarefa ainda mais árdua porque vai decorrer em dois países,
como aconteceu em 2000 (na Bélgica e na Holanda).
Susana já conhecia a Suíça e não se sentia fascinada pelo país. Mas, embora
sinta falta da família, não pensa voltar tão cedo porque " o mercado de
trabalho em Portugal é mais limitado". Não poupa críticas ao sistema
nacional, mas também não poupa elogios aos portugueses: "Se em Portugal
houvesse oportunidades seríamos os maiores", afirma com o seu sotaque
nortenho.
As oportunidades, ou melhor, a falta delas, são também a razão que levou
Ricardo Marvão a apostar numa carreira internacional. "Sempre gostei muito
de Portugal e acho que o país tem grande potencial, mas as grandes
oportunidades estão fora do país e é lá fora que os portugueses são cotados
ao mais alto nível". Ricardo já correu meio mundo - estudou nos Estados
Unidos, Áustria, Londres, Paris - e hoje, aos 27 anos, é dono da única
empresa portuguesa sediada no centro de operações da Agência Espacial
Europeia (ESA), em Frankfurt, na Alemanha.
Ainda há pouco tempo, este engenheiro informático esteve envolvido na
construção do Cryostat - um satélite europeu com o objectivo estudar o
aquecimento global da terra. A missão fracassou devido a uma falha no
foguetão russo, perderam-se 160 milhões de euros e vários anos de trabalho,
mas a ESA já decidiu que, dentro de três anos, será lançado o Cryostat 2.
Ricardo Marvão e sua empresa, a Oristeba, estarão novamente envolvidos no
projecto. Ricardo aterrou na ESA há dois anos para realizar um estágio, mas
três meses depois já lhe pediam para ficar na agência. Na altura, ele e o
actual sócio, Nuno Sebastião, perceberam que era viável criar uma empresa
para prestar serviços à ESA e mergulharam de cabeça no projecto. Depois de
vários contactos e estudos, e com o apoio do governo português, conseguiram
criar a Oristeba.
Ricardo tem "a certeza" que o seu "futuro passa por Portugal", mas não sabe
quando é que isso vai acontecer, já que o próximo ano será determinante para
o crescimento da Oristeba. É o primeiro ano em que Portugal está em
concorrência aberta e "tem que mostrar à Europa que é capaz. O nosso Governo
está atento. E tem que estar, senão perdemos o comboio".
Antes de se ter mudado para a Alemanha, Ricardo teve uma breve passagem pelo
mercado de trabalho português. As experiências na Portugal Telecom Inovação
e na Associação Industrial Portuguesa serviram para descobrir um dos
problemas do mundo laboral português. "Fora do país, o chefe de uma empresa
aposta num jovem e dá-lhe responsabilidade, em Portugal não é sequer dada
liberdade". E é claro que "os ordenados são muito superiores". Ricardo
acredita que os doutores emigrantes, "mais cedo ou mais tarde, regressam e
trazem mais-valias para o país". Na aventura de crescer profissionalmente
fora de Portugal há um pequeno senão: faltam "o sol, o mar, a família e os
amigos". E é quando a saudade bate que Ricardo apanha um avião e em três
horas se põe em Portugal.
Dizem, aliás, que a saudade é uma coisa muito portuguesa. Até Maria Miguel,
que não pensa em voltar, fica com a voz tremida quando recorda o cheiro a
maresia. Está na Suíça, bem longe do mar, com um cargo de topo numa empresa
de relojoaria, área onde os suíços são mestres. Partiu com 22 anos para
estudar na Suécia, ao abrigo do programa Erasmus, mal chegou a Portugal fez
novamente as malas para ir estagiar em Genebra. Partiu para ficar nove
meses, mas já está há três anos. Pouco depois de chegar foi convidada para
integrar os quadros da empresa e assumir um cargo de direcção. Embora
Genebra seja uma cidade que alberga várias multinacionais, não são assim
tantos os estrangeiros que chegam a um cargo de topo, talvez por isso Maria
já sentiu que na empresa a olharam com desconfiança. Mas, é um mal menor:
"As vantagens de estar no estrangeiro são intermináveis". Tantas que,
entretanto, Maria "convenceu" outros dois portugueses a juntarem-se à sua
equipa em Genebra.
Quando decidiu ir para a Suíça disseram-lhe que, na empresa para onde iria,
bastava dominar o inglês. Mas quando lá chegou percebeu que não era bem
assim e, como não dominava o francês, quase entrou em pânico. Mas tudo não
passou de um susto, Maria aprendeu a língua e nunca mais parou - aliás o seu
objectivo a médio prazo é partir para trabalhar noutro país e fazer um MBA.
Daniel Motta Veiga também suou as estopinhas para entender os colegas de
trabalho. Antes mesmo de tirar o curso, aos 18 anos, este designer gráfico
aterrou na Alemanha para trabalhar numa empresa de automóveis, mas não
entendia uma palavra do que os alemães diziam. "Disseram-me que durante três
meses podia falar inglês, mas depois disso só podia falar alemão". E assim
foi. Pouco tempo depois Daniel já dominava a língua, tão bem que ficou por
lá quase dois anos. E deu-se bem. Um dos seus projectos (transformação de um
Opel Tigra numa pick up) foi escolhido para o Salão Internacional de
Automóveis de Genebra - uma das mais importantes mostras da área.
Daniel acabou por voltar a Portugal para tirar a licenciatura em Design
Industrial, mas rapidamente decidiu partir de novo. Com um diploma na mão,
andou entre Madrid e Turim para conseguir um master e acabou por ficar em
Itália. Esteve envolvido em vários projectos da Fiat, Alfa Romeu e Lancia,
mas acabou na Pininfarina, uma das mais importantes empresas de design
industrial do mundo, onde está há cerca de dois anos e meio. Não pensa
voltar, até porque "o design industrial não é levado a sério em Portugal".
Daniel vem cerca de três vezes por ano a Lisboa matar saudades da família e
amigos. E quando Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé, de tal
forma que este ano Daniel conseguiu convencer os pais a ir passar o Natal a
Miami, cidade onde está neste momento a trabalhar ao serviço da Pininfarina.
Já Maria Madureira vem directamente dos antípodas, Austrália, para passar o
Natal com a família. A jovem gestora tem o espírito aventureiro no sangue, e
mais do que procurar uma brilhante carreira profissional, Maria tem andado a
saltar de país em país pelo gozo de conhecer novas gentes e novas culturas.
"Sei que posso estar a prejudicar a minha carreira, mas estou a valorizar-me
enquanto ser humano", justifica Maria. Depois de ter terminado o curso Maria
fez um estágio entre Portugal e Brasil, mas a dada altura decidiu ganhar
asas. Foi tirar um MBA para a Colômbia e depois decidiu viajar - andou em
São Paulo, Amesterdão, Nova Iorque e agora o seu poiso é Sidney, onde
trabalha numa empresa de consultadoria. No entanto, está certa que ainda há
caminho a fazer. "A média prazo quero ir para outro país e cada vez mais
penso que não será Portugal". Maria tem "orgulho" do seu país, mas sente que
em Portugal "somos todos muito semelhantes".
Por Mariana Adam
in Público
Tudo começou em 2000 com a minha ida para a Califórnia para um estágio. As Crónicas foram servindo de diário da aventura. E continuam, mesmo depois de voltar... E de voltar a sair para Inglaterra, Japão, Luxemburgo, França, Finlândia, Holanda, São Tomé, etc...
Cada aventura ou momento que me permito partilhar está aqui nas Crónicas da Califórnia.
terça-feira, novembro 29, 2005
Famosos em terra alheia
O fenómeno de fuga de cérebros não é novo e nem acontece apenas com ilustres
desconhecidos. São vários os exemplos de personalidades portuguesas que
brilham no estrangeiro. O sadino José Mourinho é a vedeta do momento no
futebol mundial. Com apenas uma internacionalização o treinador do Chelsea é
um dos "embaixadores" portugueses em terras de sua majestade. Domitília dos
Santos já anda por outras bandas há algumas décadas. A dama de Wall Street,
como é conhecida, é portuguesa de gema. Nasceu em Estói, no concelho de
Faro, mas fez carreira nos Estados Unidos onde é nada menos do que senior
vice president de uma das maiores consultoras financeiras do mundo, a
Salomon Smith Barney.
Quase todos querem voltar, Rodrigo Costa por exemplo, não vai perder mais
tempo, no início do próximo ano vai abandonar a Microsoft para assumir a
administração não executiva da Portugal Telecom. O gestor tem feito uma
carreira ascendente na Microsoft, onde lidera a área mais lucrativa do
império de Bill Gates, e liderou a operação desta multinacional em Portugal
durante 11 anos, assumindo em 2001 o negócio da multinacional no Brasil.
Actualmente, Rodrigo Costa estava radicado em Seattle.Mas há outras áreas em
que os portugueses se destacam. António Damásio, António Coutinho e Carlos
Duarte, dois médicos e um biólogo marinho, estão entre os 250 cientistas
mais bem cotados do mercado.
in Público
desconhecidos. São vários os exemplos de personalidades portuguesas que
brilham no estrangeiro. O sadino José Mourinho é a vedeta do momento no
futebol mundial. Com apenas uma internacionalização o treinador do Chelsea é
um dos "embaixadores" portugueses em terras de sua majestade. Domitília dos
Santos já anda por outras bandas há algumas décadas. A dama de Wall Street,
como é conhecida, é portuguesa de gema. Nasceu em Estói, no concelho de
Faro, mas fez carreira nos Estados Unidos onde é nada menos do que senior
vice president de uma das maiores consultoras financeiras do mundo, a
Salomon Smith Barney.
Quase todos querem voltar, Rodrigo Costa por exemplo, não vai perder mais
tempo, no início do próximo ano vai abandonar a Microsoft para assumir a
administração não executiva da Portugal Telecom. O gestor tem feito uma
carreira ascendente na Microsoft, onde lidera a área mais lucrativa do
império de Bill Gates, e liderou a operação desta multinacional em Portugal
durante 11 anos, assumindo em 2001 o negócio da multinacional no Brasil.
Actualmente, Rodrigo Costa estava radicado em Seattle.Mas há outras áreas em
que os portugueses se destacam. António Damásio, António Coutinho e Carlos
Duarte, dois médicos e um biólogo marinho, estão entre os 250 cientistas
mais bem cotados do mercado.
in Público
segunda-feira, novembro 28, 2005
Flowers in your hair
A semana passada aluguei o filme "Sideways" cuja história se passa na região vinícola de Santa Bárbara, no sul da Califórnia. Mostra de uma maneira despretensiosa como a vida por aqueles lados é levada. Fiquei com algumas saudades.
No dia seguinte recebi um mail da minha amiga Filipa Pato, que estava na região vinícola de Napa no norte da Callifórnia. Ia para São Francisco e queria referências para passear. Comecei a recordar a cidade e os arredores e escrevi-lhe, num mail, aquilo que eu gostaria de voltar a visitar se retornasse àquela bela cidade. Bateu uma nostalgia quando carreguei no "send".
No dia seguinte, na série de banda desenhada que estou a ler (House of Secrets), os personagens decidem fugir de Seattle e vão numa road trip para São Francisco. Atravessam a Golden Gate, vão a Fisherman's Wharf, sobem à Coit Tower e acabam o dia em Ocean Beach, na Cliff House. Há 5 revistas que se passeiam pela cidade em procura de uma amiga.
Sábado acordei e a primeira música que ouvi foi "If you’re going to San Francisco, Be sure to wear some flowers in your hair, If you’re going to San Francisco, You’re gonna meet some gentle people there". À tarde na MTV anunciava um filme chamado "Just Like Heaven" passado em São Francisco.
Porque será que não há filmes passados em Aveiro, bandas desenhadas sobre Aveiro ou músicas mundialmente conhecidas sobre Aveiro?
No dia seguinte recebi um mail da minha amiga Filipa Pato, que estava na região vinícola de Napa no norte da Callifórnia. Ia para São Francisco e queria referências para passear. Comecei a recordar a cidade e os arredores e escrevi-lhe, num mail, aquilo que eu gostaria de voltar a visitar se retornasse àquela bela cidade. Bateu uma nostalgia quando carreguei no "send".
No dia seguinte, na série de banda desenhada que estou a ler (House of Secrets), os personagens decidem fugir de Seattle e vão numa road trip para São Francisco. Atravessam a Golden Gate, vão a Fisherman's Wharf, sobem à Coit Tower e acabam o dia em Ocean Beach, na Cliff House. Há 5 revistas que se passeiam pela cidade em procura de uma amiga.
Sábado acordei e a primeira música que ouvi foi "If you’re going to San Francisco, Be sure to wear some flowers in your hair, If you’re going to San Francisco, You’re gonna meet some gentle people there". À tarde na MTV anunciava um filme chamado "Just Like Heaven" passado em São Francisco.
Porque será que não há filmes passados em Aveiro, bandas desenhadas sobre Aveiro ou músicas mundialmente conhecidas sobre Aveiro?
quarta-feira, novembro 23, 2005
Modelo bang-bang
Aqui há umas semanas (14/10/05) vi no Público a seguinte foto com o texto "Uma modelo passa uma criação da estilista bósnia Lidja Kolovrat para a Primavera/Verão 2006 durante o primeiro dia de desfiles da Moda Lisboa, que ontem começou."
Achei alguma piada, mas só depois quando andava a ver as fotos da viagem à Croácia é que me apercebi de onde veio a inspiração. Reparem neste sinal que estava na porta de um banco em Samobor, uma vilazita pacata onde os Zagrebenses vão ao domingo passear.
Achei alguma piada, mas só depois quando andava a ver as fotos da viagem à Croácia é que me apercebi de onde veio a inspiração. Reparem neste sinal que estava na porta de um banco em Samobor, uma vilazita pacata onde os Zagrebenses vão ao domingo passear.
domingo, novembro 20, 2005
Bebradore a pelhas
Há umas semanas contaram-me a história de uma senhora de idade que, aqui em Aveiro, foi a uma farmácia com este bilhete para lhe venderem um bebradore. Acontece na história, segundo me foi contada, que o farmasetico, na ausência de tal produto no seu stock, encaminhou a senhora para um herbanário (sinceramente não sei quem fica pior na história) uns números abaixo na rua.
O senhor da herbanária tirou a fotocópia do bilhete que a senhora tinha e que supostamente lhe tinha sido passado por uma amiga mais ou menos da mesma idade. O bilhete, num português escrito muito próximo da forma arcaico-infantil do nosso idioma, dizia "Senhori farmasetico pesulhe que me benda um bebradore a pelhas e fasa o fabor di ispelicar a esa senhora como e que sefass meter as pelhas como se poe a trabalhar e cuato cuesta".
Mas não haviam pelhas.
Trabalho, Suor e Dignidade
Todos os dias quando entro para o meu local de trabalho reparo numa carrinha parada em cima de um baldio ao fundo do prédio. É uma carrinha de caixa aberta de transporte dos trabalhadores da construção civil (vulgo "trolhas") da obra em frente. No oleado que cobre metade da caixa, onde deve ter uns bancos de madeira corridos, onde se devem sentar todos os dias os "trolhas" para irem para casa, no fim de um dia de trabalho, diz em letras gordas "Trabalho, Suor e Dignidade". Só! Mais nada...
Confesso que sempre achei cómico. Mas depois de pensar um pouco (se calhar não devia) acho deprimente. Soa a qualquer coisa como um misto entre "Fátima, Fado e Futebol" (do antigo regime), "Sangue Suor e Lágrimas" e "O trabalho liberta" (de Auschwitz).
Pensando bem, quem se deixa transportar ali naquela caixa de carga, como se fosse gado, como pode pensar que há alguma Dignidade na maneira como são tratados? Depois de um dia de Suor, ir ali num banco corrido na parte detrás de um carrinha, sob um pequeno toldo, não se pode pensar muito em Dignidade. Sobra-lhes o facto de terem Trabalho.
E é assim que o patrão os convence que ter um Trabalho que os faz gastar o Suor lhes trará Dignidade. Patrões assim há muitos e por isso é que há uma nova vaga de emigrantes. Não só na construção civil...
domingo, novembro 06, 2005
: : : 1-big-O [v16.0]
Workshops Kundalini Yoga
18, 19 e 20 Novembro
Aveiro
Com a professora britânica Guru Daya Kaur.
Mais informações aqui.
Mais um cartaz feito aqui neste portátil.
sexta-feira, novembro 04, 2005
20% dos licenciados fogem de Portugal
Eu sei que a notícia já tem uma semana, mas continua actual e espelha o estado precário dos locais de trabalho em Portugal. Não se criam condições para a sustentabilidade dos locais de trabalho passíveis de criar valor acrescentado ao país. Na verdade, o mais difícil é ficar cá...
O relatório do Banco Mundial aponta para o facto de o fenómeno da "fuga de cérebros" estar a afectar sobretudo os países mais pobres do mundo
Elsa Costa e Silva in DN Sexta, 28 de Outubro de 2005
Um quinto dos portugueses com ensino superior não trabalha em Portugal. Este número, que consta de um relatório do Banco Mundial (BM) onde é analisado o fenómeno da fuga de cérebros, dá conta de que Portugal é o país europeu de média/grande dimensão mais afectado pela saída de licenciados e quadros técnicos. Na lista dos Estados com mais de cinco milhões de habitantes, Portugal é 21.º, com a maior percentagem de licenciados a residir fora das fronteiras. Mas esta é uma realidade com traços mundiais entre 1990 e 2000, o fluxo de imigrantes qualificados cresceu a um ritmo anual de 800 mil pessoas.
Por só considerar os países de maior dimensão, este ranking onde consta Portugal deixa de fora países pequenos do Leste europeu, alguns dos quais agora membros da União Europeia, onde a emigração de quadros é também elevada. Apenas Malta, um país de 400 mil habitantes, é contabilizado na lista que inclui a totalidade dos países e que é liderada pela Guiana. Na pequena ilha do Mediterrâneo, mais de metade da sua população licenciada reside no estrangeiro.
Na lista dos países maiores (com mais de cinco milhões de habitantes), elaborada a partir de dados relativos a 2000 e liderada pelo Haiti, surgem a seguir a Portugal mais dois países europeus a Eslováquia e o Reino Unido, ambos com 16,7% da sua população qualificada emigrada. Neste panorama, convém não esquecer que Portugal é um país com forte tradição de emigração. Por outro lado, o relatório do BM não distingue entre as pessoas que emigraram depois de se licenciarem daquelas que frequentaram o ensino superior no país de destino. Uma situação onde estarão muitos jovens nascidos em Portugal, que abandonaram o país ainda crianças, acompanhando os pais emigrantes.
Contudo, a saída de jovens licenciados de Portugal em busca de melhores paragens é um fenómeno que ganha peso. José Cesário, secretário de Estado das Comunidades nos dois anteriores governos sociais-democratas, afirma que o número do BM "não é surpreendente", já que estes fluxos são "cada vez mais evidentes". Garante que, por exemplo, dos jovens portugueses que se formam em algumas das melhores universidades norte-americanas "regressarão apenas entre 10 a 20%". Até porque, "em matéria de investigação, as condições das instituições estrangeiras são melhores".
Também Azeredo Lopes, professor de Relações Internacionais da Universidade Católica, aponta a má situação económica do país como um dos factores que afastam os jovens licenciados. Mas elogia o que chama de "capacidade de procurar" melhores paragens, lembrando que Portugal "acaba sempre por beneficiar a prazo do que poderia ser uma desvantagem". Ou seja, via remessas desses emigrantes para Portugal ou através do próprio regresso dos imigrantes formados mais tarde, que contribuirão para a qualificação geral do país. Assim, explica este especialista, "Portugal tem de aceitar que a tipologia da sua emigração (que nos anos 50 e 60 era maioritariamente de mão-de-obra muito pouco qualificada) mudou e que o fluxo de pessoas com formação superior começou há muito tempo". O que resultará da liberdade de movimentação, por exemplo, no espaço da União, e que é, até certo ponto, esperado.
Desenvolvimento em risco. Mas o fluxo de emigração qualificada resulta também numa maior debilidade estrutural dos países de origem, que vêem sair os seus recursos mais bem preparados para melhorar os índices de desenvol- vimento económico e social. O relatório do BM alerta para o facto de esta fuga de cérebros afectar sobretudo os países pobres, numa dicotomia já habitual de Sul/Norte, e de não ser tão evidente nas potências emergentes (como, por exemplo, China e Índia) do grupo das nações em desenvolvimento.
De acordo com os números do relatório (que não contabilizam a imigração ilegal), mais de um terço do total da imigração que chegou aos países da OCDE era qualificada. Um número muito eleva-do, se se tiver em conta que, a nível da mão-de-obra mundial, apenas 11,3% têm formação superior. Entre 1990 e 2000, a proporção de recursos humanos qualificados que procuraram os países da OCDE cresceu quase cinco pontos percentuais, superando os 20 milhões de pessoas. Tendo também aumentado a percentagem de trabalhadores com o ensino secundário, é evidente que o fluxo de mão-de- -obra pouco qualificada tem vindo a perder importância.
A "fuga de cérebros" resulta também do facto de os países de origem mais procurados terem adoptado políticas selectivas a nível da imigração, procurando especificamente trabalhadores com melhores qualificações. A esta filosofia de acolhimento não será alheio o facto de, por exemplo, mais de metade dos imigrantes do Canadá serem licenciados, assim como 42,7% virem da Nova Zelândia ou 40% dos Estados Unidos.
Lusofonia. Três ex-colónias portuguesas estão também entre as mais "exportadoras" mundiais de recursos humanos qualificados. Cerca de 67,5% dos licenciados de Cabo Verde estão fora deste arquipélago, assim como 45% dos moçambicanos e um terço dos angolanos. Portugal será assim um dos países que mais recebem esta mão--de-obra, ainda que este fluxo imigrante africano e também dos países de Leste não chegue para compensar a "perda" dos emigrantes portugueses. De facto, no balanço entre recursos humanos qualificados que saem do país e os que chegam, Portugal fica a perder. Aliás, este indicador líquido de "fuga de cérebros" piorou entre 1900 e 2000, tendo quase duplicado.
Contudo, o maior problema é, para Azeredo Lopes, o facto de Portugal não estar a atenuar este efeito através de um melhor aproveitamento da comunidade imigrante em Portugal. "Estamos atra- sados no reconhecimento das minorias, na afirmação de um país multicultural e multilinguístico", afirma este especialista. Não são raros os casos de imigrantes, sobretudo de Leste, com formação superior, a exercer profissões pouco qualificadas. "Este é um percurso migratório muito recente e se eles virem os seus países, agora na UE, a crescer, vão-se embora, porque não valorizamos a vida destas pessoas e dos filhos."
O relatório do Banco Mundial aponta para o facto de o fenómeno da "fuga de cérebros" estar a afectar sobretudo os países mais pobres do mundo
Elsa Costa e Silva in DN Sexta, 28 de Outubro de 2005
Um quinto dos portugueses com ensino superior não trabalha em Portugal. Este número, que consta de um relatório do Banco Mundial (BM) onde é analisado o fenómeno da fuga de cérebros, dá conta de que Portugal é o país europeu de média/grande dimensão mais afectado pela saída de licenciados e quadros técnicos. Na lista dos Estados com mais de cinco milhões de habitantes, Portugal é 21.º, com a maior percentagem de licenciados a residir fora das fronteiras. Mas esta é uma realidade com traços mundiais entre 1990 e 2000, o fluxo de imigrantes qualificados cresceu a um ritmo anual de 800 mil pessoas.
Por só considerar os países de maior dimensão, este ranking onde consta Portugal deixa de fora países pequenos do Leste europeu, alguns dos quais agora membros da União Europeia, onde a emigração de quadros é também elevada. Apenas Malta, um país de 400 mil habitantes, é contabilizado na lista que inclui a totalidade dos países e que é liderada pela Guiana. Na pequena ilha do Mediterrâneo, mais de metade da sua população licenciada reside no estrangeiro.
Na lista dos países maiores (com mais de cinco milhões de habitantes), elaborada a partir de dados relativos a 2000 e liderada pelo Haiti, surgem a seguir a Portugal mais dois países europeus a Eslováquia e o Reino Unido, ambos com 16,7% da sua população qualificada emigrada. Neste panorama, convém não esquecer que Portugal é um país com forte tradição de emigração. Por outro lado, o relatório do BM não distingue entre as pessoas que emigraram depois de se licenciarem daquelas que frequentaram o ensino superior no país de destino. Uma situação onde estarão muitos jovens nascidos em Portugal, que abandonaram o país ainda crianças, acompanhando os pais emigrantes.
Contudo, a saída de jovens licenciados de Portugal em busca de melhores paragens é um fenómeno que ganha peso. José Cesário, secretário de Estado das Comunidades nos dois anteriores governos sociais-democratas, afirma que o número do BM "não é surpreendente", já que estes fluxos são "cada vez mais evidentes". Garante que, por exemplo, dos jovens portugueses que se formam em algumas das melhores universidades norte-americanas "regressarão apenas entre 10 a 20%". Até porque, "em matéria de investigação, as condições das instituições estrangeiras são melhores".
Também Azeredo Lopes, professor de Relações Internacionais da Universidade Católica, aponta a má situação económica do país como um dos factores que afastam os jovens licenciados. Mas elogia o que chama de "capacidade de procurar" melhores paragens, lembrando que Portugal "acaba sempre por beneficiar a prazo do que poderia ser uma desvantagem". Ou seja, via remessas desses emigrantes para Portugal ou através do próprio regresso dos imigrantes formados mais tarde, que contribuirão para a qualificação geral do país. Assim, explica este especialista, "Portugal tem de aceitar que a tipologia da sua emigração (que nos anos 50 e 60 era maioritariamente de mão-de-obra muito pouco qualificada) mudou e que o fluxo de pessoas com formação superior começou há muito tempo". O que resultará da liberdade de movimentação, por exemplo, no espaço da União, e que é, até certo ponto, esperado.
Desenvolvimento em risco. Mas o fluxo de emigração qualificada resulta também numa maior debilidade estrutural dos países de origem, que vêem sair os seus recursos mais bem preparados para melhorar os índices de desenvol- vimento económico e social. O relatório do BM alerta para o facto de esta fuga de cérebros afectar sobretudo os países pobres, numa dicotomia já habitual de Sul/Norte, e de não ser tão evidente nas potências emergentes (como, por exemplo, China e Índia) do grupo das nações em desenvolvimento.
De acordo com os números do relatório (que não contabilizam a imigração ilegal), mais de um terço do total da imigração que chegou aos países da OCDE era qualificada. Um número muito eleva-do, se se tiver em conta que, a nível da mão-de-obra mundial, apenas 11,3% têm formação superior. Entre 1990 e 2000, a proporção de recursos humanos qualificados que procuraram os países da OCDE cresceu quase cinco pontos percentuais, superando os 20 milhões de pessoas. Tendo também aumentado a percentagem de trabalhadores com o ensino secundário, é evidente que o fluxo de mão-de- -obra pouco qualificada tem vindo a perder importância.
A "fuga de cérebros" resulta também do facto de os países de origem mais procurados terem adoptado políticas selectivas a nível da imigração, procurando especificamente trabalhadores com melhores qualificações. A esta filosofia de acolhimento não será alheio o facto de, por exemplo, mais de metade dos imigrantes do Canadá serem licenciados, assim como 42,7% virem da Nova Zelândia ou 40% dos Estados Unidos.
Lusofonia. Três ex-colónias portuguesas estão também entre as mais "exportadoras" mundiais de recursos humanos qualificados. Cerca de 67,5% dos licenciados de Cabo Verde estão fora deste arquipélago, assim como 45% dos moçambicanos e um terço dos angolanos. Portugal será assim um dos países que mais recebem esta mão--de-obra, ainda que este fluxo imigrante africano e também dos países de Leste não chegue para compensar a "perda" dos emigrantes portugueses. De facto, no balanço entre recursos humanos qualificados que saem do país e os que chegam, Portugal fica a perder. Aliás, este indicador líquido de "fuga de cérebros" piorou entre 1900 e 2000, tendo quase duplicado.
Contudo, o maior problema é, para Azeredo Lopes, o facto de Portugal não estar a atenuar este efeito através de um melhor aproveitamento da comunidade imigrante em Portugal. "Estamos atra- sados no reconhecimento das minorias, na afirmação de um país multicultural e multilinguístico", afirma este especialista. Não são raros os casos de imigrantes, sobretudo de Leste, com formação superior, a exercer profissões pouco qualificadas. "Este é um percurso migratório muito recente e se eles virem os seus países, agora na UE, a crescer, vão-se embora, porque não valorizamos a vida destas pessoas e dos filhos."
Estou vivo
Há algum tempo que não escrevo. Não é porque tenha pouco para contar, mas porque aprendi a calar-me e porque sei que muita gente vive, diariamente, vidas quase iguais à minha. Na verdade é-me mais fácil escrever quando estou fora, não porque queira me expor, mas porque sinto necessidade de me manter próximo e porque há sempre coisas diferentes que, vistas pelo meu olhar alienígena, dão uma boa crónica.
Por outro lado, em pleno século XXI, descobri que uma empresa, que se diz de Telecomunicações, consegue trabalhar uma semana sem acesso à Internet. Parece ridículo, mas é pragmático do nível de excelência que se vive nesta área de negócios. Não é só cá! Há histórias igualmente ridículo-assustadoras noutras partes do globo, onde já tive o prazer de trabalhar.
Há muitas novidades, mas não vos vou contar nenhuma. Tenho um telemóvel novo, mas não vos conto a história e como tem mudado a minha organização. Tenho umas fotos tiradas com ele, mas não vos vou já mostrar. Fui ver o Kimmo Pohjonen, mas não vos vou contar como se sai do emprego às 21:15, come-se uma bola-de.berlim de jantar, se vê um concerto comovente e se volta para trabalhar às 23:00. Tenho algumas histórias hilariantes para contar, mas não estou com disposição para as escrever. Estou a dar formação à noite, depois de ter estado a assistir a uma e não tenho tempo para mim há quase dois meses.
Estou nostálgico! Estou com sono! Tenho saudades... Acho que é o nosso fado português! Sermos assim...
Como disse há dias a um amigo, que me perguntou "Como estás?" – "Eu ando fo**** com o trabalho (como é costume), apreensivo com a vida e esperançado com o futuro".
Por outro lado, em pleno século XXI, descobri que uma empresa, que se diz de Telecomunicações, consegue trabalhar uma semana sem acesso à Internet. Parece ridículo, mas é pragmático do nível de excelência que se vive nesta área de negócios. Não é só cá! Há histórias igualmente ridículo-assustadoras noutras partes do globo, onde já tive o prazer de trabalhar.
Há muitas novidades, mas não vos vou contar nenhuma. Tenho um telemóvel novo, mas não vos conto a história e como tem mudado a minha organização. Tenho umas fotos tiradas com ele, mas não vos vou já mostrar. Fui ver o Kimmo Pohjonen, mas não vos vou contar como se sai do emprego às 21:15, come-se uma bola-de.berlim de jantar, se vê um concerto comovente e se volta para trabalhar às 23:00. Tenho algumas histórias hilariantes para contar, mas não estou com disposição para as escrever. Estou a dar formação à noite, depois de ter estado a assistir a uma e não tenho tempo para mim há quase dois meses.
Estou nostálgico! Estou com sono! Tenho saudades... Acho que é o nosso fado português! Sermos assim...
Como disse há dias a um amigo, que me perguntou "Como estás?" – "Eu ando fo**** com o trabalho (como é costume), apreensivo com a vida e esperançado com o futuro".
Subscrever:
Mensagens (Atom)