Segunda-feira fui à Figueira da Foz assistir, ao vivo, ao programa Prós e Contras da RTP1. Não tinha convite, mas a sala era suficiente para albergar toda a gente. Desde os autarcas de bigode e as suas esposas, claramente vestidas como se fossem para um casamento ou baptizado, como se aquele fosse o maior evento do ano na sua terra, até aos convidados, naturalmente de fato e gravata, passando pelos espectadores, que se vestiram mais formalmente, uma vez que podiam aparecer na televisão.
O programa versava as "Vidas electrónicas - A inovação e criatividade das redes ao serviço das empresas" e como convidados principais tinha o Prof. Borges Gouveia da Universidade de Aveiro, o Diogo Vasconcelos da Cisco, Eng. Paulo Nordeste da PT Inovação e o Dr. Carlos Zorrinho coordenador nacional do Plano Tecnológico. Depois haviam vários outros convidados espalhados pelo público representando a Universidade de Aveiro e a de Coimbra, a Microsoft, o parque BioCant, a autarquia local e diversas empresas de base tecnológica de Braga e Lisboa.
Aparentemente Aveiro até que parece bem representada, com 50% do painel principal e ainda com uma delegação de imensos professores da Universidade e ainda representantes do programa Aveiro Digital. Porém, se virmos nenhum (excepto o Prof. Pedro Almeida que foi falar do "Second Life") teria menos que 40 anos, e de todos os que falaram nenhum teria menos de 50 anos. O Prof. Assunção que falou em nome da Universidade de Aveiro perdeu-se nos seus próprios pensamentos sem conseguir sequer dar a imagem de dinamismo que a Universidade tem. O vice-reitor da Universidade de Coimbra conseguiu "vender" muito melhor o seu produto, mesmo podendo ser claramente inferior em termos de inovação (que penso ser).
O Prof. Borges Gouveia foi mostrar galhardetes e falar do que faziam, há 30 anos, ele e o seu amigo Dr. José Salcedo – Multiwave. Este último esteve muito mais à altura da inovação que se pretendia no programa, mostrando uma atitude muito mais empreendedora, muito mais crítica e aliás bem fundamentado e coerente. Porque o primeiro apenas falou do passado e debitou nomes de pessoas, por hipótese ligada à inovação em Portugal, como se de amigos do peito se tratassem.
Depois o Eng. Paulo Nordeste, que foi mostrar uma placa que vai revolucionar as comunicações em Portugal e que permite ligar a 100 Mb, 32 pessoas… Bem! Eu não percebi se eram 100Mb por pessoa, ou a dividir pelos 32. Mas se era esta última hipótese, dava cerca de 3Mbs a cada uma... Isso é um bocado "século XX" não? Hello!!! Estamos em 2007! Além disso, claramente a Fátima Campos Ferreira – a apresentadora – não lhe achou muita piada porque ela deu-lhe apenas duas, ou três vezes, a palavra. Uma no início para ele se apresentar, uma a meio para mostrar as placas e no fim para ele se "enterrar". Se a PT Inovação foi eleita a empresa do ano em Portugal (pela revista Exame) imaginem como está a inovação neste país.
Claramente Aveiro não ficou bem na fotografia, ao contrário de Coimbra e Braga. Mesmo a Maia e Lisboa mostraram melhor. Braga mostrou que tem uma dinâmica empresarial na área da inovação bastante boa, sendo mesmo chamada de uma espécie Silicon Valley. Coimbra mostrou que mexe e que cria empresas inovadoras, embora as que lá se fizeram representar fossem de áreas ligadas à biotecnologia e saúde (embora congelar seja uma ciência já conhecida há muitos anos e pouco tem de inovador "congelar as células estaminais presentes no sangue do cordão umbilical de um recém nascido" e um negócio que se aproveita dos medos e da ignorância das pessoas, para além de ser pouco ético, não tem grande futuro).
Eu penso que as oportunidades não se ganham. As oportunidades criam-se. Aproveitam-se ou perdem-se! E Aveiro não anda a aproveitar as oportunidades que lhe dão! Anda a perder... Exemplos de quem soube aproveitar a oportunidade foi a da Universidade de Coimbra, o parque tecnológico BioCant, a MobiComp, a ISA, o Diogo Vasconcelos (o melhor orador, sem dúvida) - em termos próprios e para a Cisco - e o Carlos Zorrinho, para o governo.
Cooperação, Qualificação, Banda Larga (a preço estreito) e Atitude foram as palavras chave que serviram de conclusão ao debate. Em primeiro lugar, aqui, falta mesmo muita atitude (vejo isso todos os dias) e, em segundo, não há ainda muita colaboração (onde estava a Inova Ria?).
Se quiserem podem ver a 1ª Parte, 2ª Parte e a 3ª Parte.
P.S.: Caricata a cena, antes de começar o programa, quando a Fátima Campos Ferreira revia o nome e a presença dos convidados, quando chama pelo Eng. Rui Cordeiro, representante da Critical Software, e alguém responde por ele, dizendo que ele não estaria. Ele realmente não estava naquela mesa, mas estava sentado na mesa ao lado da minha, numa lateral, com medo de falar ou já sabendo que não iria falar (porque ninguém da Critical acabou por falar no programa).
3 comentários:
Uma análise lúcida. Sem querer tomar partidos pós ou anti europeistas, mas pegando nas palavras do Rui, as oportunidades criam-se e aí, na América como em outros países europeus, criam-se empresas; umas vingam, outras não. O que lá contece é que quando se falha incentiva-se o tentar novamente, cá, nem sei mas deve chamar-se paplvo ao audaz.
E porque são lá as coisas diferentes? Porque nesses sítios as pessoas acreditam umas nas outras, dá-se a oportunidade às pessoas mais novas e capazes, resumindo acredita-se...
Cá... já são longas as luas mas podemos continuar a dizer, "Foge cão que te fazem barão"!
Por alguma razão a maioria dos empreendedores apresentados no programa já tinham estudado nos Estados Unidos. Eu estive lá e posso dizer que não é uma sociedade a copiar, mas há boas práticas a adoptar.
O problema é que continuamos a dizer "que somos pequenos" e "estamos no limite da Europa". A arranjar desculpas, porque avançar implica mudar... E a mudança assusta!
Não costumo ver esse programa. É digno de qualquer programa de meio da manhã ou meio da tarde da TVI.
Às vezes têm temas do género "Gostas mais da mãe ou do pai?", mas prometem a pés juntos que vão chegar a uma conclusão. Aliás prometem com qualquer tema, e nunca cumprem. Até porque não querem cumprir.
Depois aquilo é um prós, contras e "moderadora". Ganha sempre a moderadora, porque não deixa falar quem discorda dela. E também gostam mais dos convidados tipo Valentim Loureiro do que convidados que de facto tenham alguma coisa para dizer, e o façam de forma civilizada. E por aí fora...
Indo a este tema em particular, também tenho algumas coisas a dizer em relação à UA. Por muito boa investigação (e às vezes ensino) que lá haja, a instituição está a regredir em muitos aspectos. A começar precisamente pelo ensino. O edifício da Reitoria é um espelho do que se passa. Quem tem responsabilidades está cada vez mais no seu pedestal, longe e indisponível para ver o que se passa cá em baixo. Na redoma tomam decisões desajustadas da realidade, longe das necessidades de quem lá estuda.
E à medida que me afasto gradualmente da UA apercebo-me que aquelas coisas com que nos tentam encher a cabeça por lá, de que estamos na melhor universidade do país e por aí fora, são ideias de quem se vê ao espelho, e não de quem olha para o que se passa à sua volta...
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