Em quinze anos, a província de Málaga alterou a sua especialização produtiva implantando a economia do conhecimento no seu dia-a-dia.
O «milagre» deveu-se à criação em 1992 do Parque Tecnológico da Andaluzia (PTA), nos arredores da cidade de Málaga, terra natal de Pablo Picasso. No ano passado, o PTA facturou mais de 1000 milhões de euros (mais do que o Taguspark, o maior parque tecnológico português) através das 375 empresas e entidades ali sediadas, a maioria das quais nasceu ali. Só nos últimos doze meses, foram criadas 100 «start-ups».
De uma zona agro-turística, inserida na conhecida Costa del Sol andaluza, o PTA mudou radicalmente a paisagem económica, equivalendo hoje a 1/4 do PIB gerado pelo turismo e representando 1,5 vezes o produto gerado pela agricultura local. Este papel de mudança valeu-lhe ser considerado, internacionalmente, como modelo de pólo tecnológico em regiões menos desenvolvidas. «Representamos, de facto, um exemplo de como se pode transformar toda uma região, criando um ambiente de inovação e de economia do conhecimento onde anteriormente nada existia», afirmou ao EXPRESSO Felipe Romera Lubias, director-geral do PTA, que é, também, presidente da Associação dos Parques Científicos e Tecnológicos de Espanha (APTE). O próprio impacto em toda a Andaluzia (7,3 milhões de habitantes) é significativo — o investimento privado em Investigação & Desenvolvimento (I&D) no pólo tecnológico representa 25% de todo o investimento empresarial na região andaluza.
O PTA criou «excelente visibilidade tecnológica numa região que não o era de todo», sublinha Romera, que acrescenta: «Se em alternativa tivéssemos investido no turismo os 150 milhões de euros de fundos públicos — 25% de um total de 600 milhões investido no parque desde 1992 —, duvido que os resultados viessem a ser semelhantes. Não creio que criássemos um novo sector de desenvolvimento, o do conhecimento, que tem muito mais valor acrescentado do que os sectores tradicionais».
Líder em Espanha
O peso tecnológico do PTA é hoje reconhecido em Espanha: lidera em número de projectos de I&D financiados por fundos públicos em parques tecnológicos e ocupa, por ora, o primeiro lugar em investimento público, logo seguido pelo Parque de Investigação Biomédica de Barcelona (que abriu em Maio deste ano e que já mobilizou uma verba de 11 o milhões).
O modelo é, por isso, «cobiçado» na América Latina e no Magrebe. «Mais do que os nossos êxitos em transformar uma região agro-turística, procuramos transmitir-lhes os nossos erros, para que não os repitam», conclui Felipe Romera.
Jorge Nascimento Rodrigues
in Expresso 2 de Setembro de 2006
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