terça-feira, março 09, 2010

Geocaching em Portugal já reúne cinco mil jogadores

Encontrar objectos com a ajuda da Internet e de GPS tornou-se um jogo de aventura
Por LUÍS PEDRO CARVALHO

Ver Caça ao tesouro do séc. XXI

Quem nunca brincou ao "quente e frio", procurando um objecto seguindo as pistas dadas pelos companheiros de jogo? Hoje, a diversão transformou-se numa caça ao tesouro tecnologicamente avançada, praticada por verdadeiros "Indiana Jones". É o "geocaching".

"Ali atrás, acho que temos algo escondido para nós…", observa Carlos Beleza enquanto olha para o seu avançado receptor de navegação por satélite (GPS). Seis aventureiros seguem a dica e começa a caça ao tesouro na Serra da Lousã.

Os seis "geocachers" (jogadores munidos de GPS) partem então à descoberta do primeiro de vários objectos escondidos por outros praticantes desta actividade, que, em Portugal, conta já com cinco mil pessoas. Em todo o Mundo, contam-se cinco milhões.

Os "tesouros", a que chamam "caches", são procurados através de coordenadas, previamente publicadas numa das várias páginas da Internet dedicadas ao jogo. "Estamos a 137 metros da 'cache', mas vejam o desnível. Vamos ter de descer uns cem metros", informa Carlos Beleza, enquanto olha para o pequeno GPS pendurado no pescoço.

Em plena Serra, o grupo encontra porta-chaves, jogos electrónicos e mais umas pequenas peças, todas cuidadosamente abrigadas em pequenas embalagens e que podem ser trocadas aquando a descoberta.

Após o achado, os caçadores deixam o nome na própria "cache", que se manterá no mesmo local à mercê de outros jogadores.

Ser "Indiana Jones" não é fácil. É preciso ter alguma preparação física e capacidade de sacrifício. Na primeira "cache" de um sábado cinzento, nos Moinhos de Água da Lousã, o GPS de Carlos Beleza, um professor de electrónica com 53 anos, indica a proximidade de um objecto. O grupo embrulha-se na vegetação, percorre um caminho íngreme, mas o caudal de um ribeiro troca-lhes as voltas.

A "cache" referenciada pelo GPS não será descoberta. O ânimo não esmorece. Os jogadores voltam a consultar o navegador. A esperança renasce. Desta vez, o objectivo é cumprido: encontram uma "cache" constituída apenas por um bloco de notas e por uma folha com as regras do jogo.

A caixa - cujo local o JN não pode revelar por uma questão de cortesia com todos os jogadores - só foi retirada do esconderijo após alguma ginástica. Os jogadores deixam uma referência do género "estive aqui" dentro da embalagem e partem para nova descoberta.

"Este local é espectacular", diz Pedro Brandão, de 39 anos, professor de Física e Química, enquanto olha para a paisagem verdejante.

A essência do "geocaching" é isto mesmo, explicam os jogadores. "Dar a conhecer um local especial" aos outros praticantes desta actividade, que nasceu com o fim das restrições ao sinal de GPS no ano 2000, acrescenta Paula Beleza, uma doméstica de 45 anos.

Neste dia, o filho de Silvana Brandão, 36 anos, não veio, mas muitas vezes acompanha a mãe. "É uma forma de o tirar de casa e de o enriquecer culturalmente", afirma, à terceira descoberta do dia, algures por entre caminhos de terra batida e lama da Serra da Lousã.

Os nove aparelhos de GPS que o grupo transporta apontam agora para a aldeia de Catarredor. O novo objectivo está escondido numa pequena clareira, só alcançada depois de uma cuidadosa travessia por um tronco de árvore. É necessário não estragar nada. Percebe-se que a preservação da natureza é uma preocupação dos jogadores.

Às cinco da tarde, com uma única paragem a meio da manhã para um lanche, o grupo já tinha descoberto cinco "caches". Ao longo da jornada provaram-se licores regionais e doces de castanha, servidos num pequeno café regional da aldeia de Gondramaz.

Em jeito de balanço de um dia inteiro dedicado à caça do tesouro, Carlos Beleza revela que não gostou do resultado: "Já devia ter encontrado 35", dizia sorridente, enquanto já pensava nos objectivos que iria encontrar na estrada de regresso a casa.

in Jornal de Notícias 08/03/2010

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