Há umas semanas recebi uma carta para ir prestar depoimento ao Mistério Púbico (N.R.: Nome fictício) de Aveiro, relativamente à queixa-crime, sobre desconhecido por uso abusivo dos meus dados, que apresentei na polícia em dezembro do ano passado.
Na data prevista, uns 10 minutos antes da hora prevista, dirijo-me ao edifício do Tribunal e apresento-me na recepção com a carta de notificação.
- "É naquela sala!" – aponta a senhora, para o canto mais escuro do edifício - "Pergunte à senhora que está no guichet à entrada."
Atravessei o hall e andei cerca de 20 metros para encontrar por detrás da porta daquela sala apontada, um outro guichet onde uma senhora, mais ou menos da mesma idade, me disse, depois de olhar para a notificação:
- "É ali naquele balcão!" – apontou para o fim da sala - "Pode sentar-se e aguardar!"
"Lindo! Não era mais simples usar umas placas?" – pensei eu e sentei-me. Reconheço uma cara conhecida, que se levanta da secretária e dirige-se a mim. Apresento-lhe a notificação e depois de consultar um colega, diz-me para aguardar.
No entretanto reparo numa rapariga gira, bem vestida, de pé e com um portátil a tiracolo que muda de perna de apoio como se estivesse impaciente. Aparentemente estava ali antes de mim... Mas um dos funcionários, mais novo e com ar de engatatão, vem à frente e pede-lhe desculpa, porque aparentemente ninguém a tinha visto. Como se fosse possível...
Nessa altura sou chamado pelo funcionário que está a tratar do "meu caso". Um homem de meia idade com ar de quem não gosta muito de ali estar, mas que poucas outras chances teve na vida. Sento-me junto à sua secretária para fazer o meu depoimento. E começa ele:
- "Explique-me lá o que se passou!" - e começo com a triste história do abuso de identidade (vide episódios anteriores desta série). E acrescento os dados novos sobre a conta bancária, que ainda não faziam parte do processo, porque não eram conhecidas à data da queixa.
- "O senhor sabe que isto não vai dar em nada? Não se preocupe, o que mais há por aí é casos desses e não dão em nada." – diz-me ele com ar de quem não está para se preocupar muito com o meu depoimento – "Tem a certeza que quer manter a queixa?"
- "Obviamente! Até que estejam as coisas resolvidas e a minha inocência seja provada a queixa mantém-se!" – digo eu convicto.
- "Ok! Então vamos escrever o seu depoimento!" - diz ele com algum tédio.
E pega num modelo de depoimento com o típico "No dia tantos do tal o depoente fulano de tal declarou que"... ao que acrescentou, mais à frente, conforme
- "A assinatura não é a minha, embora a escrita de alguns dos nomes sejam parecidos, como se tivesse tido acesso a parte da minha assinatura!" – eu depus.
Ao que ele escreveu:
- "o deopetne dclaruo equ a assiantrura no contratco não è a sua mas quie amdiety podasa ser mer portew semerlasmntrew" - parando de seguida a contemplar a sua escrita e voltou atrás ao início da frase e apagou e voltou a escrever palavra a palavra até que finalmente ficou:
- "o depoente declarou que a assinatura no contracto não è a sua mas que admite possa ser em porte semelhante."
E continuamos assim durante duas páginas de depoimento.
2 comentários:
Amigo, isto só pode ser um filme do Alfred mas com um guião escrito pelo Kafka. Pelo amor de Deus...
Um abraço para ti e uma beijoka grande para a Cláudia. Espero que tudo esteja a correr bem...
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