terça-feira, abril 19, 2005

Músicas

Eu gosto de ouvir música. Desde miúdo que me lembro de gostar de ouvir música. Tinha mais de uma centena de cassetes e tenho, hoje em dia, mais de duas centenas de CDs. Comprei um leitor de MP3 (Zen Micro) há duas semanas para poder ouvir música em qualquer lado.

E, sim! Gostei dos Duran Duran no tempo do My Own Way (1981), que provavelmente foi o primeiro single que comprei, ainda em vinil. Numa altura em que ninguém imaginava o que era um CD (nascido a 1982), quase da mesma maneira que hoje a maioria dos miúdos não sabe o que é um disco de vinil, fazendo jus à Alegoria da Caverna. Embora os discos em vinil ainda existam e estejam em plena forma em alguns circuitos musicais, estando mesmo a retornar como uma peça de decoração ou colecção.

Mas não estou aqui para falar dos meus gostos musicais. Falaremos disso mais tarde! Estou aqui porque me choca como é que certas músicas conseguem ter tempo de antena e há outras, que com indiscutível qualidade, não passam do leitor de lá de casa. E, em especial no mercado da música portuguesa, como é que bandas como os comendadores Xutos e Pontapés continuam a editar discos, um bocado como os Rolling Stones, e a encher plateias com músicas que roçam a mediocridade e letras que de tão pimba fazem corar a Rute Marlene?

Se não vejamos: "Se gosto de ti se gostas de mim, Se isto não chega, Tens o mundo ao contrário" é uma letra do Emanuel? Ou "Ai se ele cai, Vai-se partir, Meu coração, Vai-se partir" parece saído de uma letra do Toy. Já para não falar na alusão à vida simples do dia-a-dia na frase "Vou tirando fotocópias e vou pensando em ti". Fotocópias? Porque não "Vou limpando o chão e pensado em ti"? Porque quem tira fotocópias tem uma vida simples, mas tem dinheiro para comprar o CD, mas quem limpa o chão não tem.

Depois há frases profundas como "Mede bem a importância, Dum pequeno pormenor, Um parafuso no foguetão" (no site oficial dos Xutos e Pontapés, na secção das letras, está "foquetão" mas para quem consegue escrever "necessáriamente" um pouco antes, nem surpreende). Todas estas letras são do Tim que ao fim destes anos todos ainda não aprendeu a cantar. Podia seguir o exemplo da Madonna que já depois de ser quem é, decidiu que não estava satisfeita e teve lições de canto. Mas isso era pedir muito...

No entanto o Zé Pedro consegue escrever melhor (o que nem é difícil), como em:
"Diz-me
Que pode fazer um homem
Quando as portas estão fechadas
E as ajudas não chegam

Diz-me se uma mulher
não é dona do seu corpo
E se dá tudo para o torto
E acaba no tribunal

Diz-me
Se fazem as leis por medida
Para ficarem na gaveta
E nos fazerem de tolos

E então
Vão nos dando futebol
Põe-se o norte contra o sul
É dividir para mandar

Diz-me
Se estão a favor da guerra
Se não deixam de lado a terra
E vão-se esquecendo de ti

Diz-me
Se o que parece é
Vivemos fora de pé
Num completo desgoverno

E então
Tem de haver informação
Tem de haver participação
Na vida de todos nós

E tu
Se isto não te diz nada
Olha para a rapaziada
Vê a vida que o povo tem
Vê a vida que o povo tem
Vê a vida que o povo tem
"

Depois há os Toranja! Os Toranja que têm umas músicas muito bonitas e um cantor, que canta tão bem, que parece o Zé Cabra. A diferença é que o Zé Cabra era gozado e este ganha prémios... Oiçam o último single "Laços"! Já não ouvia nada tão mal cantado desde que o Paulo de Carvalho abandonou a música.

E os Da Weasel? Ai! Que até me custa falar nestes presunçosos que toda a gente gosta e que não têm ponta por onde se lhe pegue. Então aquela Nina a quem ele promete "Vou levar-te para casa - tomar conta de ti, Dar-te um bom banho, vestir-te um pijama, e… Fazer-te uma papinha, meter-te na caminha, Ler-te uma historinha e deixar-te bem calminha", parece saído de uma história infantil para adultos. Uma letra digna de constar no Guinness como a letrinha mesmo "bem magra" e que pode acabar "com o stock nacional de Viagra".

Eu só acredito que para se ser alguém em Portugal tem que se ter amigos e muita falta de vergonha. Nas artes como na política nacional, quem tem padrinho ou amigos pode muito bem dedicar-se a ser "artista". E muitos destes senhores são o que são porque têm amigos na rádio que os passam insistentemente sem que haja pachorra para os aturar. E, por cada artista, que realmente é bom, e chega a ser conhecido, há uma larga dezena de outros que ficam pelo caminho porque não têm amigos ou padrinhos.

E temos a música que merecemos?

2 comentários:

Anónimo disse...

é preciso ter amigos para se ser uma estrela em portugal?? lol, epah é assim eu acompanhei o crescimento dos toranja desde que nasceram e digo-te, so ha cerca de 2/3 anos é que eles começaram a dar espectaculos EM FEIRAS. Tipo, eles tiveram uma evoluçao muito gradual, pequenos passos, ate chegarem onde chegaram! E agora vens tu dizer que ele canta mal? epah vai.te fdr! Ele canta com alma, e a voz dele não se pode dizer que é a melhor, mas tb n é ma! So para nao dizer que eles sao a banda portuguesa que melhores letras tem! Melhores que eles, so mesmo os ja extintos ornatos violeta! n percebes um cu de musica portuguesa, n percebes que rock nao tem necessariamente que fazer sentido (to a flr dos xutos), mas sim que divertir as pessoas. E vem me uma gaja kk ofender xutos? mais valia tares calada. passa bem

Rui Gonçalves disse...

Caro João,

Compreendo o que queres dizer, mas não é porque se dá concertos nas férias que uma banda é boa ou má. Aliás conheço muitas bandas que faziam férias sem dar concertos e as bandas de baile é nas férias que dão mais concertos e muitas delas são formadas por excelentes músicos.
Mas uma coisa é certa, EU sou da opinião que ele canta mal e "as opiniões são como as vaginas quem quer dá-las, dá-las", e apesar de eu não ter uma vagina, posso dar a minha opinião, assim como tu o fizeste e por isso respeito-a.
Quanto aos Xutos e às suas letras, digo-te que desde o "Cerco" que poucas coisas fazem que valem a pena. E sem dúvida concordo contigo que os Ornatos Violeta eram melhores que esses todos, mas por alguma razão acabaram, não é?
Continua a divertir o pessoal...