segunda-feira, novembro 19, 2007

O homem-bomba e a pomba armadilhada

Confesso que pela primeira vez gosto (um bocadinho) de uma música do Jorge Palma.

Quando ele bebia eu não tinha paciência para o aturar, e quando deixou de beber ficou ainda menos suportável. Mas agora, depois de todo o álcool ter sido exorcizado parece que finalmente o homem começa a acertar com o tino.

Porém, há coisas que ainda me deixam algo confuso, no tema dele que penso gostar – “Encosta-te a mim”. Algumas coisas que ainda devem ser resquícios do seu passado de alcoólico e que devem por vezes trazer ao de cima algumas coisas, que a nós no exterior da sua mente, parecem algo anacrónicas, desconexas ou provenientes de uma dislexia. Se não vejamos:

A primeira parte da letra até é engraçada e gosto do jogo de palavras, de alguém que "Chegado da guerra" e que fez "tudo p´ra sobreviver em nome da terra, no fundo p´ra te merecer" pede "recebe-me bem". Até acho bastante romântico… Gosto do “deixa ser meu o teu quintal”, um piropo engraçado! E até desculpo o "nós já vivemos cem mil anos" que aparece ali meio desamparado e que é desculpado com um "talvez eu esteja a exagerar", mas que como é no início da música, soa a deixa para começar a conversa.

Mas revolta-me quando o homem sai-se com um "recebe esta pomba que não está armadilhada", numa alusão (penso eu) à paz podre que se vive. Ou pior, quando ele diz "vai beijar o homem-bomba", que até faz esquecer o mau "vai desarmar a flor queimada" exactamente anterior, e deita por terra uma música que até aí até estava a correr bem.

Eu não sei se é influência dos ataques às torres gémeas, ao terrorismo em geral ou dedicada ao retorno dos soldados a casa, sei lá, mas parece-me despropositado o "vai beijar o homem-bomba". Aliás porque se ele quer que alguém se encoste a ele não lhe pede para ir "beijar o homem-bomba". Talvez seja um tema dedicado ao stress pós-traumático dos soldados, porque depois diz "quero adormecer", mas… Pena que não o tenha feito – adormecer - antes de escrever a história do homem-bomba e da pomba armadilhada. Fica ali meio deslocado.

Mas pronto! Fiquem com a letra:

"Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra,
fiz tudo p´ra sobreviver em nome da terra,
no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem,
não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói,
não quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra,
fiz tudo p´ra sobreviver em nome da terra,
no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem,
não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói,
não quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim
"
Jorge Palma

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