segunda-feira, outubro 02, 2006

A minha vida dava um filme do Hugh Hudson

Ontem acordei às 7:00, vesti uns calções e camisa de lycra, e coloquei a bicicleta no tejadilho do carro do Pisco. Fomos para uma terra com um nome que nunca pensámos existir. Crastovães, ali para os lados da Trofa do Vouga. Íamos fazer a Maratona do Vale do Vouga, na sua versão mais curta, de 40 km.

Maratona do Vale do Vouga

Nem consigo lembrar-me da última vez que andei uma distância na minha bicicleta – a Vaynessa - digna de ser memorizada. A última que me lembro foi há cerca de um ano, numa tarde de sábado pelos campos do Vouga e sem subidas, mas com uma sandes de leitão em Angeja para temperar forças. Uma coisa é certa, há 4 meses que não faço nenhum exercício com regularidade, a não ser mudar fraldas e carregar os quase 7kg do Baltasar.

Tentei preparar-me para o evento. Andei uns quilómetros na semana passada. 25 na quarta-feira, 18 na quinta-feira e 12 no sábado. Depois de 25km que fiz na quarta-feira, na quinta-feira senti alguma dificuldade em sentar-me. Já não sabia o que era essa sensação há uma dezena de anos. Ontem quando me sentei na bicicleta ainda sentia alguma dor nas nádegas. É tempo a mais sem andar sentado naqueles bancos e peso a mais sobre os glúteos.

Às 9:20 foi dada a partida e seguimos durante 2km em grupo até à largada. Foi a confusão. Cerca de 400 ciclistas a tentarem passar em caminhos que, nalguns sítios, mal dava para estarem dois a par. "À esquerda", "à direita" e lá iam eles, todos cheios de pressa. Eu mantinha-me ali, no meu ritmo e à espera que me deixassem em paz, porque eu fui passear.

Mal entrámos na lama apercebi-me que não ia ser fácil. A bicicleta já não era branca, azul ou vermelha, era castanha e havia barulhos que não eram normais. A velocidade mais baixa não entrava com a lama a atrapalhar e as primeiras subidas tiveram que ser feitas a pé, a empurrar a bicicleta. Mas não podia ser de outra maneira porque nessas alturas aglomerava a horda de ciclistas mais lentos, ciclistas com pneus que deslizavam na lama ou ciclistas mais azarados com avarias.

altimetria

Perdi os meus companheiros. Alguns conhecidos passavam e cumprimentavam. Eu seguia o meu ritmo, cada vez mais desejoso que passassem todos e ficasse para último. O civismo de alguns deixava muito a desejar. O Pisco esperou por mim e mais à frente encontrei-o. O Nuno teve um furo, juntámo-nos e seguimos os três em ritmo de passeio. Estradões largos, lama, água e bastante alcatrão, algumas das coisas que não agradam muito a um bttista.

eu e o pisco

Quase no final da temida "grande subida" estava o Ken e a Sue à minha espera (as fotos são deles), mas ainda estava a meio caminho. Pensando que eram 40km, como dizia no site, fiquei contente quando, no fim da descida, o conta-quilómetros marcava 30km. Mas seguiu-se a pior subida. Uma parede de escalada com lama, para quem já tinha tantos quilómetros em cima. Mas o ponto fulcral de desmoralização foi quando marcou 40km e estava ainda na ponte medieval perto de Lamas do Vouga, sabendo que Crastovães ficava lá em cima do monte, que naquela altura era já muito alto. Pensei em telefonar para a organização e dizer que não passava dali, porque só tinha pago para andar os 40km.

a temida subida

Mas subi tudo! Mesmo com as chatas das motos da organização a passar sem qualquer tipo de respeito pelos concorrentes e com a desmoralização de ver quatro tipos que tinham feito 80km, passarem por mim como se tivessem acabado de partir. Ainda tive um princípio de cãibras e caí por causa disso, num local em que um tipo disse estar lá o diabo, porque o levou a sair do caminho e quase cair. Acho que eu ainda conseguia estar melhor que ele, pois não vi o demo.

Cheguei ao fim, depois de 4h de bicicleta para fazer 47km. O meu objectivo era fazer os 40km antes das 13:00, uma vez que a partida era para ser às 9:00, o que daria uma média superior a 10km/h. Fiz os 40km às 12:30, quando partimos às 9:20 e fiz no final uma média próxima dos 11,5km/h. Bati o meu objectivo!

Hoje dói-me todos os músculos, tendões, articulações e ossos do meu corpo. Há partes do meu corpo que, ou não sabia que existiam, ou já não me lembrava que faziam parte da minha existência física. Não tive problemas cardíacos ou respiratórios, pois esses orgãos ainda são os que mais têm trabalhado, mas tudo isto mexeu com a moral. Mesmo sabendo que cumpri os meus objectivos sei que podia fazer muito melhor e como dizia o outro "does the mind rules the body or does the body rules the mind?" E no estado de cansaço físico que estou hoje é complicado pôr a mente a trabalhar.

Tenho que andar mais de bicicleta! Quando vamos dar outra volta?


Nota: Dedico esta crónica ao meu amigo Nuno Arroteia que se cortou numa mão, ao colocar a bicicleta no carro, quando se preparava para ir à Maratona. Apanhou 9 pontos e não pode participar.

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