terça-feira, dezembro 12, 2006

Zona de Conforto

Este passado fim-de-semana teve início, aqui em Aveiro, o curso de professores de Kundalini Yoga, que eu me encontro a frequentar. Eu não acredito muito em sorte, mas em coincidências e oportunidades. A sorte é uma boa oportunidade criada por uma circunstância ou coincidência, muitas vezes fruto de uma acção nossa, ou de um grupo de acções nosso. O azar será o contrário… Embora, se eu não acredito na sorte, menos acredito no azar.

A verdade é que este curso é fruto de uma série de coincidências que levaram a oportunidades, e com a vontade das diferentes partes envolvidas resultou numa boa oportunidade final. Se não quem se lembraria de juntar 16 alunos espanhóis e 13 alunos portugueses, mais uma professora portuguesa (que vive em Inglaterra há 30 anos), dois ingleses, uma mexicana e um espanhol no mesmo caldeirão, mexer e fazer a poção? Isto em duas cidades, uma em Portugal (Aveiro) e outra em Espanha (Vigo).

É difícil explicar em poucas palavras a emoção que isto me transmite, porque afinal este é o fruto de um trabalho árduo, e por vezes ingrato, de vários anos. É o acreditar de muita gente!

Mas, a semana passada deparei-me com pensamentos do género – “Eu sempre desejei isto. Cheguei a pensar fazê-lo em Inglaterra ou em Madrid. Mas agora vai acontecer aqui e eu estou a organizá-lo. Mas acontece numa altura em que não faço Yoga há 6 meses, onde a minha vontade de o fazer está no mínimo e onde as minhas crenças estão de rastos.” Acho que isto acontece por ser um teste… E durante o fim-de-semana deparei-me com pessoas que se questionavam sobre o mesmo. “O que estou aqui a fazer?” “Quero me ir embora” deve ter passado, e passou, pela cabeça de vários alunos.

Mas na verdade é que mexe com a nossa zona de conforto. É muito mais fácil não querer e ficar em casa a ver televisão ou nem me preocupar com o que como ou faço. Parece aquela frase do J. Rentes de Carvalho, que o Luís pôs como comentário ao meu post sobre as minhas viagens, “A viagem ideal? Atravessar a Índia com um bom livro sem sair da cama.” Pois! Muito sinceramente tenho muita pena do senhor J.R.C., porque sinceramente deve ser uma pessoa muito triste e sozinha. E pouco dada a mudanças! Porque sinceramente não consigo ler um livro sobre S. Tomé que consiga traduzir o que senti lá, posso experimentar de novo as sensações de lá ter estado ao ler o livro, mas ninguém me tira o prazer de ter vivido, cheirado, provado, comido ou privado com o povo, a terra ou os recursos do local. No fundo porque saí da minha zona de conforto e experimentei!

Por acaso, será que o Sr. J.R.C. tem sexo com um livro sem sair da cama? Ou come um bom prato, lendo um livro, sem sair da cama? Ou mesmo… Será que já teve um filho por ler um livro… Sem sair da cama?

É a diferença entre o saber ensinado e o saber experimentado. Um implica algum conforto e pouco tempo, o outro implica algum esforço, mais tempo, mas mais benefícios. Eu prefiro continuar a experimentar e espero um dia atravessar a Índia, com um bom livro… Para escrever as minhas experiências!

1 comentário:

Anónimo disse...

A historia do tal Rentes, que e' um escritor famoso na Holanda, e' a seguinte:

J. Rentes de Carvalho (1930), de ascendência transmontana, nasceu em
Vila Nova de Gaia, tendo vivido aí até 1945. Frequentou no Porto o liceu
Alexandre Herculano, e mais tarde os liceus de Viana do Castelo e Vila
Real. Fez o serviço militar em Lisboa, onde simultaneamente frequentou os
cursos de Românicas e Direito. Obrigado por razões políticas a abandonar
Portugal, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, New York e Paris, tendo
nessas cidades trabalhado para os jornais O Correio Paulistano, O Estado
de São Paulo, O Globo e a revista O Cruzeiro.
Em 1956 passou a viver em Amsterdam, na Holanda, para onde foi como
assessor do adido comercial da embaixada do Brasil. Licenciou-se na
Universidade de Amsterdam com uma tese sobre O povo na obra de Raul Brandão. Nessa univers
dade foi docente de Literatura Portuguesa desde 1964 até 1988. Desde então dedica-se principalm
ente à continuação da sua obra literária.

Nao me parece que o gajo seja dos de ficar em casa! Se queres saber, o gajo nem da grande valor aos livros, mas e'... escritor!
luisboticas