quinta-feira, julho 28, 2005

Agricultor Debaixo do Tractor

Há quase 16 anos, vim estudar para Aveiro. Aveiro era uma cidade conservadora, muito conservadora. No entretanto as coisas evoluíram e a Universidade, que era vista como centro desestabilizador do moral e bons costumes da cidade, tomou o seu verdadeiro papel de motor do seu desenvolvimento.

Mas, no seio desse conservadorismo, havia, como ainda hoje há, um grupo de pessoas da cidade que lutavam por serem alternativas. Como eu chegava de uma cidade maior, onde a "liberdade de expressão" era maior e grupos alternativos, pseudo-intelectuais ou urbano-depressivos eram às dezenas, fiquem com a sensação que esse grupo de pessoas se levava muito a sério. Verdade que eram únicos na cidade de Aveiro e verdade que culturalmente estavam muito mais informados que a maioria dos locais, mas achei que por vezes roçavam o pedantismo e isolavam-se propositadamente para que a sua esfera de conhecimento fosse restrita e não fosse adulterada.

Com o tempo, fui conhecendo alguns desses "alternativos" de Aveiro. E, com o tempo, fui apercebendo-me que afinal eram pessoas bem mais interessantes do que aquele ar de pseudo-intelectuais-urbano-depressivos-alternativos deixava transparecer. Mas, também com o tempo, eles foram percebendo que não era preciso vestir de preto ou falar do Nietzsche para se ter cultura e foram abrindo os seus horizontes. Todos crescemos.

Mas esta conversa toda porquê? Porque sempre ouvi falar a essas pessoas de uma banda punk de Aveiro, que teve uma duração efémera e cujo nome sempre me cativou pelo seu humor latente – Agricultor Debaixo do Tractor. Foram precisos quase 16 anos para ouvir uma música deles. E pelos vistos (eu nem sabia) o Ivar Corceiro do Bagaço Amarelo fez parte da tal banda.

Oiçam e leiam o poema de amor em Love Song.

Faltam 9 dias!!!

NP Sjeverni Velebit

quarta-feira, julho 27, 2005

Faltam 10 dias!!!

NP Plitvička Jezera

(Ex)Citação XVIII

"Se não sabes para onde vais, nenhum caminho te levará lá."
Lewis Carroll

(B)Ota para trás...

Tem sido por demais reconhecido que Portugal vive uma profunda crise. Face à sua capacidade de gerar riqueza, a economia tem um excesso de despesa, quer ao nível das finanças públicas, quer ao nível da sociedade em geral. Tais excessos estão traduzidos, nomeadamente, nos persistentes défices das contas do Estado e das contas externas do País. Por outro lado, é notória a perda de capacidade competitiva da economia portuguesa, tal como dão conta o défice externo, o crescimento medíocre dos últimos cinco anos (e perspectivas para os próximos) e o crescente desemprego.

Este preocupante cenário requer uma urgente e dedicada concentração de esforços visando apropriadas medidas de contenção orçamental (com uma estrita selectividade das despesas públicas), de incentivo económico a favor dos sectores produtores de bens transaccionáveis, de promoção da eficiência económica (nomeadamente através da redução das ineficiências geradas pelo próprio Estado) e de uma moderação da despesa colectiva. Mas face a tal cenário parece ter emergido uma corrente de pensamento que acredita que a superação da crise pode estar no investimento em obras públicas, sobretudo se envolvendo grandiosos projectos convenientemente apelidados de estruturantes.

Porque a situação é séria e o País não pode, sem pesados custos, embarcar em mais experiências fantasistas, importa dizer, de forma muito clara, que essa ideia é errada e a sua eventual concretização poderá ser desastrosa para o País. O investimento público pode ter virtudes e pode ser um importante elemento estimulador do desenvolvimento. Mas não é, nas presentes circunstâncias da economia e das finanças públicas, o caso do investimento físico, sobretudo se dirigido a obras cujo mérito não tenha sequer sido devidamente demonstrado por estudos publicamente divulgados, credíveis e contraditáveis.

Primeiro, porque, numa situação de excesso de despesa, mais investimento em obras públicas irá favorecer sobretudo as economias de onde importamos, sem efeito sensível na capacidade produtiva da economia portuguesa, agravando o défice externo (pois só há financiamento parcial de fundos comunitários). Segundo, porque o tipo de emprego mobilizado pela construção pouco efeito terá na absorção do desemprego fabril gerado pela perda de competitividade da nossa indústria e mobilizará sobretudo a imigração. Terceiro, porque tais investimentos irão agravar ainda mais o desequilíbrio das contas públicas, seja pela despesa directa, seja pelos custos de exploração futura, seja, como aconteceu nas SCUTS, pelas inevitáveis garantias para assegurar a mobilização do sector privado. Pelo menos! Por fim, porque os portugueses não poderão compreender que lhes estejam a ser pedidos sacrifícios com impacto no seu nível de vida, quando o Estado se dispõe a gastar dinheiro em projectos sem comprovada rendibilidade económica e social.

Porque o momento é grave; porque continuar com tergiversações à volta do essencial (onde se inclui a reforma do próprio Estado), apenas ajudará o País a afundar-se numa senda de definhamento; e porque é altura de a própria sociedade civil se deixar dos brandos costumes do conformismo e dizer o que tem que ser dito; os signatários entendem dar este seu contributo à reflexão da sociedade e dos poderes políticos.

António Carrapatoso - Vodafone
António Nogueira Leite - ex-Secretário de Estado do Tesouro e Finanças
Augusto Mateus - Professor Catedrático
Fátima Barros - Professora Catedrática
Fernando Ribeiro Mendes - Presidente da RSE Portugal
Henrique Medina Carreira - Advogado e Fiscalista
José António Girão - Professor catedrático da Fac. de Economia da Universidade Nova
José Silva Lopes - Economista
José Ferreira do Amaral - Economista
José Almeida Serra - Economista
João Salgueiro - Presidente da Associação Portuguesa de Bancos
Miguel Beleza - ex-Governador do Banco de Portugal
Vítor Bento - Presidente da SIBS

in Diário de Notícias 27/07/2005

terça-feira, julho 26, 2005

Adopte uma atitude - As crianças agradecem

Concurso "O escritor famoso"



O Blog Divas e Contrabaixos (com o patrocínio da Livraria O Navio de Espelhos) promove novamente um concurso de escritores.

Mais informações em Concurso O Escritor Famoso... e Helena II

(B)Ota para trás...

O professor de economia da Universidade de Nova Iorque, Luís Cabral, defende que seria útil o cidadão saber quanto terá de pagar pelos grandes investimentos anunciados recentemente, nomeadamente o TGV, a Ota e a energia eólica.

Em entrevista conjunta ao «Público» e à «Rádio Renascença», o responsável revela que «segundo as contas que fiz, no caso do TGV, e considerando apenas o custo de investimento, sem custos de operação adicionais, mas apenas o custo de construção, estamos a falar entre mil e mil e quinhentos euros por cidadão. Numa família de pai, mãe e dois filhos, estamos a falar entre quatro mil e seis mil de investimentos iniciais.»

E acrescenta, «é útil pensarmos nisto: valerá a pena investir nos próximos 10 a 15 anos quatro mil a seis mil euros por família para melhor a velocidade de Lisboa Porto?.»

in Agência Financeira 2005/07/25 | 07:11

domingo, julho 24, 2005

Lessons of Spain and Portugal

In "International Herald Tribune" Tuesday, July 19, 2005

As the European Union strives to integrate new members from Eastern and Central Europe, it faces some of the same concerns raised 20 years ago with the admission of two less developed states from the West: Spain and Portugal.

Letting in two poor countries that had recently shed repressive governments would stifle the Union's economic growth, drain jobs from more developed members and send a wave of immigrants across the Pyrenees, critics said.

Those fears turned out to be exaggerated, in part because they underestimated the transforming effects of EU money. Richer members, principally Germany, provided strong financial support each year to help Spain and Portugal develop and catch up with the rest of the bloc.

Now, as the EU debates diverting much of that aid to the poorer members admitted last year, the experiences of Spain and Portugal offer useful lessons on how to spend the money - and how not to. There is widespread agreement among scholars in both countries that Spain has generally invested the funds more productively than Portugal.

"You can look at it from a number of angles, and you can see that the funds have stimulated the Spanish economy in effective ways," said Paul Isbell, an economics analyst at the Elcano Royal Institute of International and Strategic Studies, a nonpartisan research organization in Madrid. "If you look at Portugal, you don't see the same beneficial effects."

In Spain, the benefits of the funds are evident in the modern infrastructure, improvements in worker productivity, increases in per capita income and an expanding economy.

The funds have also helped Spain soften the effects of some unpalatable structural changes, like liberalizing the labor market and privatizing state-owned industries.

Portugal, by contrast, has mainly used the funds to expand its economy - but without modernizing it to address most protracted problems, including a growing budget deficit, a bloated public sector, rampant tax evasion and inadequate educational system, scholars say.

Instead, political pressure from an influential web of small-town politicians seems to have diverted the money to strengthening infrastructure in rural areas rather than making investments in cities that could have created freer flows of goods and people.

As the former Communist countries vie for subsidies like those that Spain, Portugal and other earlier EU entrants enjoyed, there is little evidence that they are contending with similar pressures from local leaders. But Portugal holds a cautionary tale for countries like Poland, where there are signs that disputes over how to spend the money have cropped up in regional governments, delaying the spending of some structural funds.

"Portuguese economists agree that the country has used the resources as a way to postpone the hard decisions," said Sebastián Royo, a professor of government at Suffolk University in Boston who has written extensively on the integration of Portugal and Spain into the EU.

Now, Portugal's budget deficit is estimated at 6 percent to 7 percent of gross domestic product, government wages account for about 15 percent of GDP, and the country's level of educational attainment is among the lowest in Europe. Since joining the euro zone, which comprises 12 members, Portugal has been reprimanded twice by the European Commission for excessive deficits, while Spain has been a model member.

Portugal's prime minister, José Sócrates, who was elected in February, appears to be committed to enacting the reforms that economists say should have been pursued years ago. But with the Portuguese economy in a slump, the job will be much harder for Sócrates than it would have been for his predecessors.

What is more, the way Portugal has used EU funds appears to have worsened some of its problems. It accelerated government hiring during boom times instead of freezing it, for example.

"As the economy grew very fast, especially in the late 1990s, the public sector became a form of patronage," Royo said.

Today, about one of every seven workers in Portugal is a government employee who, under the Constitution, cannot be fired.

Portugal has made great strides since joining the EU in 1986. Before the EU expansion last year, to 25 from 15, Portugal's per capita income had risen to 75 percent of the EU average, from 55 percent.

Over the same period, Spain's per capita income has increased to almost 90 percent of the EU average, from about 70 percent. The Spanish economy, meanwhile, is speeding into its 12th consecutive year of growth, while Portugal is mired in debt and struggling to pull out of a recession.

Although management of EU funds is only one factor in these differing results, many experts seem to agree that it is a significant one.

While other countries offer clear examples of proper and improper management of EU funds, the similar geographies and histories of Portugal and Spain make it easier to isolate the effects of their recent actions.

Both countries joined the EU in 1986, a decade or so after emerging from dictatorships. Although the two had taken important steps toward modernizing their economies before joining, their economies were still rigid and highly reliant on agriculture at the time.

Both countries also invested the majority of their EU development funds in the same area: infrastructure. The Portuguese have directed about 90 percent of their funds to building and modernizing highways, airports, railroads and seaports, while the Spaniards have spent about 70 percent on such projects. Yet the results have been vastly different.

"The infrastructure in Spain is nearly first-class," said Isbell, the economist at the Elcano Institute.

Spain's roads and railroads are not only modern but also well laid out, helping to knit the country together so that poorer regions, like Andalusia, in the south, can connect with more developed ones, like the Madrid area.

That development has enticed more companies to set up operations in the poorer regions, where the cost of doing business is often lower, and has made it easier for companies already established there to reduce costs, attract investors and expand beyond local markets.

In Portugal, there is no comparable highway network linking its poorer regions with wealthier ones, increasing the chances that economic growth will continue to be uneven. Portugal has also failed to connect its highway systems to those in Spain, leaving it isolated from the main currents of European commerce.

"In Europe, lots of goods are moved around by truck," Royo said. "If you look at a map of Spain, the roads all go north. Portugal has not had the infrastructure linking it with Europe."

Portuguese infrastructure is not only poorly planned but in surprisingly poor condition, given the amount of money spent on it, scholars say.

"In Spain, you can see the new highways, the airports, the nice roads," said Royo, the professor. "In Portugal, the infrastructure is not in good shape at all. You look around, and you say, 'Where is all this money going?"'

One possibility is that much of the money is finding its way into the pockets of government or industry officials, Royo contends. "Corruption has to be a part of it," he said. "If you are spending all that money and the infrastructure is still poor, how else can you explain it?"

Portuguese officials deny any corruption, but they concede that the funds could have been better spent.

"Portugal's administration of the funds perhaps has not been the most effective, but it has not been a corrupt one," said Crisóstomo Teixeira, a senior policy adviser at the Ministry of Public Works, Transportation and Communications. "Portugal has made investments in small roads to improve mobility of people in small towns. If you do that, you don't have much money left for big, modern highway systems. The mayors of small towns here have pressed hard for roads in their areas. That is politics, not corruption."

As the 10 states admitted to the EU last year from Central and Eastern Europe start down the path toward further integration, they are not expected to receive nearly as much aid as Portugal and Spain have. From 2004 to 2006, the new members have together been allotted a little more than 20 billion, or $24 billion, about the same as Portugal alone was apportioned for 2000 to 2006. Spain's share for this period was more than 55 billion.

In the next budget, for 2007 to 2013, funds for the new members are expected to increase, while Spain and Portugal's shares will dwindle. But as Spain and Portugal have made clear, the degree to which new members successfully develop their economies and integrate them into Europe depends more on the individual states than on Brussels.

"It's not so much how much money you get," Royo said.

"It's how you spend it."

Part one of this series is available on the Web at www.IHT.com.

quinta-feira, julho 21, 2005

Five-step career approach

#1 - Follow your dream;
#2 - Visualize your dream, think seriously about your willing and write your goals;
#3 - Study always on a lifetime propose, absorb knowledge, get skills and it's time to practice, practice, practice;
#4 - Join social networking services (some are free of charge) and take active participation in events and activities to learn, share referrals, find opportunities and new competences.
#5 - Realize that doing what you actually like is great but it's who you know that really matters!

Palhaça: "Nada!"

Diz Alípio Borralho:
- Eu já fiz em cima da máquina da roupa.

Ao que responde Marta Borges:
- Eu... já o fiz no bidé.

E replica Olegário Alho Lança:
- Eu já fiz na cozinha, enquanto os miúdos brincavam no jardim.

Nisto passa Rodrigo Rodrigues, que ouvindo a sequência de façanhas dos gestores da SEC, diz:
- Eu também já o fiz! No local de trabalho.

- O quê? - Perguntam os outros três, embaraçados por terem sido ouvidos e indagando até que ponto o teriam sido.

- Nada! Exactamente aquilo que vocês fizeram nesses sítios todos e, como não o conseguiram acabar lá, trouxeram-no para aqui para o fazer. – responde Rodrigo dirigindo-se para o local de enchimento de chouriços.

Um link de meter nojo

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z - t r a i l s . n e t

Do Pedro Pedrosa,... e até mete nojo aos cães!!!

quarta-feira, julho 20, 2005

Palhaça: "Cortador de relva"

Joel Fagundes, o Director, passeia-se pelo corredor. Desfolha o catálogo de jardim do Hipermeracdo local, enquanto pensa nos problemas da SEC - Sociedade de Enchimento de Chouriços - que só ele sabe o que são e só ele conhece, mas que só ele não consegue resolver.

Nisto pára e retém-se na página dos cortadores mecânicos de relva. Detêm-se estático, por instantes, no corredor a olhar para o catálogo.

Passa Rodrigo Rodrigues no acesso ao quarto-de-banho. Joel Fagundes olha para ele e diz, no seu normal tom de megafone de feira:
- "Era disto que precisavas para cortar esse cabelo!"

segunda-feira, julho 18, 2005

Palhaça: "Mostra-me lá as patas!"

Umas semanas depois do acidente de automóvel que teve, ao adormecer a conduzir, Rodrigo Rodrigues, chega à SEC - Sociedade de Enchimento de Chouriços.

O director, Joel Fagundes, está à porta da empresa e vê Rodrigo a chegar. Ao que lhe diz suficientemente alto de maneira que todos oiçam:
- "Mostra-me lá as patas!"

Timidamente, Rodrigo, levanta as mãos à altura do umbigo, com as palmas para baixo de maneira a mostrar, ao director, as quase cicatrizes das queimaduras produzidas pelo enchimento rápido do airbag. Nisto Joel Fagundes, novamente de maneira a que todos oiçam, diz:
- "É bem feita para que não te esqueças disto durante uns tempos!"

quarta-feira, julho 13, 2005

A minha vida dava um filme do Martin Scorsese

Há cerca de um mês fui a uma entrevista a Lisboa. Confesso que, para mim, Lisboa é uma das mais bonitas cidades que alguma vez visitei e conheci, à semelhança do Porto, embora em dimensões diferentes e com belezas distintas. Mas Lisboa é uma cidade, cheia de aldeias no seu interior, mas com muito cimento e cidades impessoais no seu interior, também.

A entrevista era em Alfragide e para lá chegar apanhei o metro até Amadora-Este, mesmo no centro de tudo o que Lisboa (e arredores) tem de pior. De um lado fica o Bairro Estrela d'África (não sei se viram o filme “Ossos” do Pedro Costa) e não muito longe, para o outro lado, fica a famosa Cova da Moura ou o não menos famoso Bairro 6 de Maio. E, para chegar ao local da entrevista apanhei um taxi, para atravessar outra zona complicada – a Reboleira – de que guardo boas memórias de infância e onde passei várias férias de Verão em casa dos meus avós paternos. E, aqui começa a aventura de andar de taxi em Lisboa.

Entro no taxi e peço para me levar a Alfragide, ao local da entrevista. Como é sabido, os taxistas em Lisboa têm a fama de levarem os seus clientes a fazerem uns passeios turísticos, enquanto o taxímetro conta, e por isso achei estranho que tomasse aquele caminho e disse “Esta zona é-me familiar! A minha avô morava ali naquele prédio” e apontei para o edifício onde em tempos moraram os meus avós, no 11º andar.

O homem que mal tinha falado desde que começou a corrida explicou que havia um acidente algures e que por ali, naquele momento, era mais rápido. E continuou, agora que a conversa tinha começado, “Isto até podia ser uma boa zona, mas... É só pretos!”. Estava dado o mote para o resto da viagem. “O senhor, de manhã, nem consegue perceber se os transportes públicos têm vidros fumados ou não. É só pretos lá dentro!” continuou ele.

Nisto entrámos no IC19, que àquela hora nem estava nada congestionado, como gosto de o ver na televisão, no telejornal da manhã, captado por aquelas câmaras de berma de estrada que só deixam ver a mancha de carros a arrastar-se em direcção a Lisboa. Na faixa da esquerda está um carro, em marcha relativamente lenta, a dar o pisca para passar à faixa da direita. O fogareiro (“taxista” em lisboeta) diz calmamente “Eu não faço crochet, não lavo a loiça e não cozinho, porque é que estas gajas vêem para aqui fazer isto?” e cola a mão na buzina, até que a coitada da condutora consegue que lhe dêem um espaço entre dois carros na faixa da direita para entrar.

Fui à minha entrevista (que por sinal não deu em nada) e quando voltei pedi um taxi, para me levar de volta à estação do Metro. E nova aventura...

Ao contrário do outro fogareiro (“andam sempre na brasa”) este falava. E falava muito! Mal entrei para o taxi, diz ele, “Mais de 20 anos na marinha e foi preciso vir para esta cidade para apanhar uma sinusite. Mas vai acabar já em Agosto, porque vou passar a sociedade e voltar para casa.” E lá me contou a história da vida dele... Até que entrámos na Reboleira e começou de novo, com os ensinamentos da Frente Nacional.

“Aqui é só pretos! Tudo o que não querem em Lisboa vem parar aqui”. E veio à baila o facto de que nessa noite houve o assassínio de um taxista no Porto. Ao que ele diz, “Pois quando aqui entram três pretos, nunca sabemos onde vai acabar a corrida. Mas de uma coisa pode crer, aí onde está sentado, nunca um preto se sentou, comigo a conduzir este carro. Doenças de pretos não apanha o senhor aí!”

“Estive na Guiné e não tenho medo deles. Está a ver este?” aponta ele para um que atravessa a estrada “Não tinha problema nenhum em matá-lo.”

Nisto passa junto a uma esplanada, reduz a marcha e diz “Gostava de saber que rendimentos têm eles para passarem o dia todo ali a beber imperiais”. E eu atrasado para apanhar o Metro. Parecendo adivinhar o meu atraso, continuou em marcha lenta, com um braço de fora e apontar uma casa de penhores do outro lado da rua “Ali é só ouro gamado pelos ciganos!”. E continuou a visita turística. “Falam muito da Cova da Moura, mas aqui vende-se mais droga que lá” diz ele ao passarmos pelo Bairro Estrela d'África. “A polícia não faz nada, olha para eles a passearem” comenta ao passarmos pelo carro da PSP.

E chegámos à estação do Metro com ele a insultar um outro taxista que lhe roubou um cliente, porque respondeu ao rádio-taxi mais rápido que ele. Um cliente que segundo ele, porque o viu, era um ladrão de velhas e estava a chamar o taxi para ir comprar droga.

Duas viagens pelos subúrbios de Lisboa em menos de duas horas passíveis de fazerem com que qualquer um se quisesse alistar numa milícia urbana ou de limpeza de marginais ou de limpeza de taxistas.

Sim, porque andar de taxi em Lisboa é sempre uma aventura. Um mês antes desta história, estive um fim-de-semana em Lisboa (por sinal por causa de uma outra entrevista que me levou a ir a esta segunda entrevista) e uma dada noite de sábado, também apanhámos uns fogareiros engraçados em duas corridas.

O primeiro, numa corrida rápida entre o Príncipe Real e o Cais do Sodré, não disse uma palavra, mas assim que parou o carro em frente à estação dos comboios, perdeu as estribeiras. Mal parámos, um carro enfiou-se na traseira do taxi e homem saiu a correr a ver o que se passava. Pagámos e nem ficámos para ver...

A volta, já com uns amigos, foi subir a Av. Da República a 80 km/h com uma distância de menos de 5m do taxi da frente, a passar os semáforos todos como se fossem luzes de iluminação da estrada. E em alta discussão com o Pitta que, já com uns copos a mais, queria saber quem era o Jorge Perestrello que tinha morrido. Olhos nos olhos...

É assim a vida com os taxistas em Lisboa.

sexta-feira, julho 08, 2005

Mudar de vida

Em tempos no século passado, alguém me dizia, a propósito das recorrentes crises dos têxteis, que tudo seria mais fácil se pudéssemos proceder a uma renovação completa da classe empresarial, que permitisse superar o reconhecido défice de gestão.

Para concluir que, como tal não era possível, só nos restava a solução de trabalhar com os que existiam, com as suas qualidades e as suas deficiências.

Apetece, às vezes, ser mais radical e desejar mudar os portugueses. Proceder à enxertia de uma nova variedade lusa, apurada por engenharia genética, com mais capacidade de organização, mais autonomia e extirpada desse atávico sentimento de dependência que tanto tolhe os passos como desresponsabiliza. Enquanto tal não é possível, há que ir trabalhando com aqueles que temos, à espera que a educação acabe por produzir efeitos no espaço de algumas gerações.

Uma das características nacionais mais castradoras na actual fase do mundo é a aversão ao risco. Que a característica não é inata prova-o a capacidade de iniciativa dos portugueses de Quinhentos. Se é verdade que a necessidade aguça o engenho, o engenho esmoreceu ao peso do ouro dos brasis, que continuam a dominar o imaginário colectivo.

O paradigma em Portugal continua a ser a segurança de um emprego na função pública. Quem não troca o certo pelo incerto, olha com inveja para o sucesso dos que arriscaram e com escárnio para aqueles que falharam.

«Despeça-se já» era o lema da «Ideias &Negócios», a revista bandeira do movimento do empreendorismo. Parecia que estava a funcionar no final dos anos 90, com a economia a crescer e o desemprego a cair, mas foi uma ilusão. E uma das vítimas foi a própria «Ideias & Negócios», que acabou por desaparecer.

Não foi um caso de ter razão antes do tempo. Já era e continua a ser um dos nossos principais problemas. A ausência de uma classe empresarial capaz de assumir riscos, sem a asa protectora do Estado, e a dificuldade de atrair para o negócio uma nova geração capaz de gerar actividades com mais valor acrescentado.

Entre todos os que trauteiam o «Muda de vida» do António Variações, quem está disposto a passar à prática?

Luísa Bessa in Jornal de Negócios

No meu Moleskine (2)

"Será que tenho como destino na vida ser uma pessoa limitada pelos interesses dos outros ou só encontramos a nossa verdadeira felicidade quando somos nós mesmos e assumimos as nossas falhas?

Serei mais feliz se enganar os outros? Não acreditando em mim mas fazendo os outros acreditarem não estarei a querer enganar-me a mim? Não estarei a projectar nos outros uma imagem de mim que não corresponde ao verdadeiro eu, que não conseguirei preencher por razões óbvias?

Sendo eu, e não indo contra o meu verdadeiro eu, não estarei a ser eticamente mais correcto? A ética interessa?

Será a vida uma coisa tão cruel que teremos que nos passar por outros para a conseguir viver? Ou vivemos, nós, a nossa vida?

Não foi para isso que nascemos?

Nascemos para viver! Viver a nossa vida! Não a vida que os outras pessoas idealizaram para nós!

Só seremos felizes se formos nós, da mesma maneira que só nos sentimos em casa num sítio que se identifique connosco? E a vida que vivemos, hoje, é a nossa?

Não me obriguem a querer viver a vida que pensaram para mim! Não me pressionem para viver outra vida que não a minha!

Deixem-me viver a minha vida!

Será difícil pedir uma coisa tão simples? Será difícil aceitar um pedido tão singelo?

Eu amo e celebro a minha vida. A minha vida, não aquela que queriam que eu vivesse. Não é aquela vida que vivo hoje, mas aquela que me acompanha há quase trinta e seis anos.

Fiz boas e más opções ao longo da minha vida, mas fui eu que as fiz e portanto paguei por elas. Pequei por elas ou gozei com elas, mas vivi-as, E, sobretudo, aprendi com elas. Aprendi o suficiente para que hoje saiba que esta é a minha vida. E quero vivê-la!!!
"

in Moleskine (2) 07/07/2005 22:41

quarta-feira, julho 06, 2005

: : : 1-big-O [v15.0]

11 da Noite

Esta sexta-feira, dia 8 de Julho de 2005, a minha amiga Filipa Pato inaugura a sua adega com uma Fizz Party. Às 23:00, há DJs e vão haver exposições de fotografia, pintura e joalharia. Eu fui um dos convidados a expor algumas das minhas fotografias.

Porém como não tenho fotografias da Bairrada, a região onde a Filipa produz o seu vinho, não seria justo expor fotografias relativas ao vinho só com fotos do Douro, Minho ou Alentejo, ali. Por isso escolhi 11 paisagens nocturnas, uma vez que a festa é às "11 da Noite".

As 11 da Noite são as que apresento na esposição. Vejam-nas em aqui.

sexta-feira, julho 01, 2005

"Adoras desafios?"

Hoje foi o meu primeiro dia no novo emprego. Não queria ver ninguém! Ainda não quero ver ninguém. Optei por beber um porto, aqui, em casa, em vez de ir bebê-lo à Praça do Peixe, no Clandestino, porque não quero ver, nem falar, com ninguém.

A Cinzas faz-me companhia!

Não sei até que ponto aceitei o emprego porque achei uma coisa desafiante e que me vai levar a evoluir muito, ou se só o fiz porque não consigo lidar com a pressão da sociedade por estar desempregado. Tenho me questionado até que ponto vou ser valorizado se tiver sucesso e se estarei preparado para este novo papel.

Para quem não sabe o meu novo emprego é de Gestor de Projecto. Um nome pomposo para um cargo menos bem remunerado. É mesmo assim, quando se sobe e se recebe menos, tem-se nomes mais pomposos.

"Quero estar só e lamber as minha feridas (N.R.: Sou leão). Quero fechar-me e fugir da civilização. São todos uns chatos! Mas ao mesmo tempo sinto-me sozinho. Que incongruência" in Moleskine.

Por isso ao almoço, fugi. Não vim almoçar a casa, nem fui com os meus novos colegas. Peguei na Vesperina e fui até ao Forum passear. Comprei um hambúrguer no McDonald's e sentei-me num banco a ler um livro.

Porque é que os bancos do Forum estão virados para o Centro Comercial e não estão virados para a Ria? A vista é bem melhor se olharmos para o Canal Central.

O livro fez-me sonhar por momentos. Que bom... Mas o que me mais me surpreendeu foi a falta de capacidade dos empregados do McDonald's. Eu sei que eles são mal pagos e que só aceita aquele emprego quem está desesperado ou não tem idade para mais.

Trouxe um papel de candidatura a um emprego no McDonald's e vejam até que ponto podemos ser enganados. "Adoras desafios? Vem trabalhar connosco" "Tens vontade, ritmo, és descontraído, divertido e desinibido?" "Gostas de um bom ambiente de trabalho, és independente e queres escolher o teu próprio horário?" "Mostra a tua energia" "Faz a tua escolha" "Tudo o que precisas é começar" "Vem aprender com a McDonald's e agarra a tua oportunidade de carreira".

Percebem porque estou com second thoughts?