quarta-feira, maio 24, 2006

Planear?

Durante a minha vida profissional trabalhei por diversas vezes fora do país. No meu currículo saliento os períodos em que vivi, ou estive destacado em trabalho, em três países do G8 (Estados Unidos da América, Japão e Inglaterra). Porém, já trabalhei por menor períodos em mais dois países desse grupo (França e Alemanha). E, já visitei a Finlândia (onde estive quase a estagiar no final da minha licenciatura) e a Irlanda, os tão aclamados exemplos europeus de países pequenos e periféricos com economias competitivas e de sucesso. Durante todas estas experiências de trabalho, fi-lo em contacto directo com europeus, americanos, asiáticos e africanos.

De todas estas experiências, mais ou menos longas, ou mais ou menos importantes, o que retiro é que nós, portugueses, somos bons profissionais. Não somos menos produtivos que os indivíduos de outras origens. É tudo uma questão de organização, gestão, formação e liderança.

E, nesse sentido saliento a organização inglesa. Os ingleses são conhecidos pela pontualidade, são muito metódicos e fazem uma análise muito cuidada dos "imprevistos" que podem ocorrer durante um projecto. Fazem planos! E estudam os projectos antes de os porém em prática. Eu acredito que os descobrimentos não teriam acontecido se o Infante D. Henrique não fosse fruto da capacidade empreendedora e de improviso dos portugueses aliada a uma educação inglesa originária da sua mãe Filipa de Lencastre (Lancaster).

Há dias um jovem empresário português exaltava a nossa capacidade de improviso, o vulgar "desenrascanço", e salientava o facto de os marinheiros portugueses, em tempos idos, serem contratados, por outras nações de exploradores, para fazerem parte das suas tripulações e cuja função era a do controlo do navio em caso de emergência. Mas esse mito conta também que a esses marinheiros não era permitido fazer mais nada para além disso no navio, porque a sua capacidade de improviso, sem controlo, podia pôr em causa a segurança de um navio organizado.

O mesmo empresário, na mesma conversa, disse-me que não planeava porque "perdia" quase tanto tempo a fazer o plano que a executar o projecto. Pois, na verdade quase todos os standards de gestão de projectos dizem que o planeamento é cerca de 40% do projecto, ou seja, se a execução será 50% a verdade é que planear demora quase tanto tempo como executar o projecto. A diferença é que em Portugal sem planeamento atingem-se os níveis de estabilidade ao mesmo tempo que o projecto demora a produzir um produto fiável "lá fora". E com planeamento se o produto precisar de ser melhorado sê-lo-á facilmente, colocando-se um produto novo no mercado em muito pouco tempo. Além de que quem planeia aprende a projectar produtos e sem planeamento vão se fazendo projectos.

Um amigo meu a estagiar na Irlanda, na HP, dizia-me há dias que por vezes se sentia deslocado, porque com a sua rotina diária de trabalho não tinha noção que estava na "grande HP". Ele, como a maioria de nós, imaginara que uma empresa de renome internacional e com uma dimensão planetária funcionaria de uma maneira completamente diferente daquilo que estamos habituados. Pois, na verdade, ele estava a ter a melhor das experiências que um estagiário português no estrangeiro pode trazer para "cá", a de que somos capazes de produzir e de competir "lá fora" com empresas como a "grande HP". Se quisermos!

Outro empresário, da mesma área, dizia-me que não se sente com capacidades técnicas para competir "lá fora". Porque "lá fora", "eles" estão mais preparados tecnicamente que "nós". Hoje em dia já não existe o "lá fora", porque as fronteiras deixaram de existir (ainda mais na área das TIs onde ele tem o seu negócio) e "eles" somos "nós". Eu lembra-me quando era miúdo que se dizia que ao atravessar a fronteira as estradas eram melhores, o sol era mais forte e as vacas davam mais leite. Na verdade, já não é tanto assim (embora a gasolina "lá" seja muito mais barata) e a vaca da vizinha não dá mais leite que a minha.

Vão lá e mujam-na e verão que o leite da vaca é branco e a quantidade e qualidade do que ela produz é tanta coma as das nossas vacas! Mas primeiro organizem-se e planeiem, porque "quem vai para o mar avia-se em terra"!

Sem comentários: