quarta-feira, outubro 08, 2008

Equipas à prova de ócio

A produtividade estimula-se, a ociosidade combate-se. A Canon realizou um estudo europeu que demonstra que quanto melhor conhecer o perfil produtivo dos seus colaboradores, mais fácil é colocar a facturação da sua empresa nos níveis máximos


Quantas vezes já se questionou sobre as razões para a quebra de produtividade da sua equipa? Quantas já tentou delimitar estratégias para ultrapassar o problema, sem sucesso? Saiba pois, que o segredo da produtividade reside em equilibrar os diferentes perfis de desempenho (porque os há!) dos seus colaboradores e que os equipamentos de trabalho determinam o rendimento da empresa. As conclusões são avançadas num estudo, encomendado pela Canon Europa a uma psicóloga comportamental, e revelam dados tão curiosos como o peso de uma impressora no desempenho diário de uma equipa.

Trabalhadores mais produtivos de manhã, outros que atingem maior rentabilidade laboral logo a seguir ao almoço, colaboradores que registam o maior pico de energia a meio da tarde ou os que canalizam o seu pico de produtividade máxima para o final da tarde... o universo empresarial europeu tem de tudo e a psicóloga comportamental Donna Dawson resumiu estes perfis em quatro tipos de personalidade, com impactos directos na produtividade em equipa: os «Morning Glories», os «Late afternoon slumpers», os «Midday Maestros» e os «Lunchtime loungers» (ver caixa).

O estudo conduzido pela especialista, a pedido da Canon, teve a sua fundamentação num estudo pan-europeu realizado pela ICM Research que observou 5500 trabalhadores em 18 países europeus, Portugal incluído. Na sequência de um estudo da empresa líder em soluções de imagem que revelava que os trabalhadores tendiam a ser produtivos apenas durante um quarto do seu dia de trabalho, a organização quis compreender como é que os padrões de produtividade controlam a forma como as pessoas desempenham a sua actividade laboral.

Com base nas conclusões alcançadas, tornou-se claro para a Canon que "através da identificação dos tipos de personalidade dos colaboradores, os líderes podem gerir a produtividade dos grupos de trabalho de forma mais eficiente". Uma eficiência que pode passar por formas de motivação individual que trocam as compensações financeiras pelo poder do reconhecimento. À luz do estudo, "85% dos colaboradores afirmam que o reconhecimento e as palavras de louvor dos colegas mais velhos os tornam mais produtivos e motivados" e 80% apontam o aumento de salário como forma de motivação. Estratégias com impacto positivo que chegaram a atingir aumentos de produtividade na ordem dos 90% na Hungria, Espanha e Roménia, países também analisados nesta pesquisa.

Conclusões que não surpreendem Donna Dawson. "O ser humano tem necessidade de ser reconhecido e de se sentir útil no seu local de trabalho". Para a especialista, "os incentivos financeiros funcionam bem para motivar a curto prazo, mas saber que os seus colegas e chefe apreciam o seu trabalho é mais duradouro pois é o sentimento de apreço que motiva o trabalhador a levantar-se de manhã".

A tentativa de tirar o melhor partido dos colaboradores que tem lança pois grandes desafios aos gestores de recursos humanos e líderes de equipa actuais. Segundo Donna Dawson, "os funcionários são improdutivos em cerca de um quarto do tempo que passam a trabalhar". A estimativa preocupa a Canon e outras organizações levando a especialista a considerar que “as chefias devem criar grupos de trabalho equilibrados, agrupando indivíduos de acordo com o seu comportamento produtivo”.

As energias e ritmos naturais de cada um devem ser respeitados de forma a criar-se uma equipa equilibrada e complementar entre si. "Os «morning glories» são ideais para começar a trabalhar num projecto logo de manhã, mas assim que a sua produtividade baixar, é bom ter na equipa um «midday maestro» que continua o trabalho, mantendo assim a produtividade sempre no máximo", refere a psicóloga, assegurando que "uma equipa que contenha estes quatro tipos de personalidade é a melhor nos resultados a longo prazo".

Uma ideia também corroborada por Adam Gillbe, director europeu de Marketing de Soluções da Canon Europa, para quem "pode existir uma grande variedade de personalidades dentro da equipa ou da empresa. Ao identificar o porquê e quando cada indivíduo está no seu topo de produtividade, as chefias podem garantir o melhor funcionamento da equipa como um todo".

Mas, em matéria de produtividade, a pesquisa divulga outras conclusões curiosas. O estudo revela que "mais de metade dos trabalhadores de escritório (53%) em toda a Europa identificam os altos cargos da empresa como os membros menos produtivos das equipas". Por sua vez, os 304 trabalhadores inquiridos em Portugal apontam os assistentes como os trabalhadores mais produtivos das organizações. Mais uma vez, a avaliação não espanta a especialista que sugere "quanto mais se sobe no mundo empresarial, mais se delega tarefas. Os assistentes que recebem todas essas são aqueles que mais trabalham, porque necessitam de justificar o seu trabalho e proteger a reputação daqueles que lhe são hierarquicamente superiores".

Uma justificação a que Adam Gillbe acrescenta: "as pessoas julgam a produtividade apenas a partir do que vêem. Os cargos superiores estão tendencialmente fora da empresa em reuniões, enquanto os assistentes passam normalmente mais tempo nas empresas. Pode não ser verdade, mas na mente dos trabalhadores a presença de uma pessoa no escritório está directamente ligada à sua produtividade".

Produtividade essa que pode ser posta em causa não apenas pela má conjugação de perfis profissionais mas também, imagine-se, por uma impressora. Na verdade, uma das conclusões deste estudo revela que para 46% dos inquiridos (sobretudo portugueses e espanhóis), um investimento na melhoria das impressoras do escritório traria benefícios imediatos na produtividade laboral”.

Mas, e quando estão improdutivos, como recarregam estes profissionais as sua baterias para o regresso ao trabalho? Para 17% dos inquiridos a conversa com colegas de escritório representa a pausa perfeita, enquanto 23% apontam o exercício físico, 27% preferem a pausa para café ou chá e 26% não dispensam a siesta.

Formas de recuperar a energia para continuar o trabalho e alcançar a produtividade que têm impactos directos e visíveis nos resultados de facturação das empresas. Adam Gillbe conclui mesmo: "a produtividade é agora uma questão central para os gestores que procuram sempre uma forma de melhorar as suas equipas de trabalho aumentando a sua produtividade". Seja através de alterações na estrutura das equipas, na organização do trabalho ou até na tecnologia que colocam aos dispor dos seu colaboradores, existem inúmeras oportunidades para as empresas desenvolverem uma força de trabalho mais produtiva e as organizações parecem estar dispostas a não desprezar os sinais de alerta à necessidade de mudanças.

O perfil dos produtivos

O estudo da Canon detectou quatro perfis de produtividade que podem fazer a diferença no seio de uma organização. Quantos destes tem na sua empresa?

«Midday Maestros»: Estão no seu pior durante a manhã, demoram um pouco até acordar e conseguir trabalhar a sério. Muitas vezes, só a meio da trade atingem o seu auge. São sociáveis, conversadores e têm hábitos noctívagos, mesmo durante a semana. Este tipo de personalidade é sobretudo forte na Itália, Suécia (67%) e na Finlândia (66%).

«Morning Glories»: Registam o seu auge de produtividade logo pela manhã, tendo dormido bem na noite anterior, mas quebram após o almoço. São organizados, autodisciplinados e eficientes, sabendo o que é preciso para que as coisas fiquem feitas. Dos países onde foi realizado o estudo, a Alemanha é o que regista menor taxa de improdutivos de manhã (12%). Quase todos os «morning glories» entram em colapso produtivo logo após o almoço, com excepção dos britânicos que atrasam esse colapso para o final da tarde.

«Lunchtime Loungers»: Amantes da boa vida apreciam a comida e bebida e por isso o seu lema de vida é “a vida é para se viver, não para se matar a trabalhar ou ficar stressado no escritório”. Daí que a meta destes profissionais seja manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, desfrutando de longos almoços, mas compensando o tempo perdido em períodos de alta produtividade ao final da tarde. Este tipo de perfil é próprio dos países mediterrânicos, como Itália e Espanha, que culturalmente ainda desfrutam da «siesta».

«Late afternoon slumpers»: Sentem-se mais enérgicos logo a seguir ao almoço mas é sol de pouca dura. Ao final da tarde esta energia já se dissipou. Ambiciosos e trabalhadores estes profissionais sabem que precisam de estar em óptimas condições para terminar o seu trabalho e encaram a comida como combustível para aumentar os seus níveis de energia.

in Expresso Emprego, 02/10/2008 por Cátia Mateus

Sem comentários: