Em tempos no século passado, alguém me dizia, a propósito das recorrentes crises dos têxteis, que tudo seria mais fácil se pudéssemos proceder a uma renovação completa da classe empresarial, que permitisse superar o reconhecido défice de gestão.
Para concluir que, como tal não era possível, só nos restava a solução de trabalhar com os que existiam, com as suas qualidades e as suas deficiências.
Apetece, às vezes, ser mais radical e desejar mudar os portugueses. Proceder à enxertia de uma nova variedade lusa, apurada por engenharia genética, com mais capacidade de organização, mais autonomia e extirpada desse atávico sentimento de dependência que tanto tolhe os passos como desresponsabiliza. Enquanto tal não é possível, há que ir trabalhando com aqueles que temos, à espera que a educação acabe por produzir efeitos no espaço de algumas gerações.
Uma das características nacionais mais castradoras na actual fase do mundo é a aversão ao risco. Que a característica não é inata prova-o a capacidade de iniciativa dos portugueses de Quinhentos. Se é verdade que a necessidade aguça o engenho, o engenho esmoreceu ao peso do ouro dos brasis, que continuam a dominar o imaginário colectivo.
O paradigma em Portugal continua a ser a segurança de um emprego na função pública. Quem não troca o certo pelo incerto, olha com inveja para o sucesso dos que arriscaram e com escárnio para aqueles que falharam.
«Despeça-se já» era o lema da «Ideias &Negócios», a revista bandeira do movimento do empreendorismo. Parecia que estava a funcionar no final dos anos 90, com a economia a crescer e o desemprego a cair, mas foi uma ilusão. E uma das vítimas foi a própria «Ideias & Negócios», que acabou por desaparecer.
Não foi um caso de ter razão antes do tempo. Já era e continua a ser um dos nossos principais problemas. A ausência de uma classe empresarial capaz de assumir riscos, sem a asa protectora do Estado, e a dificuldade de atrair para o negócio uma nova geração capaz de gerar actividades com mais valor acrescentado.
Entre todos os que trauteiam o «Muda de vida» do António Variações, quem está disposto a passar à prática?
Luísa Bessa in Jornal de Negócios
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