quinta-feira, maio 21, 2009

A minha vida dava um filme do Roberto Benigni

2008, Março

Na altura tinha decidido deixar a empresa onde era sócio e estava activamente à procura de emprego.

Quinta-feira à noite. Cerca das 22:50, toca o telemóvel. Não é nada normal receber chamadas a essa hora (e não era o meu irmão).
- Boa noite! – ouve-se do outro lado – Rui Gonçalves?
- Sim! Boa noite – respondi.
- Daqui fala da empresa Leash, na sequência da sua candidatura à vaga de Versioning Engineer gostaríamos de agendar uma entrevista para a próxima terça-feira pelas 11:30. É possível?
Se havia coisa que eu tinha nessa altura era uma agenda simples e bastante disponibilidade.
- Sim! – respondi de novo.
- Fica então confirmado, terça-feira às 11:30 aqui nos nossos escritórios. – respondeu. Ao que se seguiu uma pequena explicação da localização dos escritórios e como lá chegar.

Quando desliguei o telemóvel fiquei a pensar que tipo de funcionário de uma empresa, como aquela (com algum prestígio), telefona a candidatos de emprego às 22:50 de uma quinta-feira, para marcar uma entrevista para a semana seguinte, para uma terça-feira. Será que não poderia telefonar na sexta-feira ou mesmo na segunda-feira da manhã? – pensei – É um teste! O tipo está a testar a disponibilidade das pessoas… - e fui dormir.

Segunda-feira à noite. Cerca das 21:50, toca o telemóvel. De novo um número desconhecido.
- Boa noite! – ouve-se do outro lado – Rui Gonçalves?
- Sim! Boa noite – respondi.
- Daqui fala da empresa Leash, na sequência da entrevista marcada para amanhã às 11:30 para a vaga de Versioning Engineer. Seria possível anteciparmos a entrevista em meia-hora?
- Sim! – respondi de novo.
- Fica então confirmado, a entrevista para as 11:00, amanhã, aqui nos nossos escritórios. – respondeu.

No dia seguinte lá fui para o Porto, de maneira a estar nos escritórios da empresa antes das 11:00. Cheguei bem cedo, estacionei, revi umas coisas sobre versionamento e aplicações de controlo de versões de software.
Às 10:50 estava a falar com a recepcionista, que me pediu para aguardar.
A empresa tinha mudado de instalações há muito pouco tempo e ainda se notava que as pessoas não estavam ambientadas ao seu novo local de trabalho. Havia algum reboliço nos corredores, pessoas sempre a entrar e sair, técnicos a instalar cabos e a fazerem furos.
A dada altura um jovem entrou e perguntou, a recepcionista, se podia entregar o seu currículo. E ela ficou com ele. A tipa era eficiente, mas muito bruta. Esteve um bocado a falar com a responsável da empresa de limpeza, a chamar a atenção para a conduta de uma sua funcionária.
E assim fui passando o tempo. Observando o normal funcionamento da empresa Leash, que me ia entrevistar e que poderia até ser o meu próximo local de trabalho.

Aguardei 45 minutos até que apareceu o entrevistador, já passavam 5 minutos da hora agendada (11:30) até à noite anterior. Às 11:45 estávamos prontos para a entrevista, eu, o tipo dos Recursos Humanos que me telefonou e dois engenheiros da empresa.
A sala era pequena, e foi preciso ir buscar mais umas cadeiras para nos podermos sentar todos. Penso que era o gabinete do tipo dos Recursos Humanos.
A entrevista seguiu os trâmites normais. Com a apresentação das pessoas e seguiu-se uma resenha da minha vida profissional e…. A dada altura abre-se a porta por detrás de mim (os outros três estavam de frente para mim e para a porta) e oiço uma voz feminina, algo exaltada e quase aos gritos:
- Oube lá! Roubaste-me a cadeira!

Não me lembro de muito mais da entrevista. Mas lembro-me de pensar "Como é que esta empresa tem o prestígio que tem e consegue ter os clientes que tem?" e ainda pensei pior quando me disseram que não faziam controlo de versões de software, num projecto com quase 100 colaboradores e que mexe com protecção dos dados pessoais. "Que desorganização..."

A partir desse momento devo ter enterrado a entrevista, porque nunca mais me disseram nada.

1 comentário:

carlos disse...

eu tambem nao gostaria de trabalhar nessa impresa!